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    Partido Socialista de Hollande se vê diante de derrota esmagadora

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A PARIS

    23/04/2017 02h00

    Sebastien Bozon - 20.jan.2017/AFP
    French President Francois Hollande delivers a speech during a visit to Garnier-Thiebaut, manufacturer and distributor of textil, in Gerardmer, eastern France, on January 20, 2017. / AFP PHOTO / POOL / SEBASTIEN BOZON ORG XMIT: 903
    O presidente da França, François Hollande, que desistiu de tentar reeleição

    A incerteza em torno desta eleição presidencial na França é inédita. Um fato parece, no entanto, incontestável: o Partido Socialista, hoje no governo, acordará nesta segunda-feira (24) com um gosto azedo na boca.

    Seu candidato, Benoît Hamon, deve chegar em quinto lugar, com apenas 7,5% dos votos, segundo pesquisa Ipsos publicada na sexta (21).

    A impopularidade do partido é tamanha que o presidente François Hollande decidiu nem concorrer à reeleição –ele tem a pior aprovação no cargo desde a Segunda Guerra (1939-1945). Essa é a primeira desistência a uma reeleição desde 1958.

    "É o fim de uma era", afirma à Folha o cientista político Jean-Yves Camus. "O Partido Socialista terá que começar uma nova etapa e se reconstruir de baixo para cima. Vão começar do zero."

    Já há manobras na sigla, segundo o jornal "Le Monde", para redefinir seus rumos após esta derrota. Hamon foi prejudicado, em comparação aos outros dez candidatos, porque precisou justificar em sua campanha as ações do impopular governo, que ele representa no palanque.

    "É uma tarefa difícil quando ele fala com a classe trabalhadora, que ressente quase tudo o que Hollande disse que ia fazer e não fez", diz.

    Uma das principais decepções do eleitorado socialista foi a promessa, não cumprida, de acabar com o desemprego até o fim do mandato –a taxa está em 10% hoje. "Quem não tem emprego está enraivecido", diz Camus.

    Eleitores migraram ao centrista Emmanuel Macron, atraídos pela promessa de liberalismo econômico, e ao extremista de esquerda Jean-Luc Mélenchon, convencidos por suas propostas, como uma redução da jornada de trabalho.

    Mesmo líderes socialistas abandonaram o partido. Manuel Valls, que foi primeiro-ministro do governo Hollande, anunciou apoio a Macron, enfurecendo a sigla e agravando divisões internas. Valls foi derrotado por Hamon nas primárias socialistas.

    Jean-Paul Pelissier - 15.abr.2017/Reuters
    A man walks past campaign posters of the 11 candidates who run in the 2017 French presidential election in Le Soler, near Perpignan, France April 15, 2017. (L-R) Debout La France group candidate Nicolas Dupont-Aignan, French National Front (FN) political party leader Marine Le Pen, head of the political movement En Marche! (Onwards!) Emmanuel Macron, French Socialist party candidate Benoit Hamon, France's extreme-left Lutte Ouvriere political party (LO) leader Nathalie Arthaud, Anti-Capitalist Party (NPA) presidential candidate Philippe Poutou, "Solidarite et Progres" (Solidarity and Progress) party candidate Jacques Cheminade, lawmaker and independent candidate Jean Lassalle, candidate of the French far-left Parti de Gauche Jean-Luc Melenchon, UPR candidate Francois Asselineau and the Republicans political party candidate Francois Fillon. REUTERS/Jean-Paul Pelissier ORG XMIT: JPP02
    Homem caminha ao lado de cartazes de campanha dos candidatos à Presidência da França

    A própria candidatura de Macron foi lançada com o apoio do prefeito socialista de Lyon, Gérard Collomb. "Ele estava muito desapontado com o governo de Hollande e entendeu que Macron poderia ser presidente", diz Arthur Empeureur, 26, assessor político de Collomb.

    Hamon é desfavorecido também por uma tendência regional. Os partidos de centro-esquerda estão sendo punidos nas urnas em toda a Europa. Na Espanha, o tradicional PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) amargou seu pior resultado em 2016.

    "Há algo de errado com a social-democracia", diz Camus. "Seus candidatos não conseguem mais falar com a classe trabalhadora, porque ela já não existe como tal. Não há mais sentimento de classe. A centro-esquerda parece falar apenas com os vencedores da globalização."

    Eleitores tampouco estão satisfeitos com o desempenho dos Republicanos, de centro-direita, e a desconfiança em relação aos partidos tradicionais é atestada pela força de candidatos vindos dos extremos políticos.

    Marine Le Pen, de extrema direita, e Jean-Luc Mélenchon, de extrema esquerda, disputam neste domingo a concorrida vaga ao segundo turno das eleições –à qual Hamon já não é mais cotado.

    Ele também carece, segundo cientistas políticos, de liderança. O ex-ministro da Educação não tem, afirma Bruno Cautrès, do Sciences Po, o "perfil de um grande chefe para o Executivo".

    Ele representa um Partido Socialista que teria guinado demasiado à direita, já que Hollande não é mais visto como um presidente de esquerda "com sua proposta de retirar a dupla nacionalidade de suspeitos de terrorismo e seu apoio à reforma trabalhista", diz Cautrès.

    *

    COMO FUNCIONA
    A eleição na França

    Voto direto
    O presidente francês é eleito por sufrágio universal direto, em votação majoritária em dois turnos, para um mandato de cinco anos (renovável uma vez). O voto não é obrigatório

    Primeiro turno
    23 de abril

    Segundo turno
    7 de maio

    Posse
    Até uma semana depois do segundo turno, caso ele aconteça

    Resultados
    Pesquisas boca de urna serão divulgadas somente a partir das 20h (15h de Brasília) deste domingo, após o fechamento das urnas

    NÚMEROS

    47 milhões
    de eleitores estão inscritos para votar (mais de dois terços dos 66,8 milhões de franceses)

    1,3 milhão
    dos inscritos moram no exterior (14 mil no Brasil); eles votam no sábado devido ao fuso horário

    66.546
    locais de votação na França

    8h
    (3h de Brasília) é o horário de abertura das urnas

    20h
    (15h de Brasília) é o horário de fechamento

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