• Mundo

    Wednesday, 08-May-2024 02:58:27 -03

    Governo Trump

    Análise

    Bordão 'você está demitido' pode se voltar contra Trump

    MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
    DE NOVA YORK

    12/05/2017 02h00

    "Você está demitido!", O bordão que consagrou Donald Trump no reality-show "O Aprendiz", desta vez saiu pela culatra.

    A intempestiva demissão do diretor do FBI, James Comey, pelo presidente dos EUA inaugurou uma crise política cujas consequências ainda estão em aberto. O senador democrata Richard Blumenthal (Connecticut), por exemplo, já aventou a possibilidade de o episódio originar um processo de impeachment.

    Shcherbak Alexander/TASS/Zumapress/Xinhua
    O presidente dos EUA, Donald Trump, participa de encontro com o chanceler russo, Sergei Lavrov
    O presidente dos EUA, Donald Trump, participa de encontro com o chanceler russo, Sergei Lavrov

    Como era previsível, não prosperou a tentativa da Casa Branca de ligar o afastamento de Comey à admissão, pelo FBI, de erros na investigação sobre os e-mails supostamente irregulares da ex-chanceler e ex-candidata democrata Hillary Clinton.

    Embora o caso tenha gerado consternação nos meios democratas, foi tratado como um pretexto —e, mesmo entre republicanos, a alegação foi recebida com ceticismo.

    Impôs-se a hipótese de que a demissão foi uma resposta ao inquérito conduzido pelo FBI sobre as relações de assessores de Trump com o governo russo durante a campanha presidencial, com o intuito de prejudicar Hillary.

    -

    JAMES COMEY
    As controvérsias do ex-diretor do FBI

    set.16
    FBI inicia investigação sobre o ex-deputado Anthony Weiner, marido de Huma Abedin, importante assessora de Hillary Clinton. Weiner é acusado de trocar mensagens eróticas com uma adolescente

    28.out
    A 11 dias da eleição, o órgão anuncia uma nova apuração sobre o uso de um servidor de e-mails privado por Hillary no período em que ela foi secretária de Estado (2009-2013). A reabertura estaria relacionada ao caso Weiner

    8.nov
    Trump vence a eleição. Dois dias antes, Comey havia anunciado que não processaria Hillary

    23.mar.17
    Comey confirma investigação do FBI sobre contatos entre a equipe de campanha de Trump e o governo russo

    2.mai
    Hillary responsabiliza Comey, assim como hackers russos, por sua derrota na eleição

    3.mai
    O então diretor do FBI depõe no Congresso e diz que "centenas de milhares" de e-mails encaminhados por Huma Abedin foram achados no computador de Weiner

    9.mai
    - FBI desmente a declaração de Comey e afirma que apenas um pequeno número de e-mails de Abedin foram encontrados no computador de Weiner

    - Trump demite Comey após recomendação do secretário de Justiça, Jeff Sessions

    10.mai
    Imprensa americana afirma que, dias antes de ser demitido, Comey pedira mais recursos para investigar os laços da campanha de Trump com Moscou; o Departamento de Justiça nega que isso tenha ocorrido

    -

    Ao que tudo indica, Trump subestimou as repercussões políticas de seu passo —se é que não as considerou um mal menor diante da tempestade mais devastadora que se abateria caso ele mesmo fosse atingido pelas apurações.

    O episódio é um prato cheio para democratas, progressistas e veículos da mídia que exercem marcação cerrada sobre o presidente —e já tirou do cardápio o efêmero "momentum" do governo ao aprovar na Câmara o projeto de reforma do Obamacare.

    Em contrapartida, os conservadores acusam os democratas de hipocrisia e a imprensa de histeria, num suposto conluio para derrubar um presidente que não conseguiram derrotar nas urnas.

    Republicanos e a Casa Branca insistem que a demissão se enquadra nas atribuições constitucionais da Presidência e deve ser vista como um ato administrativo contra um funcionário que não fazia bem seu trabalho.

    Mas não é tão simples: esta foi apenas a segunda vez que um presidente demitiu um diretor do FBI desde a morte do lendário J. Edgard Hoover, em 1972. A primeira foi em 1993, quando Bill Clinton afastou William S. Sessions em meio a evidências de desvios éticos.

    Numa tentativa de reduzir danos, Trump, em entrevista à rede NBC, reformulou declarações anteriores e disse que a demissão já estava planejada. Aproveitou para acusar Comey de ser um exibicionista que estava causando confusão no FBI.

    Perguntar não ofende: será que essa definição não serviria para alguém mais na política americana?

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024