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    Governo Trump

    Ex-assessor de Nixon e Clinton diz que há base para impeachment de Trump

    DEREK HAWKINS
    DO "WASHINGTON POST"

    17/05/2017 11h57

    "Creio que estamos em território de impeachment."

    A declaração não veio de um blogueiro político de esquerda expressando esperanças, e nem de um proponente de teorias da conspiração hiperativo no Twitter.

    Veio de David Gergen, um analista da CNN que costuma ser polido e moderado, antigo assessor de quatro presidentes, tanto republicanos quanto democratas. Gergen falou na CNN na noite desta terça-feira (16) para discutir as controvérsias que se despejaram sobre o governo Trump nos últimos sete dias.

    Brendan Smialowski - 13.mai.2017/AFP
    US President Donald Trump pauses while speaking to the press before take-off onboard Air Force One at Andrews Air Force Base, Maryland May 13, 2017. / AFP PHOTO / Brendan Smialowski
    O presidente Donald Trump durante entrevista coletiva no Air Force One no último sábado (13)

    No topo da lista está a informação de que o presidente havia pedido a James Comey, então diretor do FBI (polícia federal americana), que abandonasse a investigação sobre Michael Flynn, então conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca. A acusação alimentou as afirmações de que Trump pode ter obstruído a Justiça, o que no passado costumava ser tratado como delito passível de impeachment.

    Se as acusações procedem, as consequências para o presidente podem ser devastadoras, disse Gergen, que trabalhou para os presidentes Richard Nixon (1969-74) e Bill Clinton (1993-2001), ambos alvos de processos de impeachment.

    "Trabalhei para o governo Nixon, como vocês sabem, e imaginei, depois de acompanhar o processo de impeachment de Clinton, que jamais veria outro caso", disse Gergen a Anderson Cooper, o apresentador da CNN. "Mas acredito agora, pela primeira vez, que estejamos em território de impeachment".

    Cooper questionou: "Mesmo?"

    "Creio que obstruir a Justiça foi a principal acusação contra Nixon, e que o tenha forçado a sair", responde Gergen. "Obstruir a Justiça foi a principal acusação contra Bill Clinton, e resultou no processo de impeachment contra ele na Câmara."

    Primeiro o "New York Times" e depois o "Washington Post" e outros veículos reportaram que Trump havia pedido a Comey, em uma reunião em fevereiro, que não levasse adiante a investigação sobre Flynn, e em lugar disso investigasse repórteres em casos de vazamento de informações.

    Comey mostrou suas anotações sobre a conversa a assessores, que por sua vez as descreveram a jornalistas. Analistas de questões legais disseram ao "Washington Post" nesta terça que um processo criminal por obstrução da Justiça é possível, mas provavelmente requereria mais provas.

    A notícia surgiu uma semana depois da demissão de Comey por Trump e um dia depois de informações de que Trump teria compartilhado informações confidenciais com membros do governo russo.

    A Casa Branca negou a versão da conversa descrita pelos assessores de Comey, dizendo ao "Washington Post" que "o presidente jamais pediu a Comey ou qualquer outra pessoa que parasse uma investigação". Trump também vem defendendo por sua conta a decisão de demitir Comey e de revelar informações a funcionários do governo russo.

    Na CNN, Gergen disse que "do ponto de vista de um leigo", parecia que Trump estava tentando impedir a investigação do FBI.

    "Ele estava usando seu poder para isso, e quando James Comey não o atendeu, quando Comey mostrou que não era seu aliado, o presidente o demitiu, o que acredito também ser relevante para a questão do que ele estava tentando fazer", disse Gergen. "Assim, do meu ponto de vista isso tem enormes consequências para sua Presidência."

    "Creio que, considerando as três bombas que explodiram recentemente, acrescentou Gergen, "o que vemos é uma Presidência que começa a se desmantelar".

    Gergen não foi a única voz moderada a sugerir que argumentos plausíveis estavam começando a surgir para a remoção de Trump.

    Ross Douthat, colunista conservador do "New York Times", escreveu que embora Trump possa não ser culpado dos "altos crimes e delitos" necessários a um impeachment, se provou incapaz de governar o país. Uma solução mais apropriada, segundo Douthat, seria tirá-lo do posto sob a 25ª emenda à Constituição dos Estados Unidos, que permite que o gabinete de um presidente o considere "incapaz de exercer o poder e arcar com as responsabilidades de seu cargo".

    "Não são os conservadores delicados do 'New York Times' que consideram o presidente como uma criança, um vazio intelectual, um caso sem esperança, uma ameaça à segurança nacional", escreveu Douthat. "Estamos falando de pessoas autodefinidas como leais, que o apoiaram na campanha presidencial e trabalham com ele todos os dias."

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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