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    Último comício de Marine Le Pen ganha reforço de eleitores jovens

    RODRIGO VIZEU
    ENVIADO ESPECIAL A ENNEMAIN (FRANÇA)

    05/05/2017 02h28

    Hoje com 23 anos, o jovem desempregado Brian Lemaire tinha 8 quando as notas de euro entraram em circulação na França. Ainda assim, ele diz sentir falta do franco, a moeda francesa anterior.

    "Era muito melhor para as pessoas", explica ele enquanto espera Marine Le Pen chegar para o último comício de sua campanha à presidência da França, nesta quinta (4).

    Rodrigo Vizeu/Folhapress
    Jovens franceses participam de comício da candidata Marine Le Pen nesta quinta-feira (4), em Ennemain
    Jovens franceses participam de comício de Marine Le Pen nesta quinta-feira (4), em Ennemain

    O local escolhido, Ennemain, é um diminuto vilarejo rural de 230 habitantes, boa parte deles idosos, no norte da França. A paisagem foi renovada pelo afluxo de eleitores jovens da região interessados em ouvir Le Pen.

    Enquanto outros fenômenos nacionalistas e populistas mundiais, como Donald Trump nos EUA e o "brexit" no Reino Unido, mostraram mais força entre os mais velhos, Le Pen é sucesso entre os jovens franceses.

    No primeiro turno, a ultradireitista liderou entre a faixa etária de até 34 anos, com 25,7%, segundo pesquisa Opinionway. Em seguida ficou o ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon, com 24,6%, e só então o centrista Emmanuel Macron, com 21,6%.

    Resultado diferente do resultado global, com Macron (24%) em primeiro, seguido por Le Pen (21,3%).

    Boa parte da explicação está na falta de empregos. Enquanto a taxa de desemprego da população geral francesa é de 10%, ela supera 24% entre jovens de até 24 anos.

    Lotérico em uma cidade a 15 km de Ennemain, Emerik Armand, 21, diz ter vários amigos sem emprego.

    Ele apoia a proposta de Marine Le Pen de decretar uma moratória na entrada de imigrantes legais no país, o que tem exasperado especialistas em direito. "É só por um tempo, até que todos os franceses tenham tempo de arranjar trabalho."

    Para ele, que é filiado à Frente Nacional, partido da candidata, a imigração só funcionava quando havia pleno emprego no país.

    DIVISÕES DE BASE

    De olho em seu futuro, a FN tem investido nos jovens, inclusive em sua cúpula.

    O diretor da campanha dela, David Rachline, tem 29 anos. O vice-presidente da FN, Florian Philippot, tem 35. Deputada na Assembleia Nacional francesa, Marion Maréchal Le Pen, sobrinha de Marine, tem 27.

    O partido também investe em seu grupo jovem, a Frente Nacional da Juventude.

    David Berton, 25, foi formado politicamente pelo movimento. Atraído pelas ideias da FN aos 16, filiou-se em 2010 e em 2012 já tinha um cargo na campanha presidencial de Le Pen daquele ano. Diz ter se interessado por política por meio do estudo de história e literatura no ensino médio.

    "Eu considero a língua francesa é uma das mais belas do mundo, ela tem um virtuosismo intelectual. Sou muito ligado à nossa civilização e à defesa dela. Na paisagem política atual, o único movimento que parece compartilhar disso é a Frente Nacional", afirma.

    Berton chama atenção para outro fator que atrai os jovens para a sigla, além do desemprego: o medo de decair de classe social (déclassement, em francês), que aflige particularmente a juventude.

    "De geração em geração víamos um aumento do nível de vida da população, o pai sabia que o filho iria viver melhor, era uma lógica econômica. A minha geração vai ser a que vai viver pior. O déclassement é uma violência social", lamenta Berton.

    A mesma expressão usou Marine Le Pen em seu discurso, no qual atacou Macron, a elite, a imprensa, os imigrantes e os muçulmanos. Disse dar "eco à violência social que vai explodir no país".

    Jovens, adultos e idosos aplaudiram, gritaram que a amavam e, ao fim, cantaram a Marselhesa.

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