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    Após ataque, espírito comunitário estimula resiliência de Manchester

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A MANCHESTER

    26/05/2017 02h00

    Dias após a explosão que deixou 22 mortos em Manchester, um enxame de abelhas tomou a cidade como uma migração inesperada.

    Os insetos foram tatuados em dezenas de moradores durante uma ação para arrecadar fundos para as vítimas do atentado de segunda-feira (22). Artistas cobraram cerca de R$ 200 pelos traços.

    Owen Humphreys/PA/Zumapress/Xinhua
    Moradores de Manchester prestam homenagem às vítimas do atentado no show de Ariana Grande
    Moradores de Manchester prestam homenagem às vítimas do atentado no show de Ariana Grande

    A abelha operária é um dos símbolos de Manchester, representando os trabalhadores industriais pelos quais a região era conhecida no início do século 19. A cidade é lembrada também pelo sentimento comunitário, evidenciado nesta semana.

    Moradores de rua estiveram entre os primeiros socorristas na Manchester Arena. Ali, eles ajudaram a remover estilhaços dos feridos.

    Motoristas de táxi, por sua vez, ajudaram a levar os sobreviventes para casa. A empresa Street Cars Manchester não cobrou pelas corridas.

    "O telefone tocava sem parar", conta à Folha Sam Arshad, um dos proprietários da firma. "Disse aos motoristas que nós precisávamos ajudar aquelas pessoas."

    Neto de paquistaneses, Arshad afirma ter passado 40 horas consecutivas sem dormir. Duzentos de seus motoristas estavam nas ruas e dezenas se voluntariaram.

    São esses momentos após uma crise que mostram, segundo Arshad, do que é feito um povo. Se as pessoas vão se separar ou se unir. "Nós mostramos que genuinamente somos boas pessoas."

    Na quinta (25), após um minuto de silêncio, uma mulher puxou um coro cantando "Don't Look Back In Anger", da banda Oasis, formada em Manchester. O título diz "não olhe para trás com raiva".

    Moradores ouvidos pela reportagem não souberam determinar por que são conhecidos como vizinhos mais prestativos, por exemplo, do que os londrinos. Talvez porque a região metropolitana da cidade tenha 2,5 milhões de habitantes, em vez dos 8,6 milhões da capital.

    "Somos uma cidade baseada na comunidade", sugere Cat Nangle, 25, em uma das vigílias às vítimas nesta semana. Em parte, pelo longo histórico de migração.

    Os pais de Olla al-Jibouri, 29, por exemplo, vieram do Iraque. "Temos culturas diferentes", diz, "como um ingrediente da sociedade local".

    Mas, apesar da integração, ela se preocupa com os impactos do ataque, reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico. Jibouri cobre o cabelo com véu. "As pessoas podem passar a nos ver de maneira diferente."

    Embora em número reduzido, líderes muçulmanos locais notam aumento nos crimes de ódio. Teriam cuspido em uma mulher e pedido a um homem que "voltasse a seu país", além de tentarem incendiar um local de culto.

    LITTLE LIBYA

    Manchester é conhecida, para além da solidariedade, pela expressiva comunidade líbia, a maior do Reino Unido —e resultado das perseguições em seu país natal pelo ex-ditador Muammar Gaddafi, morto em 2011.

    Os laços com o país ficaram em evidência após o terrorista ter sido identificado como Salman Ramadan Abedi, 22, filho de líbios. Seu pai e seu irmão mais novo foram detidos em Trípoli, na Líbia.

    Abedi, como outros líbios, morava na região de Moss Side, em Manchester. Segundo o "Financial Times", ao menos 16 jovens dali ingressaram no Estado Islâmico. "Não me surpreende que os responsáveis fossem líbios", disse ao diário o jornalista líbio Reda Fhelboom. "Há muitos extremistas líbios vivendo em Manchester."

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