• Mundo

    Tuesday, 07-May-2024 09:46:48 -03

    Procuradora chama Maduro a atacar causas de protestos na Venezuela

    DE SÃO PAULO

    24/05/2017 20h34

    A procuradora-geral da República da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, voltou a criticar o presidente Nicolás Maduro e as forças de segurança pela violência nos protestos e por não atacarem as causas que levam as pessoas às ruas.

    Segundo o relatório divulgado nesta quarta-feira (24), em 54 dias de manifestações 55 pessoas morreram, mais de mil ficaram feridas e outras 2.664 foram presas. Quase 350 estabelecimentos comerciais foram saqueados.

    Carlos Garcia Rawlins/Reuters
    Manifestantes saqueiam produtos de limpeza de um caminhão durante protesto opositor em Caracas
    Manifestantes saqueiam produtos de limpeza de um caminhão durante protesto opositor em Caracas

    Na apresentação do último balanço, Ortega Díaz disse que a crise política entre o governo chavista e sua oposição "não se resolve privando as pessoas da liberdade, mas reconhecendo que existe o problema".

    "O descontentamento social é o resultado da severa crise econômica que leva ao desabastecimento de alimentos, remédios e à insegurança que existe."

    Ainda sobre o desabastecimento, ela fez um chamado ao fim dos saques por alimentarem a escassez. As invasões a lojas aumentaram principalmente no interior, e o governo e seus rivais trocam acusações sobre os responsáveis.

    "Devemos parar com isso, porque se o país está passando por graves dificuldades econômicas esta destruição torna mais aguda os problemas que padecem a população para se abastecer de alimentos e remédios."

    Sobre a violência das forças de segurança, citou como exemplo a morte de Juan Pablo Pernalete, 20, atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo em um ato opositor em Caracas em 26 de abril.

    Baseada na perícia do Ministério Público e no depoimento de testemunhas, a procuradora afirma que o artefato foi disparado à queima-roupa por um guarda, provocando uma lesão no tórax que levou à morte do manifestante.

    A versão é a mesma dos opositores e dos médicos que o atenderam. "Disparar bombas de gás contra as pessoas é proibido, é letal. A lei nacional e internacional proíbe que elas sejam atiradas diretamente nas pessoas."

    Para o governo, Pernalete foi morto por manifestantes encapuzados com uma pistola de dardo cativo —arma usada para eutanásia de animais. O dardo provoca uma concussão que pode matar dependendo do órgão atingido.

    A versão foi reiterada nesta quarta pelo defensor do povo, Tarek William Saab, e pelo ministro das Comunicações, Ernesto Villegas. Saab disse que as investigações ainda não acabaram, apesar da perícia do Ministério Público.

    Ortega Díaz ainda criticou a guerra de versões sobre as mortes, ocorrida não só no caso de Pernalete, e os rumores publicados na imprensa e nas redes sociais. Ela disse que ambos afetam as investigações dos promotores.

    Desde março a procuradora-geral se distancia do governo. Ela considerou uma ruptura da Constituição a sentença que dava ao Judiciário as funções do Legislativo, dominado pela oposição, que foi derrubada dias depois.

    Ela também condenou a violência nos protestos, as prisões com flagrantes forjados e sem provas de manifestantes. Também é contra a Constituinte convocada por Maduro, por considerar que alimenta mais a divisão no país.

    AMEAÇA

    Nesta quarta, o Tribunal Supremo de Justiça ameaçou decretar a prisão de oito prefeitos venezuelanos, todos da oposição, se não impedirem a formação de barricadas e não zelarem pela segurança em seus municípios.

    Dentre eles, estão quatro alcaides de cidades que formam a zona leste de Caracas, reduto opositor. Eles deverão impedir o fechamento das ruas, a corrupção de menores e organizar suas guardas para as manifestações.

    Caso não cumpram, eles podem ser condenados a até 15 meses de prisão. O Judiciário repete medida tomada em 2014, que levou à prisão Daniel Ceballos, prefeito de San Cristóbal, berço da onda de protestos daquele ano.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024