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    Odebrecht financiou campanha de Macri na Argentina, diz jornal

    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    01/05/2017 02h38

    Eitan Abramovich - 6.abr.2017/AFP
    O presidente da Argentina, Mauricio Macri, fala durante o Fórum Econômico da América Latina
    O presidente da Argentina, Mauricio Macri, fala durante o Fórum Econômico da América Latina

    A empreiteira brasileira Odebrecht contribuiu com 500 mil pesos (cerca de R$ 100 mil) para a campanha presidencial de Mauricio Macri, em 2015, além de ter realizado pagamentos também a outros três candidatos (Daniel Scioli, Sergio Massa e Margarita Stolbizer), segundo reportagem publicada pelo jornal argentino "La Nación" neste domingo (30).

    O texto, resultado de apuração de uma equipe liderada por Hugo Alconada Mon, o mais respeitado jornalista investigativo do país, relata que o repasse foi declarado pelo PRO, partido do presidente. Mas acrescenta que, a partir de declarações de executivos e operadores da Odebrecht ao diário argentino, teria havido também contribuições via "caixa dois" à campanha do atual presidente.

    Um porta-voz do PRO, José Torello, declarou que "a doação foi totalmente legal", e que a Odebrecht, por meio da Braskem, teria participado de um jantar com mais de 2.000 empresários destinado a recolher fundos para a campanha. Torello negou que tenha havido pagamentos não declarados.

    Uma das fontes da reportagem teria dito: "Colocamos dinheiro na campanha de todos. Viemos a Buenos Aires como Papai Noel".

    Os outros candidatos negaram ao jornal ter recebido dinheiro da empreiteira brasileira, tanto legalmente como via "caixa dois".

    Procurado pela Folha, o escritório da Odebrecht na Argentina respondeu: "A construtora Norberto Odebrecht nega ter financiado campanhas nas ultimas eleições argentinas, seja de forma oficial ou não oficial". O governo argentino não se manifestou.

    A reportagem do "La Nación" se soma a uma série de informações sobre caixa 2 em países da América Latina divulgadas na esteira da operação Lava Jato. Doações não declaradas de empreiteiras brasileiras são investigadas, por exemplo, no Chile.

    PROPINA

    Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, a Odebrecht teria pago propinas na Argentina num total de US$ 35 milhões, em troca de contratos de construções e de obras de infraestrutura.

    O principal investimento da empreiteira no país é o soterramento da linha trem Sarmiento, cujo custo total é de US$ 3 bilhões.

    A Odebrecht, associada à Iecsa, empresa que pertencia a um primo de Macri, Ángelo Calcaterra, venceu a licitação para realizar a obra em 2006 –ainda durante a gestão de Néstor Kirchner.

    No começo do ano, o próprio "La Nación" denunciou que a Odebrecht teria feito pagamentos de US$ 594.518 ao hoje chefe da agência de inteligência do governo, Gustavo Arribas, amigo pessoal de Mauricio Macri.

    O dinheiro teria sido transferido por meio de uma empresa de fachada em cinco etapas, tendo começado um dia depois de o contrato pela obra ser reativado, em 2013.

    À Justiça, Arribas admitiu ter recebido parte desse dinheiro, mas afirmou que não havia relação com a Odebrecht. Num primeiro momento, disse que se referia à venda de um imóvel em São Paulo, onde vivia e, depois, que se tratava da venda de objetos que estavam no imóvel. O juiz federal Rodolfo Canicoba Corral absolveu Arribas, mas o procurador Federico Delgado apelou da decisão.

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