• Mundo

    Tuesday, 07-May-2024 00:07:49 -03

    Análise

    Vitória de Macron tem lado bom e ruim para Londres no 'brexit'

    DO "FINANCIAL TIMES"

    25/04/2017 17h15

    A emergência de Emmanuel Macron como candidato favorito à Presidência da França foi saudada por membros de todos os partidos no Reino Unido, mas políticos britânicos reconhecem que ele não será um interlocutor fácil de se persuadir com relação ao "brexit".

    Theresa May se reuniu com Macron em Londres em fevereiro, em um sinal de sua aprovação ao ex-executivo do banco Rothschild, que fala inglês, defende o livre comércio e é também uma espécie de arauto das ideias das classes liberais e pró-europeias britânicas.

    Eric Fefeberg - 23.abr.2017/AFP
    French presidential election candidate for the En Marche! movement Emmanuel Macron gestures at the audience during a meeting at the Parc des Expositions in Paris, on April 23, 2017, after the first round of the Presidential election. / AFP PHOTO / Eric FEFERBERG
    O candidato centrista à Presidência francesa, Emmanuel Macron, acena para apoiadores no domingo

    Mas, em um indicativo de que pode ser um negociador mais intransigente em relação ao "brexit" do que seriam políticos franceses não tão pró-europeus quanto ele, Macron declarou neste ano que não pode haver nenhum abrandamento da posição "inquebrantável" da União Europeia de defender seus próprios interesses em primeiro lugar nas negociações do divórcio com o Reino Unido.

    Depois da vitória de Macron no primeiro turno da eleição presidencial francesa, no domingo (23), o ex-ministro das Finanças britânico George Osborne, que defende o "soft brexit" (a saída negociada da UE, com a manutenção do acesso privilegiado do Reino Unido ao mercado comum europeu), escreveu em uma rede social: "Parabéns a meu amigo @EmmanuelMacron. A prova de que é possível vencer vindo do centro. Finalmente a chance da liderança que a França necessita".

    Enquanto isso, o ex-vice-primeiro-ministro Nick Clegg, do Partido Democrata Liberal, disse que Macron pode ajudar a UE a recuperar sua autoconfiança e que isso será uma coisa positiva nas negociações do "brexit" que estão por vir.

    Embora Macron possa gostar do Reino Unido e entendê-lo, ele já descreveu o "brexit" como "um crime". Em seu manifesto eleitoral, disse que a saída britânica deixará Londres enfrentando a "servidão".

    Charles Grant, diretor do think tank Centre for European Reform, prevê que Macron leve adiante a abordagem intransigente em relação ao "brexit" seguida pelo presidente François Hollande.

    "Ele não quer que os nacionalistas possam argumentar que sair da UE traz vantagens; por isso é preciso que o Reino Unido seja visto sofrendo um pouco", disse Grant. "E Macron acredita verdadeiramente na Europa, no sentido federalista."

    Na visita que fez a Londres em fevereiro, Macron disse que depois do "brexit" tentará atrair profissionais do Reino Unido para a França. "Quero bancos, talentos, pesquisadores, acadêmicos etc.", disse.

    Grant notou que Jean Pisani-Ferry, o assessor-chefe de Macron para políticas públicas, coescreveu um artigo no ano passado propondo uma abordagem "soft" ao "brexit". Porém, ressalvou, "é pouco provável que Macron adote essa abordagem, que o colocaria em conflito com a Alemanha e a as instituições de Bruxelas".

    Membros do governo britânico compartilham a visão de Nick Clegg de que, se uma parceria franco-alemã renovada levará Paris e Berlim a encararem o Reino Unido sem sentimentalismos, uma vitória de Macron aliviará o receio de um grande enfraquecimento da UE pelas mãos de Marine Le Pen e da Frente Nacional.

    O governo britânico segue a política de não se engajar com o partido de extrema direita.

    Os aliados de May dizem que ela pode ter que mudar essa política se Marine Le Pen chegar à Presidência —não há nenhuma chance de um encontro com Le Pen antes do segundo turno da eleição presidencial. Por enquanto, porém, a vitória de Macron é vista como mais provável.

    A equipe da primeira-ministra britânica diz que o vencedor da eleição francesa, seja quem for, terá um novo mandato para negociar o "brexit", fato que reforça a necessidade de May de obter seu próprio mandato pessoal do eleitorado britânico na eleição geral que ela convocou para junho.

    "Isso vem apenas destacar a importância da eleição em 8 de junho", disse um assessor da primeira-ministra. "Cada voto é uma chance de fortalecer a posição da primeira-ministra nas negociações, para que possamos conseguir as melhores condições possíveis para o Reino Unido."

    Tradução de CLARA ALLAIN

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024