Oli Scarff/AFP | ||
Policiais armados patrulham o entorno da estação Victoria, em Manchester, após o atentado na cidade |
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Mundo
Wednesday, 15-Jan-2025 09:08:32 -03Com livro sobre EI, repórter da Folha é retido em aeroporto de Manchester
DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL A MANCHESTER24/05/2017 02h00
"Soube que você estava lendo um livro. Posso ver?", pergunta-me uma policial no controle de passaportes do aeroporto de Manchester.
Depois explica: um passageiro havia se sentido desconfortável com a leitura durante as duas horas de voo.
A obra era "The Isis Apocalypse", de William McCants, sobre a ideologia da organização terrorista Estado Islâmico, que reivindicou a explosão no show da cantora americana Ariana Grande.
Diogo Bercito/Folhapress Capa do livro "The Isis Apocalypse" McCants é diretor de um projeto sobre o mundo islâmico na Brookings Institution e professor na Universidade Johns Hopkins. Ele foi conselheiro do Departamento de Estado dos EUA para temas de terrorismo. O livro, de 2015, é uma referência para jornalistas e pesquisadores.
Recebi um formulário com meus dados, informando-me de que eu seria interrogado antes de passar pela imigração e de que explicariam "as razões para a detenção".
Não houve muito debate. Já mais cedo, ao perguntar por que não havia nenhum policial nos guichês de passaporte, vazios por 20 minutos, funcionários deram de ombros. O bordão era: "Você sabe o que aconteceu aqui ontem à noite?".
Sem meu passaporte e minha credencial de imprensa, esperei por uma hora em uma sala de vidro com outros dois passageiros. Eles desconversaram quando perguntei o que eles tinham feito. Estavam ali havia algumas horas.
O fato de eu ter sido brevemente detido por um livro foi assunto de grande parte do tempo de espera.
"Imagine se você estivesse com um Alcorão", disse um deles, americano, citando o livro sagrado do islã.
Como num episódio da série "Lei e Ordem", dois homens de terno preto me levaram a uma sala de interrogatório. Sentei-me, e os dois continuaram de pé. Apresentaram-se como policiais de contraterrorismo.
Pediram para ver o tal livro e anotaram o título. Então tentaram explicar as circunstâncias, dizendo que era compreensível outros passageiros se incomodarem comigo.
Sugeriram que evitasse essa leitura em lugares públicos —para minha própria segurança, pois alguém poderia pensar que sou um terrorista e me agredir.
"Mas fizemos nossa própria investigação", disse um deles, em tom misterioso. "Sabemos quem você é. Para quem trabalha." Devolveram o passaporte, mas com um aviso: se quisessem, poderiam me manter por bastante tempo. Poderiam? Com base em quê? Ler um livro?
Eles apontaram para uma placa na parede com parágrafos da lei antiterror vigente. "Bem, não precisamos ter base em nada para isso."
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