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    Governo Trump

    Lei da saúde de Trump deve tirar cobertura de 23 milhões de pessoas

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    26/05/2017 02h00

    Um novo levantamento oficial mostra que o plano de assistência à saúde aprovado pela Câmara dos EUA no início deste mês para substituir o Obamacare —a reforma do sistema promovida por Barack Obama (2009-17)— deixará 23 milhões de americanos a mais sem cobertura ao longo da próxima década.

    A proposta aprovada do chamado "Trumpcare" também terá impacto mais modesto sobre o deficit orçamentário do país: o corte fica mais de 50% abaixo do esperado, levando os republicanos no Senado a verem o texto com ainda mais desconfiança.

    Dominick Reuter - 10.mai.2017/AFP
    Manifestantes protestam antes de uma reunião com o republicano Tom MacArthur, contrário ao Obamacare
    Manifestantes protestam antes de uma reunião com o republicano Tom MacArthur, contrário ao Obamacare

    A Lei de Saúde Americana, aprovada por margem apertada após várias mudanças que agradaram alas mais conservadoras, teve uma votação a jato na Câmara, antes da divulgação do relatório do Congressional Budget Office (CBO), agência apartidária ligada ao Congresso americano responsável pelo cálculo.

    A rapidez foi criticada pela oposição democrata.

    A análise completa do CBO só foi divulgada na noite de quarta (24), 20 dias depois, e prevê que o texto —se aprovado pelo Senado como está— reduzirá o deficit federal em US$ 119 bilhões até 2026.

    O primeiro projeto apresentado pelo presidente da Câmara, o republicano Paul Ryan, e modificado após não obter apoio suficiente na casa apesar da maioria governista, projetava uma redução de US$ 337 bilhões, ou 57% do deficit de US$ 587 bilhões registrado em 2016.

    COBERTURA

    Na comparação com o primeiro texto, contudo, o projeto que passou na Câmara garantirá 1 milhão a mais de segurados em dez anos.

    Para muitos senadores republicanos, não é suficiente, porque ainda deixará 51 milhões de americanos sem cobertura nenhuma em 2026, contra 28 milhões que não estarão segurados se o Obamacare continuar em vigor.

    "Isso [o relatório] torna tudo mais mais difícil", disse o senador republicano por Nevada Dean Heller, ao jornal "The New York Times".

    "Apesar de ser a favor de acabar com o Obamacare, eu me oponho à Lei de Saúde Americana como ela é hoje."

    Seu correligionário Patrick Toomey, senador pela Pensilvânia, afirmou que a análise do CBO acende "luzes amarelas" sobre o texto aprovado na outra casa. Os senadores do partido já vinham indicando que redigirão sua própria proposta para a substituição do Obamacare, com base nas suas "prioridades".

    Ainda segundo o relatório da agência, 14 milhões de americanos a mais estarão sem cobertura já no próximo ano, se o projeto da Câmara for aplicado. Destes, 8 milhões seriam cidadãos que deveriam desistir de seus planos individuais com o fim da multa prevista pelo Obamacare para quem não contratar um seguro.

    Nos próximos dez anos, contudo, os mais afetados serão os mais pobres. Entre os 23 milhões a mais que estariam sem cobertura, 14 milhões seriam pessoas atendidas pelo Medicaid, sistema público voltado à população de mais baixa renda, segundo o CBO.

    O número é o mesmo previsto no primeiro texto apresentado por Ryan, mas 17% maior do que a previsão se o Obamacare fosse mantido.

    No Senado, o presidente Donald Trump terá ainda que cortejar os senadores mais moderados de seu partido, preocupados com o impacto das mudanças sobre a cobertura de saúde para os mais pobres e os mais velhos, para fazer passar a lei.

    Alguns pontos certamente serão revistos. Entre eles, está a falta de garantia de plano de saúde para pessoas com doenças preexistentes.

    Outro item que preocupa republicanos moderados é a concessão de Trump a ultraconservadores para tirar a obrigatoriedade dos planos de oferecerem o que hoje são considerados cuidados essenciais, como atendimento emergencial e pré-natal.

    *

    Impacto do Trumpcare

    Como ficará o sistema de saúde dos EUA com o projeto aprovado pela Câmara

    23 milhões
    de pessoas a mais perderão a cobertura de saúde até 2026, em relação ao Obamacare, o que significa que

    51 milhões
    de pessoas com menos de 65 anos estarão sem seguro em 2026 com o projeto aprovado; com o Obamacare, seriam 28 milhões

    14 milhões
    dos 23 milhões a mais que perderão a cobertura até 2026 participam do Medicaid; outros 6 milhões deixarão seus planos individuais

    US$ 119 bilhões
    é o valor que será reduzido do deficit americano na próxima década; o valor da redução do primeiro texto apresentado pelos republicanos era estimado em US$ 337 bilhões

    Fonte: Congressional Budget Office (CBO)

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