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Saturday, 04-May-2024 04:25:15 -03ANÁLISE
Voto na França pode dar fim a ciclo social-democrata europeu
MATHIAS DE ALENCASTRO
ESPECIAL PARA A FOLHA23/04/2017 20h18
O primeiro turno das eleições ficará na história como o atestado de óbito do Partido Socialista francês. A porcentagem de 6% de votos de seu candidato, Benoît Hamon, tem como efeito imediato uma implosão da social-democracia francesa.
O grupo se reorganizará em torno da extrema esquerda de Jean-Luc Mélenchon e do centrista Emmanuel Macron. Se o colapso do Partido Trabalhista britânico se confirmar nas eleições de junho, os próximos meses poderão encerrar o ciclo das sociais-democracias europeias iniciado na Segunda Guerra Mundial.
A vitória de Macron é resultado da sua ousadia em armar uma candidatura sem partido, mas também de um conjunto de circunstâncias totalmente imprevisível.
Primeiro o abandono de François Hollande, primeiro presidente a não tentar se reeleger. Depois o descalabro de François Fillon, candidato do Republicanos (centro-direita), atingido por escândalos.
Macron chegou ao segundo turno porque os outros fracassaram e agora tem pela frente a missão de salvar a República Francesa, o euro e a União Europeia de Le Pen.
Uma missão longe de ser impossível. Afinal, Le Pen teve um desempenho abaixo das expectativas e a sua reserva de votos para o segundo turno é bastante limitada.
Existe o risco de que parte do eleitorado de Fillon se disponha a votar nela. A declaração de apoio do conservador a Macron deve ajudar a atenuar a migração do seu eleitores para a candidata.
A principal ameaça à vitória de Macron é a abstenção. A exclusão dos dois principais partidos do segundo turno obrigará a classe política a se digladiar por um lugar ao lado do futuro presidente.
O espetáculo desmoralizante das divisões do Partido Socialista e da disputa interna do Republicanos agudizará o desgosto dos franceses pelos políticos e provocará, de quebra, o aumento da rejeição e do voto em Le Pen.
Nesse contexto, o principal desafio de Emmanuel Macron será mostrar aos seus eleitores que, depois de eleito, ele não verá seu governo ser canibalizado pelos que o atacaram até hoje.
MATHIAS DE ALENCASTRO é doutor em ciência política na Universidade Oxford
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