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    Rádios inglesas não tocam música que chama premiê de 'mentirosa'

    ADAM TAYLOR
    DO 'WASHINGTON POST'

    01/06/2017 11h41

    Matt Dunham - 25.mai.2017/Reuters
    O presidente dos EUA, Donald Trump, conversa com a premiê britânica, Theresa May, em Bruxelas
    O presidente dos EUA, Donald Trump, conversa com a premiê britânica, Theresa May, em Bruxelas

    "Liar Liar GE2017" está entre as canções mais populares do Reino Unido esta semana. Quando este texto estava sendo escrito, ela ocupava a segunda posição na parada de downloads britânica da iTunes, atrás apenas de outro grande hit do momento, "Despacito", de Luis Fonsi e Daddy Yankee, com participação especial de Justin Bieber.

    "Liar, Liar", composta e interpretada pelo grupo Captain SKA, também estava perto do topo da parada oficial de singles britânica, reportou a BBC na terça-feira (30). Mas se você ligar o rádio, no Reino Unido, dificilmente ouvirá a canção. As rádios simplesmente não a estão tocando.

    Por que não? Bem, o problema está no conteúdo da letra –e nas imagens da primeira-ministra Theresa May exibidas no vídeo que acompanha a canção.

    "Ela é mentirosa, mentirosa", canta a vocalista Adeolla Shyllon no refrão, que inclui exemplos de promessas aparentemente não cumpridas por May. "Não, não se pode confiar nela", Shyllon canta em seguida.

    Outros versos são ainda mais claramente políticos. "Enfermeiras passando fome, escolas em declínio", diz um dos versos da primeira estrofe. "Não reconheço meu país, todo quebrado".

    A mensagem política da canção não é acidente. A banda Captain SKA lançou a canção "Liar Liar" original em 2010, em oposição aos planos do governo para elevar as mensalidades das universidades.

    Os membros da banda, que informaram ao jornal "Evening Standard" que são músicos de estúdio britânicos, decidiram remixá-la para capturar o clima predominante entre os oponentes do governo de centro-direita de May, durante a campanha para a eleição de 8 de junho.

    O vídeo da canção termina com uma mensagem implícita de oposição ao Partido Conservador, liderado pela primeira-ministra. "Em 8 de junho, fora conservadores", afirma uma legenda no final da faixa.

    A canção, lançada na sexta-feira, está sendo promovida por uma organização chamada Assembleia Popular Contra a Austeridade, que se opõe aos cortes nos gastos públicos e está doando o dinheiro arrecadado com as vendas da canção a organizações que doam alimentos a pessoas carentes.

    O grupo vem expondo em vídeo as estações de rádio que se recusam a executar a canção, e muitas pessoas criaram petições para exigir que ela seja executada.

    REGRAS POLÍTICAS

    A Radio 1, uma das estações de rádio da BBC, informou em comunicado que não executaria a canção em função de regras editoriais quanto a conteúdo político.

    "Não vetamos canções ou artistas, mas nossas normas editoriais requerem imparcialidade e o Reino Unido está em campanha eleitoral; por isso não tocaremos a canção", a rádio informou.

    Reportagens sugerem que outras estações de rádio de grande audiência, como a Heart e a Capital FM, também decidiram não tocar "Liar Liar GE2017".

    As regras britânicas quanto a conteúdo político no rádio e TV podem explicar a ausência da canção nas rádios. O site do Ofcom, o departamento britânico de regulamentação de telecomunicações, aponta que "a proibição a propaganda política na TV e rádio britânicos está em vigor há muito tempo".

    A lei britânica também dispõe que partidos políticos não podem adquirir tempo publicitário para veicular anúncios, e devem usar apenas o horário político obrigatório que os veículos lhes fornecem gratuitamente.

    Apesar dessas regras, a música em muitas ocasiões tomou por alvo a elite política. Margaret Thatcher, primeira-ministra conservadora que governou o Reino Unido de 1979 a 1990, foi alvo da canção "Stand Down Margaret", da banda Beat.

    Em 1977, a irônica "God Save the Queen", do Sex Pistols, se tornou uma das canções mais populares do Reino Unido, no 25º aniversário da coroação da rainha Elizabeth 2ª, mas sua execução foi proibida na BBC e há boatos de que ela foi impedida de chegar ao primeiro posto na parada oficial de sucessos do país por conta de seu conteúdo político.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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