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    Após ser eleito, Macron inicia trabalho para obter maioria no Legislativo

    DIOGO BERCITO
    RODRIGO VIZEU
    ENVIADOS ESPECIAIS A PARIS

    09/05/2017 02h00

    Um dia após ser eleito presidente da França com 66% dos votos, Emmanuel Macron, 39, deixou nesta segunda (8) a direção do Em Frente!, movimento que havia fundado há um ano para concorrer ao cargo. Ele tomará posse neste domingo (14).

    A organização passa a se chamar República Em Frente!, indicando que a primeira etapa de seu projeto se cumpriu. Agora, é preciso conquistar vagas na Assembleia Nacional nas eleições de 11 e 18 de junho, já que o sistema francês prevê que, se o presidente não obtiver maioria (ou formar uma coalizão) no Parlamento, o premiê governe.

    François Mori/AFP
    O presidente eleito da França, Emmanuel Macron, participa da cerimônia da vitória sobre os nazistas
    O presidente eleito da França, Emmanuel Macron, participa da cerimônia da vitória sobre os nazistas

    Para alcançar o objetivo, o processo de fazer do "movimento" estrutura de governo será o primeiro desafio.

    A República Em Frente! foi fundada em 6 de abril de 2016 como alternativa ao cabo de guerra direita/esquerda.

    O nome oficial é Associação Pela Renovação da Vida Política. Macron apresentou a ideia como "movimento" numa aparente tática para parece ser ainda mais novo e desligado do establishment.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Eleições na França - Resultado geral, em % dos votos

    Uma das explicações para o sucesso de Macron é, afinal, vender-se como alternativa ao sistema. Há fadiga entre eleitores, que pela primeira vez na história moderna do país levaram dois partidos periféricos ao segundo turno.

    Mas, na prática, o grupo atua tal qual um partido, organizado em torno de militantes e uma cúpula, e com a possibilidade de nomear e eleger seus candidatos à Presidência e ao Legislativo.

    O dinheiro, entretanto, vem das bases de apoio, e não do financiamento público. A campanha vitoriosa emulou a do democrata Barack Obama, nos EUA, em 2008. Macron mobilizou ativistas de forma inédita na França. Voluntários foram de porta em porta convencer eleitores.

    O movimento República Em Frente! será presidido interinamente por Catherine Barbaroux, que passou pelos ministério do Ambiente e do Comércio, até realizar um congresso em 15 de julho.

    Barbaroux deve apresentar formalmente na quinta-feira (11) os candidatos para as legislativas de junho.

    O partido diz que, dentro de sua proposta de "renovar a política", metade dos nomes será de estreantes em eleições —assim como Macron, cuja experiência na vida pública se resume a 26 meses como ministro da Economia de François Hollande.

    O presidente eleito precisará ter maioria na Assembleia Nacional para por em prática a plataforma de campanha, incluindo a controversa flexibilização das leis trabalhistas, alvo de protestos já nesta segunda.

    A escolha dos 577 membros da Casa, equivalente à Câmara dos Deputados, é apelidada "terceiro turno da eleição" por definir a margem de ação do presidente. Caso haja maioria adversária, ele será obrigado a aceitar um premiê escolhido pela oposição.

    No país, o presidente é o chefe de Estado, e o premiê, de governo. Quando tem um premiê aliado indicado por ele, a divisão faz pouca diferença. Com a legitimidade do voto popular, o presidente decide o rumo do governo.

    Com um premiê de oposição com a maioria legislativa em mãos, o chefe de Estado acaba escanteado. A última vez que isso ocorreu foi quando o socialista Lionel Jospin (1997-2002) foi premiê do conservador Jacques Chirac.

    Em 2012, os socialistas conseguiram 280 assentos contra os 194 dos conservadores. A Frente Nacional da candidata derrotada por Macron, Marine Le Pen, elegeu dois.

    APOIO EM DÚVIDA

    As urnas agora mostrarão se nas presidenciais prevaleceu o apoio a Macron ou a rejeição a Le Pen. Dos 47,5 milhões de franceses aptos a votar, 12,1 milhões se abstiveram (o voto é facultativo) e 4 milhões votaram em branco ou nulo, um recorde. Macron foi a escolha de 20,8 milhões, e Le Pen, de 10,6 milhões.

    A meta do República Em Frente! agora é avançar sobre os distritos da centro-esquerda e da centro-direita. Um dos alvos é a região de Paris, base do Partido Socialista.

    Já os socialistas e os republicanos buscam compensar a derrota na eleição presidencial mantendo bancadas numerosas no Legislativo para influenciar o governo.

    A FN, por sua vez, tenta ampliar a presença na Assembleia após o desempenho de Le Pen, que teve 34% dos votos —recorde do partido.

    Mas esbarra no modelo distrital francês, que elege deputado quem detém a maioria em cada unidade eleitoral e passa para o segundo turno todo candidato com mais de 12,5% dos votos. Para barrar a FN, partidos moderados costumam desistir em favor de rivais com mais chance.

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