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    Governo Trump

    Crítica de democratas a demissão do chefe do FBI é hipócrita, diz Trump

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    10/05/2017 10h06 - Atualizado às 14h19

    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou nesta quarta-feira (10) os democratas de serem hipócritas por criticarem a sua decisão de demitir o diretor do FBI (polícia federal americana), James Comey, e afirmou que os opositores ainda vão agradecê-lo por isso.

    "Os democratas disseram algumas das piores coisas sobre James Comey, incluindo o fato de que ele deveria ser demitido, mas agora eles jogam de uma forma tão triste!", disse Trump em um canal oficial na manhã desta quarta.

    Segundo Trump, Comey "perdeu a confiança de quase todo mundo em Washington, tanto republicanos como democratas". "Quando as coisas se acalmarem, eles vão me agradecer!", completou.

    Trump vem sendo acusado de abuso de poder por demitir, de forma abrupta, o diretor do FBI na terça (9). Comey liderava uma investigação sobre a suposta ligação de integrantes da campanha de Trump com a Rússia antes das eleições.

    Questionado nesta quarta sobre o motivo da demissão de Comey, Trump afirmou que "ele não estava fazendo um bom trabalho". Mais cedo, o vice-presidente Mike Pence havia dito que a saída de Comey não tem relação com as investigações sobre a Rússia.

    De acordo com a imprensa americana, Comey pediu ao Departamento de Justiça dias antes de ser demitido mais verbas e funcionários para conduzir a investigação sobre a Rússia.

    O governo justificou a demissão pela decisão tomada por Comey, ainda em 2016, de encerrar as investigações sobre o uso indevido de e-mails pela ex-secretária de Estado Hillary Clinton sem recomendar o indiciamento da democrata, que disputava a Presidência com Trump.

    A versão não foi comprada pela maioria da mídia americana –nem pela emissora Fox News, na qual o comentarista Charles Krauthammer disse "não fazer sentido" a demissão justificada numa decisão de Comey de julho de 2016.

    Em editorial publicado em sua versão impressa desta quarta, o "New York Times" crava que a investigação sobre os e-mails de Hillary não foi a razão para a demissão de Comey.

    "Comey foi demitido porque estava conduzindo uma investigação que poderia derrubar um presidente. Embora comprometida por seu próprio mau julgamento, a agência de Comey vem buscando ligações entre o governo russo e Trump e seus assessores, com consequências potencialmente ruinosas para o governo", diz o editorial do jornal.

    Segundo o "New York Times", esse é um período "tenso e incerto" da história do país, comparável à demissão, em 1973, por Richard Nixon do procurador que investigava o escândalo de espionagem Watergate.

    "O presidente dos EUA, que não está mais acima da lei do que qualquer outro cidadão, decisivamente prejudicou agora a capacidade do FBI de levar a cabo uma investigação sobre ele e seus assessores. Não há garantia de que o substituto de Comey, que será escolhido por Trump, continuará essa investigação. Na verdade, já existem sugestões do contrário", afirma o editorial.

    Os líderes democratas já começaram a exigir, nesta terça, que um procurador independente seja apontado para ficar à frente da investigação envolvendo o governo.

    O senador democrata Ron Wyden, membro do comitê de inteligência, disse que Comey deverá ser levado ao Congresso para revelar até onde tinham avançado as suas investigações sobre os assessores do republicano quando ele foi demitido.

    Joshua Roberts/Reuters
    James Comey (FBI) em audiência no Comitê de Inteligência da Câmara, em Washington, sobre a suposta intromissão russa nas eleições
    James Comey (FBI) em audiência no Senado

    ERRO

    A demissão de Comey se deu no mesmo dia em que o FBI enviou ao Congresso uma correção de declarações oficiais de seu então diretor sobre os e-mails de Hillary, segundo as quais uma auxiliar da ex-chanceler passara ao marido "centenas de milhares de e-mails", incluindo alguns confidenciais.

    O órgão depois afirmou que encontrou apenas um pequeno número de mensagens no laptop do ex-deputado Anthony Wiener, investigado em um escândalo sexual.

    Segundo o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, a decisão de Trump segue a recomendação do secretário da Justiça, Jeff Sessions, e de seu vice, general Rod Rosenstein.

    As cartas de Rosenstein e Sessions a Trump, datadas desta terça, pedindo a demissão, no entanto, não citam a correção feita pelo FBI sobre as declarações de Comey.

    A carta de Trump comunicando a Comey sua demissão sugere que a investigação que o diretor do FBI conduzia sobre a possível relação de membros de sua equipe com a Rússia possa ter influenciado a decisão.

    "Mesmo que eu aprecie muito o fato de você ter me informado, em três ocasiões distintas, que eu não estou sob investigação, eu concordo com a avaliação do Departamento da Justiça de que você não está apto a liderar efetivamente o bureau (FBI)", escreveu Trump.

    O posto será ocupado interinamente por Andrew McCabe, que era o número dois do FBI. O sucessor de Comey terá que ser confirmado pelo Senado.

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