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    Sindicatos protestam na França, mas pedem voto em Macron contra Le Pen

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A PARIS

    02/05/2017 02h00

    Movimentos sindicais torcem, a contragosto, pela vitória de Emmanuel Macron nas eleições presidenciais francesas de domingo (7).

    O centrista Macron defende reformas na legislação trabalhista, no que os seus opositores dizem reduzir parte de seus direitos. Mas ele não é Marine Le Pen, a candidata da direita ultranacionalista.

    Avessos à plataforma dela, sindicatos convocaram protestos em todo o país no 1º de Maio para tentar impedir sua eleição —pesquisas de intenção de voto a mostram com desvantagem de cerca de 20 pontos para o centrista.

    Zakaria Abdelkafi/AFP
    Policiais são alvo de coquetéis-molotov em protesto de sindicalistas em Paris nesta segunda-feira (1º)
    Policiais são alvo de coquetéis-molotov em protesto de sindicalistas em Paris nesta segunda-feira (1º)

    Um gesto semelhante foi feito em 2002 quando Jean-Marie Le Pen, pai de Marine e fundador da Frente Nacional, concorreu contra Jacques Chirac. Sindicatos se uniram —mais coesos do que neste ano— contra a candidatura do radical, que foi derrotado.

    "Será difícil colocar o nome de Macron na urna, mas nós temos lutado contra Le Pen há muito tempo", diz à Folha Pascal Debay, dirigente nacional da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), que organizou a passeata mais importante de Paris, na praça da República.

    As manifestações, convocadas por diversas entidades, reuniram 142 mil pessoas, 30 mil delas em Paris.

    Um grupo de dezenas de manifestantes com pedras e coquetéis Molotov entrou em confronto com as forças de segurança na capital. Um policial sofreu queimaduras graves nas mãos e no rosto.

    Parte dos sindicatos defendia o voto em branco como alternativa a Le Pen, mas eleitores ouvidos pela reportagem preferiam Macron como uma opção pragmática.

    A articulação dos sindicatos esbarra, no entanto, no apoio que Le Pen tem entre certas porções dos trabalhadores, que votaram nela no primeiro turno, no dia 23.

    Le Pen convence operários no norte e no leste, onde o fechamento de fábricas contribuiu para a alta do desemprego, que está hoje em 10%. A candidata prometeu, por exemplo, tentar impedir a transferência dos empregos para outros países europeus.

    "Ela defende ideias que parecem próximas dos sindicatos", diz Debay. "Mas é uma manipulação. Ela usa as nossas reivindicações."

    Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (1º) sugere que Macron vencerá a eleição deste domingo com 61% dos votos contra 39% de Le Pen. A sondagem, do instituto OpinionWay, foi feita de 28 a 30 de abril com 1.488 pessoas. A margem de erro é de até 2,5 pontos percentuais.

    ELITE

    Macron, que foi ministro da Economia do governo atual, propõe uma série de transformações nas leis trabalhistas. Ele quer repensar o limite de 35 horas semanais e facilitar demissões.

    Suas relações com a classe trabalhadora foram prejudicadas por atritos em sua campanha. Ele foi vaiado na semana passada ao visitar uma fábrica em Amiens, no norte. Le Pen fora recebida com abraços mais cedo.

    No ano passado, um jovem o abordou e disse não ter dinheiro para comprar um terno como o seu. Macron afirmou então: "A melhor maneira de pagar por um terno é trabalhar". Ouviu: "Trabalho desde os 16 anos".

    Os sindicatos, como a CGT, dizem estar prontos para protestar contra as reformas no dia seguinte às eleições, caso Macron vença.

    "Quero que ele ganhe, mas ele precisa nos ouvir", afirma José Ortiz, 24, em uma manifestação. "As propostas são muito rígidas. Tem que haver concessões."

    As reformas, afirma Bérengère Potier, 35, enfraquecem os trabalhadores. "São para os mais ricos", diz. "Mas queremos que as pessoas votem nele, mesmo que suas políticas econômicas sejam ruins. É melhor do que Le Pen, que é contra todos menos os 'franceses puros'."

    O partido de Le Pen, a Frente Nacional, é criticado por seu histórico de antissemitismo e pela aversão aos migrantes. O fundador, pai da candidata, disse que o Holocausto era um "detalhe".

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