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    UE e China fortalecem laços climáticos para se contrapor aos EUA

    DO "FINANCIAL TIMES"

    31/05/2017 18h58 - Atualizado às 19h58
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    A China e a União Europeia forjaram uma "aliança verde" para combater a mudança climática e contrapor-se à possibilidade de Donald Trump tirar os EUA do acordo internacional sobre o clima.

    Em um nítido realinhamento de forças, documentos aos quais o FT teve acesso mostram que Pequim e Bruxelas acordaram medidas para acelerar o que descrevem como o processo "irreversível" de reduzir o uso de combustíveis fósseis e a "conquista histórica" do acordo climático de Paris.

    Tony Gentile/Reuters
    Chefes de Estados se reúnem em reunião do G7, na Itália
    Chefes de Estados se reúnem em reunião do G7, na Itália

    A colaboração deve ser anunciada na sexta-feira (2) em uma cúpula de líderes da UE com o premiê chinês, Li Keqiang, na mesma semana em que Trump disse que irá encerrar meses de indecisão sobre tirar ou não os EUA do Acordo de Paris.

    A iniciativa acontece dias após o fim de uma cúpula tensa do G7 na Itália, que terminou com Trump em oposição a outros líderes em relação ao comércio e ao Acordo de Paris.

    O clima azedo se intensificou depois de a chanceler alemã Angela Merkel ter dado indícios de um desentendimento transatlântico mais profundo, dizendo que a Europa não pode mais "contar plenamente com outros" e que "nós [os europeus] precisamos lutar nós mesmos por nosso futuro".

    A aliança forjada pela UE e a China é uma expressão concreta da frustração internacional com Trump, que já desfez medidas acordadas por seu predecessor, Barack Obama, como parte do Acordo de Paris, adotado em dezembro de 2015 por quase todos os países do mundo.

    A declaração conjunta acordada por Pequim e Bruxelas para a cúpula de sexta, à qual o FT teve acesso, diz que as duas partes "estão determinadas a avançar" com medidas para "liderar a transição energética" em direção a uma economia global de baixo carbono.

    A UE, que possui o maior mercado de carbono do mundo, dará €10 milhões à China para apoiar seu plano de lançar um sistema nacional de comércio de emissões este ano, numa iniciativa que, segundo autoridades, vai acelerar a possibilidade de vincular os dois esquemas.

    Separadamente, dois países se comprometeram a estudar maneiras de ajudar os países mais pobres do mundo a desenvolver economias mais verdes.

    Essa iniciativa pode ser importante para conservar o apoio dos países em desenvolvimento ao Acordo de Paris, no caso de Trump tirar os EUA do pacto.

    Trump tuitou na quarta-feira: "Vou anunciar minha decisão sobre o Acordo de Paris nos próximos dias. Tornar a América grandiosa outra vez!". O site Axios e outros veículos americanos de notícias divulgaram que Trump já decidiu que os Estados Unidos devem se retirar do acordo.

    Os assessores do presidente americano estão profundamente divididos quanto a se ele deve cumprir sua promessa de campanha de sair do Acordo de Paris. Steve Bannon, o estrategista chefe de Trump e líder do campo econômico nacionalista, vem sendo o principal defensor da retirada dos EUA, somado a um grupo grande de senadores republicanos. Mas Gary Cohn, diretor do conselho econômico nacional da Casa Branca, Rex Tillerson, o secretário de Estado, e Ivanka, filha de Trump, vêm tentando convencer o presidente a não tirar os EUA do acordo.

    Alguns empresários também estão fazendo um esforço para persuadir Trump a permanecer no pacto. Elon Musk, o co-fundador da Tesla, tuitou na quarta-feira que não terá "outra escolha senão sair" dos conselhos de assessoria empresarial e tecnológica do presidente se os EUA se retirarem do acordo.

    Sob a Presidência de Obama, os EUA fizeram contribuições importantes para os programas internacionais de financiamento climático. Muitos países em desenvolvimento apresentaram planos climáticos ao Acordo de Paris cuja implementação depende de receberem financiamento internacional.

    A UE e a China também acordaram que vão cooperar no lançamento de carros elétricos, rótulos de eficiência energética e pesquisas científicas sobre inovações verdes.

    Eles também estudarão maneiras de incentivar o crescimento da energia renovável, como incrementar as redes elétricas interconectadas.

    A colaboração entre UE e China começou na conferência climática da ONU em Marrakesh, no Marrocos, mas recebeu um impulso adicional com a vitória eleitoral inesperada de Trump, que em uma ocasião descreveu o aquecimento global como uma farsa chinesa.

    O acordo foi negociado pelo representante especial da China para a mudança climática, Xie Zhenhua, e o comissário da UE para o clima e a energia, Miguel Arias Cañete.

    Em seu comunicado conjunto, a UE e a China disseram que "os impactos crescentes da mudança climática exigem uma resposta decisiva".

    "O combate à mudança climática e a reforma de nossos sistemas energéticos são motores importantes de geração de empregos, oportunidades de investimento e crescimento econômico", eles acrescentaram.

    Wendel Trio, do grupo de ONGs ambientais Climate Action Network, disse que a cooperação entre Bruxelas e Pequim para apoiar países vulneráveis será "um dos avanços interessantes" e que ela "supera a divisão tradicional" entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, no que diz respeito à mudança climática.

    Tradução de CLARA ALLAIN

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