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    Mostramos que política pode ser bonita, diz assessor de Macron

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A BORDEAUX

    07/05/2017 02h00

    Divulgação
    O pesquisador frances Tanguy Bernard, ligado a campanha de Emmanuel Macron Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O pesquisador francês Tanguy Bernard, ligado à campanha de Emmanuel Macron

    É um pouco como a pintura do belga René Magritte ilustrando um cachimbo e o texto: "Ceci n'est pas une pipe". "Isto não é um cachimbo." Tanguy Bernard, 39, não é um político. É professor de economia e trabalhou na Etiópia estudando a fome.

    Mas Tanguy Bernard é um político. É um dos responsáveis pela campanha do centrista Emmanuel Macron, que concorre neste domingo (7) à Presidência da França.

    Bernard coordenou um time de 6.200 ativistas no oeste do país. Seus esforços são exemplares da estratégia de corpo a corpo que revolucionou a política francesa. Essa pode ser a primeira vez em que um candidato sem a estrutura de um partido tradicional vence as eleições.

    Ele é também um exemplo de como as legiões de franceses desacostumados à política decidiram se movimentar pela candidatura de Macron. Eles formavam quase 80% da equipe de Bernard.

    "A maior parte de nós nunca tinha se envolvido com a política, mas conseguimos mobilizar o cérebro das pessoas", diz à Folha. "Agora temos que garantir que isso vai continuar, que elas vão permanecer engajadas."

    É uma missão que, Bernard já descobriu, não termina no domingo da eleição.

    O professor vai continuar na política para ajudar Macron a vencer o desafio em que o americano Occupy Wall Street e o espanhol Podemos falharam: transformar um movimento de cidadãos em um partido político eficaz.

    "Vamos precisar fazer essa estruturação de maneira com que preservemos as nossas características", ele afirma.

    *

    Folha - Qual é sua relação com a política?

    Tanguy Bernard - Sempre me interessei pela política, apesar de pertencer a uma geração em que meus amigos diziam que o relevante era a economia. Não é o caso, se você olha para o quão devastadora foi a política externa de George W. Bush e o quão construtiva foi a integração na UE.

    Já havia militado antes?

    Quando morava nos EUA, estudando para meu doutorado, fui voluntário na campanha de John Kerry contra Bush em 2004. Morava em Reno, Nevada, e pensei: "Esse cara está afetando a minha vida e não posso votar aqui". Então aderi ao porta a porta.

    Quando o sr. se interessou pela campanha de Macron?

    Comecei a me interessar por ele nas discussões sobre a Lei Macron, proposta quando ele era ministro da Economia. Ele promoveu pequenas mudanças para destravar algumas das regulações na economia.

    Por que Macron teve votação tão boa no oeste da França?

    É uma região tradicionalmente de eleitores moderados, de centro-direita e de centro-esquerda. Alain Juppé, que concorreu às primárias dos Republicanos, é hoje o prefeito de Bordeaux.

    É um território fértil para as nossas ideias, então colocamos pessoas nas ruas para ouvir dos eleitores que assuntos interessavam a eles.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O senhor se refere à "Grande Marcha", a pesquisa in loco feita antes de Macron lançar a candidatura?

    Sim. Baseados nesse diagnóstico, criamos grupos temáticos –por exemplo, educação e saúde– e enviamos as nossas ideias ao comitê central. Muitas das propostas emblemáticas do programa de Macron vieram daqui, como dividir ao meio as salas de aula em bairros desfavorecidos.

    O que acontece nesta segunda (8), quando acabar a campanha presidencial? O senhor volta à vida acadêmica?

    Não sou candidato a nada, nem tenho agenda política. Mas o que criamos é muito importante. Reconectamos as pessoas à política. Mostramos que ela não precisa ser uma disputa de poder. Que pode ser uma coisa bonita.

    Eu adoraria retomar a minha vida e não ter dois empregos, mas tenho uma responsabilidade para que esse movimento seja sustentável. Vou continuar por alguns meses como coordenador regional até que esteja estabilizado.

    Como?

    Precisamos honrar o que criamos e cumprir com as expectativas. A maior parte de nós nunca tinha se envolvido com a política, mas conseguimos mobilizar o cérebro das pessoas. Agora temos que garantir que isso vai continuar, que elas vão seguir engajadas na política. Construímos um movimento que depois de um ano tem 260 mil membros.

    Quais serão os desafios na hora de estruturar o Em Frente!?

    Depois das eleições legislativas de junho vamos precisar fazer essa estruturação de maneira com que preservemos nossas características. Nós somos hoje como uma rede de contatos e precisamos nos organizar mantendo o debate e a abertura a novas pessoas. Os outros partidos não são assim.

    Qual é o risco?

    A maneira mais fácil seria nos moldarmos como os outros partidos. Mas nós morreríamos no dia seguinte.

    Qual é a sua estratégia para as eleições legislativas de junho?

    Nos comprometemos a renovar a política. Os eleitores estão cansados ede votar nos mesmos rostos de sempre. Vamos mudar metade deles e manter a outra metade.

    Dos nossos candidatos no departamento de Gironde, por exemplo, alguns virão da sociedade civil e outros serão prefeitos locais. Já selecionamos ótimos candidatos.

    O que acontece se vocês não conseguirem assentos suficientes nas eleições?

    Não acho que isso vá acontecer. Agora temos a experiência da mobilização.

    Mas, mesmo sem a maioria, seríamos fortes. Diversos membros do Partido Socialista e dos Republicanos, de centro-direita, acreditam nas nossas reformas e só não se uniram ao movimento devido às barreiras partidárias.

    Não preocupa que, ao chegar ao poder, Macron decepcione seus eleitores?

    A desilusão em relação à política vem do fato de que os políticos têm muito poder, tanto no governo quanto na oposição. A luta partidária bloqueou a política.

    Estamos construindo um projeto com potencial enorme de mudança. Pode, sim, haver crises econômicas e ataques terroristas, mas ainda assim podemos chegar a um consenso sobre nosso projeto.

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