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    Governo Trump

    Antes de demissão, chefe do FBI pediu recursos para inquérito sobre Rússia

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    10/05/2017 14h07 - Atualizado às 00h23

    Joshua Roberts/Reuters
    James Comey (FBI) em audiência no Comitê de Inteligência da Câmara, em Washington, sobre a suposta intromissão russa nas eleições
    James Comey (FBI) em audiência no Senado

    Dias antes de sua demissão, o então diretor do FBI, James Comey, pediu mais recursos do governo para ampliar a investigação sobre a interferência russa nas eleições de 2016 e a possível ligação de membros da equipe de campanha do presidente Donald Trump com Moscou, segundo um senador democrata e outros três funcionários do Congresso.

    A divulgação do pedido pelos principais jornais americanos traz mais suspeitas sobre as razões que realmente levaram Trump a demiti-lo.

    O pedido teria sido feito na última semana ao vice-secretário de Justiça, Rod Rosenstein, o mesmo que escreveu na terça-feira (9) a carta pedindo a Trump a saída de Comey. O diretor foi demitido no mesmo dia.

    "Me disseram que, assim que Rosenstein chegou [ele assumiu em 26 de abril], houve um pedido de recursos adicionais para a investigação e, alguns dias depois, ele foi demitido", afirmou o senador democrata Richard Durbin ao jornal "New York Times".

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    JAMES COMEY
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    A porta-voz do Departamento de Justiça, Sarah Isgur Flores, disse ser "totalmente falsa" a informação sobre a solicitação por mais recursos.

    A justificativa oficial para a demissão é o "erro" cometido por Comey, em julho passado, de encerrar as investigações sobre o uso indevido de e-mails pela ex-secretária de Estado Hillary Clinton sem recomendar o indiciamento da democrata, que disputava a Presidência com Trump.

    Nos últimos dias, contudo, o governo trouxe versões confusas sobre a saída de Comey. Nesta quarta (10), a vice-porta-voz Sarah Huckabee Sanders disse que Trump já pensava em demitir o diretor do FBI "no dia em que foi eleito", em 9 de novembro.

    Menos de dez dias antes da eleição, entretanto, o republicano havia elogiado a decisão de Comey de abrir nova investigação sobre o uso de e-mail particular por Hillary.

    Ao ser questionada sobre a mudança abrupta de opinião de Trump sobre o diretor, Sanders disse que são "coisas diferentes" quando se é candidato e presidente. Segundo ela, a demissão demorou mais de cem dias porque o mandatário decidiu "dar a Comey uma chance".

    Aos jornalistas, nesta quarta, Trump disse que o motivo da saída do diretor é "muito simples": "Ele não estava fazendo um bom trabalho".

    O presidente recebeu Rosenstein na segunda (8) e, de acordo com a senadora democrata Dianne Feinstein, o próprio Trump teria dito a ela que ordenou ao vice-secretário de Justiça uma "revisão" sobre o trabalho de Comey.

    Em carta divulgada nesta quinta, o ex-diretor do FBI afirmou que não vai perder tempo na discussão sobre a sua saída, e disse esperar que a agência mantenha os valores de proteger a população e defender a Constituição.

    "Em tempos de turbulência o povo dos EUA tem que ver o FBI como uma pedra de competência, honestidade e independência", disse.

    A Comissão de Inteligência do Senado já convidou Comey para depor na terça (16). Não se sabe se ele aceitará.

    Senadores democratas e alguns republicanos defenderam nomear um procurador independente para ficar à frente da investigação sobre a possível ligação da campanha de Trump com a Rússia.

    O secretário de Justiça, Jeff Sessions, e Rosenstein começaram a entrevistar possíveis substitutos. O nome terá de ser aprovado por 51 senadores. Os republicanos são 52, mas alguns já se opuseram à demissão de Comey.

    As supostas relações entre auxiliares de Trump e autoridades da Rússia provocaram turbulências nos primeiros meses do governo do republicano.

    Em fevereiro, Trump demitiu o então conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, por ele ter mentido a seus superiores sobre contatos com o embaixador da Rússia em Washington. No mês seguinte, o secretário de Justiça, Jeff Sessions, anunciou seu afastamento das investigações do departamento que chefia sobre a Rússia devido a indícios de que ele havia mantido contato com autoridades do país durante a campanha eleitoral.

    RÚSSIA

    Menos de 24 horas após demitir o diretor do FBI, James Comey, responsável pelas investigações sobre a suposta interferência de Moscou nas eleições de 2016, o presidente Donald Trump recebeu na Casa Branca o chanceler russo, Sergei Lavrov.

    Após o encontro, Lavrov disse a jornalistas que o tema da investigação não foi tocado na reunião, e mais uma vez negou que seu governo tenha interferido no processo eleitoral. Segundo ele, essas alegações chegam a ser uma "humilhação" para os EUA ao sugerir fragilidade do sistema eleitoral americano.

    "Nunca achei que eu teria que responder a essas perguntas, particularmente nos EUA, dado o seu sistema democrático altamente desenvolvido", afirmou.

    Junto com Lavrov, esteve na Casa Branca o embaixador russo em Washington, Sergei Kislyak, protagonista no escândalo que levou à queda do então conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn. Uma foto de Trump cumprimentando Kislyak foi publicada logo após a reunião pela embaixada russa.

    A nota da Casa Branca sobre o encontro com Lavrov diz que o presidente enfatizou a necessidade de a Rússia "frear" o regime do sírio Bashar al-Assad e o Irã. Também afirmou que Moscou tem de cumprir os acordos para buscar uma solução ao conflito com a Ucrânia.

    Os dois governos admitem que a relação EUA-Rússia passa por um momento turbulento —o pior da história, segundo Trump— após o ataque químico a civis na Síria, que levou a uma retaliação militar do governo americano contra Assad.

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