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    Jovem, Macron personifica o sistema que deseja mudar

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO A PARIS

    07/05/2017 00h00 - Atualizado às 23h04

    Eric Fefeberg - 23.abr.2017/AFP
    French presidential election candidate for the En Marche! movement Emmanuel Macron gestures at the audience during a meeting at the Parc des Expositions in Paris, on April 23, 2017, after the first round of the Presidential election. / AFP PHOTO / Eric FEFERBERG
    Emmanuel Macron, favorito na eleição da França

    "Ele parece um pouco estranho", disse certa feita Michel Houellebecq sobre o candidato centrista Emmanuel Macron, favorito às eleições francesas deste domingo (7).

    O autor de "Submissão" confessava sua fascinação por um personagem que, nunca antes eleito a um cargo público, pode ser o próximo presidente da França.

    Macron é uma das figuras mais mutantes –outro termo usado por Houellebecq– que surgiram na política francesa recente, personificando ao mesmo tempo o sistema e o desejo de mudá-lo. Essa é uma das contradições que fortalecem sua candidatura.

    Ele foi ministro da Economia do governo socialista de François Hollande, que deixou em 2016 para lançar seu movimento. A plataforma, Em Frente!, agregou eleitores desgostosos com a política.

    O centrista convence, em especial, com sua visão de uma França cada vez mais integrada à União Europeia, razão pela qual recebeu o apoio de gigantes como a chanceler alemã, Angela Merkel, e o ex-presidente americano Barack Obama.

    Macron nasceu em 1977 em Amiens, no norte da França, onde cresceu cercado de mimos e atenção. Uma biografia escrita por Anne Fulda afirma que "ele foi sempre o escolhido, reconhecido como o melhor". A constante admiração por sua inteligência lhe dotou, diz a jornalista, de "um imperceptível sentimento de superioridade, uma inabalada crença em seu destino".

    É a convicção que pode levá-lo ao Palácio do Eliseu neste domingo aos 39 anos de idade.

    A juventude é um de seus trunfos, assim como o porte de galã, com amplo sorriso e os dentes da frente separados à la Madonna, lhe dando a qualidade magnética que nem todos os políticos têm.

    A revista gay "Garçon" publicou em sua edição de maio uma pesquisa sobre com que candidato os eleitores iriam à cama. Macron teve 68% dos votos. O segundo lugar, o socialista Benoît Hamon, encalhou em 17%.

    Ao contrário de alguns de seus rivais, Macron defendeu em sua campanha propostas socialmente liberais. O conservador François Fillon foi apoiado por uma organização homofóbica.

    Outro trunfo é sua intelectualidade versátil. Ele estudou filosofia e administração e fez mestrado em gestão pública. Em suas entrevistas, cita pensadores como Aristóteles e Immanuel Kant.

    Antes da política, ele tentou a literatura, escrevendo em sua juventude o épico "Babilônia, Babilônia", sobre a conquista do império asteca. O texto segue inédito.

    APOSTA

    Apesar de significar uma certa renovação do panorama político –seria a primeira eleição de um candidato independente–, Macron é uma aposta de reforma limitada. Ele recebeu o apoio dos grandes partidos e precisará contar com o aparato de governo preexistente se tiver a chance de operar o país. Seu movimento tem apenas um ano de vida e é movido por ativistas sem experiência.

    Macron defende também propostas que podem ser difíceis de implementar. O candidato quer rever a jornada de 35 horas semanais e facilitar demissões. Os sindicatos já preparam seus protestos.

    Outro de seus atritos com o eleitorado é sua dificuldade em se apresentar como um representante do povo, tendo trabalhado para o banco Rothschild –recebeu 2,8 milhões de euros (R$ 10 milhões) de 2008 a 2012.

    Além disso, Macron foi formado em uma instituição que é símbolo da elite: a ENA (Escola Nacional de Administração), por onde passaram os presidentes Jacques Chirac e François Hollande.

    "Mas ele me inspirou com sua visão e com seu desejo de tomar riscos", afirma à Folha o professor americano Lex Paulson, radicado em Paris e um dos consultores da campanha. "Ele quer inovar o sistema político, como Obama. É uma aposta enorme."

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