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    Governo Trump

    Análise

    Com saída de acordo, Trump reduziu os EUA a uma Nicarágua

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    01/06/2017 19h38

    Donald Trump fez toda a sua campanha usando um boné com a inscrição "Make America great again".

    Nesta quinta-feira (1), ao anunciar a saída do Acordo de Paris sobre mudança climática, jogou o boné fora porque os Estados Unidos passam a fazer companhia apenas à Nicarágua e à Síria, os dois únicos outros países que não assinaram o protocolo.

    Mike Theiler/Xinhua
    O presidente dos EUA, Donald Trump, anuncia a saída do país do Acordo de Paris nesta quinta-feira
    O presidente dos EUA, Donald Trump, anuncia a saída do país do Acordo de Paris nesta quinta-feira

    Ou, posto de outra forma, apequenou os EUA, reduzindo-o ao tamanho de uma paupérrima Nicarágua ou de uma devastada Síria.

    É um tremendo retrocesso, para os próprios Estados Unidos, mas também para o mundo.

    Convém, entretanto, ser menos apocalípticos na análise do que pode acontecer agora, seja com o Acordo de Paris seja com o combate à mudança climática.

    Diz, por exemplo, Brian Deese, que assessorou Barack Obama em assuntos como o clima: "O acordo em si sobreviverá. Os negociadores o desenharam para suportar choques políticos. E as forças econômicas, tecnológicas e políticas que deram origem a ele estão se tornado ainda mais fortes".

    Reforça o próprio Obama: "O setor privado já escolheu um futuro de baixo carvão. [...] Estou confiante em que nossos Estados, cidades e empresas farão ainda mais para liderar o caminho e ajudar a proteger para as futuras gerações o único planeta que temos".

    Se, nos Estados Unidos, há essa relativa sensação de que uma catástrofe pode ser evitada, no conjunto do Acordo de Paris há idêntica impressão.

    Hannah Waters (Audubon Society, voltada para a conservação da natureza), tuitou, mesmo antes do anúncio de Trump: o acordo, hoje, inclui países que respondem por cerca de 65% das emissões de gases poluentes; quando foi ratificado, representavam apenas 55%, incluindo os EUA.

    Confirma, pois, o que escreveu Deese: a coalizão pró-acordo cresce e se fortalece.

    É claro que haverá problemas e dificuldades. Como disse um porta-voz do Kremlin, que quase nunca critica qualquer coisa que Trump faça, o pacto de Paris será "menos eficaz sem participantes-chaves".

    De qualquer forma, o estrago maior será para o próprio Trump, o que já poderá se comprovar no mês que vem, durante a reunião de cúpula do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo: se, no recente G7, já houve uma divisão seis contra um (Trump), no G20 a tendência é dar 19 a 1 (sempre Trump), já que todos os demais países se mantêm no Acordo de Paris.

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