• Mundo

    Saturday, 27-Apr-2024 17:23:29 -03

    Em meio a disputa política, Odebrecht tem escritório revistado na Argentina

    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    24/05/2017 16h35

    O escritório da Odebrecht em Buenos Aires foi revistado nesta quarta-feira (24), apesar de a empresa já ter se oferecido a colaborar com a Justiça local, disponibilizando informações sobre os casos de corrupção nos quais a construtora brasileira estaria envolvida no país vizinho.

    De acordo com o Departamento de Justiça dos EUA, a Odebrecht teria pago US$ 35 milhões em propinas a políticos argentinos.

    Carlos Jasso - 4.mai.2017/Reuters
    Logo da Odebrecht em uma das salas de reunião de sua sede na cidade do México, em maio de 2017
    Logo da Odebrecht em uma das salas de reunião de sua sede na cidade do México, em maio de 2017

    Segundo a Folha apurou, a ordem teria sido uma retaliação por parte do Judiciário local, em razão de contatos que foram feitos nas últimas semanas entre representantes do Executivo e funcionários da empresa.

    Em ano eleitoral –a Argentina renova metade de seu Congresso em outubro–, o caso Odebrecht está virando uma bandeira política para ambos os lados da disputa.

    De um lado, está a Procuradoria, que legalmente seria responsável por receber as informações dos casos e dos acordos firmados entre a empresa e a Justiça do Brasil. O órgão, porém, responde à procuradora-geral, Alejandra Gils Carbó, vinculada ao kirchnerismo e inimiga política do presidente Mauricio Macri.

    O Executivo considera que Gils Carbó está encaminhando as investigações de modo a apenas expor os nomes de possíveis suspeitos relacionados ao governo Macri. Foi o caso do atual chefe do serviço de inteligência, Gustavo Arribas, acusado em delação pelo doleiro Leonardo Meirelles de ter recebido mais de US$ 800 mil.

    Macri considera que a Procuradoria anda muito lenta para investigar o restante das acusações e vem sendo pressionado por aliados políticos, como a deputada Elisa Carrió.

    Como o período que abrange a investigação, de 2010 a 2015, teve à frente do país o kirchnerismo, os macristas tinham a expectativa de que, a essa altura, surgissem nomes que estivessem relacionados à concessão de obras públicas durante a gestão de Cristina Kirchner (2007-2015), como o ex-ministro do Planejamento, Julio De Vido. Este, porém, até agora, não está sendo investigado formalmente.

    A Odebrecht pretende, ao fornecer informações sobre os delitos e pagar possíveis multas, receber autorização para continuar participando de licitações no país, assim como terminar as obras já iniciadas. A empresa também pretende que os executivos que já estejam respondendo a processo no Brasil não sejam levados a tribunais também na Argentina.

    A Justiça alega que a Constituição argentina não permitiria esse tipo de acordo, algo que o Executivo contesta, pois tal pacto poderia ser contemplado por tratados internacionais ou pela "lei do arrependido" –legislação local até agora usada apenas em crimes envolvendo narcotráfico.

    Na tarde da quarta-feira (24), o escritório local da Odebrecht divulgou um comunicado que diz: "a empresa reafirma sua posição em colaborar com a Justiça e espera reconquistar a confiança da sociedade com uma atuação empresarial íntegra, ética e transparente."

    O Executivo teria começado a atuar no caso oficialmente na terça-feira (23), quando o ministro da Justiça, Germán Garavano, a pedido de Macri, se reuniu com advogados da empresa.

    Mais cedo, Garavano deu declarações à imprensa local. "A Procuradoria deveria liderar esse processo, mas não vem colocando nem empenho nem esforço na investigação dos casos, pelo contrário", disse o ministro, sugerindo ainda que Gils Carbó estava "boicotando" o andamento das investigações.

    "O interesse do presidente é que isso se resolva o mais rápido possível e do modo mais transparente. Nos deu ordem de avançar até as últimas consequências", concluiu.

    Hugo Villalobos - 25,.jan.2017/"Noticias Argentinas"/AFP
    Photo released by Noticias Argentinas of Argentinian intelligence chief Gustavo Arribas leaving the Comodoro Py courthouse in Buenos Aires, on January 25, 2017. Arribas denied on Wendnesday having received 600,000 US dollars from a financial operator of Brazil's Odebrecht, condemned in Brazil for corruption. / AFP PHOTO / NOTICIAS ARGENTINAS / HUGO VILLALOBOS / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / NOTICIAS ARGENTINAS / HUGO VILLALOBOS" - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS - ARGENTINA OUT ORG XMIT: EAS1035
    Gustavo Arribas, chefe de inteligência de Macri envolvido no caso Odebrecht

    As obras mais importantes sob foco são o soterramento do trem Sarmiento, na região metropolitana de Buenos Aires, que tiveram início durante a gestão Cristina Kirchner, mas na qual a Odebrecht atuou em parceria com a Iecsa, empresa que pertencia a um primo do presidente. Outra obra de destaque é a construção de uma estação de tratamento de água no rio Tigre.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024