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    Guerra dos Seis Dias ainda frustra palestinos

    DANIELA KRESCH
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM JERUSALÉM

    05/06/2017 02h00

    Israeli Government Press Office/Reuters
    Guerra dos Seis Dias: israelenses entram em Jerusalém leste, em junho de 1967. [FSP-Mundo-05.06.97] An undated file photograph from the 1967 Six Day War shows Israeli troops as they enter the Old City of Jerusalem in an Armored personnel carrier and make their way to the Dome of the Rock, one of the holiest sites in the Moslem world. Israel celebrates June 4 the 30th anniversary of its capture of East Jerusalem. As Israel strengthened security in Jerusalem June 4 on "Jerusalem Day," Prime Minister Netanyahu told the Knesset [Parliament] that "Jerusalem will remain united and whole under Israeli sovereignty for eternity." jwh/Photo by Israeli Government Press Office REUTERS
    Militares israelenses ocupam a Cidade Velha de Jerusalém em 1967; ao fundo, o Domo da Rocha, sagrado para o islã

    A "Naksa" (revés, em árabe). Para os palestinos, esse é o nome da chamada Guerra dos Seis Dias, que completa 50 anos nesta segunda (5). Longe da narrativa israelense de vitória e euforia, o conflito foi, na ótica palestina, uma derrota aguda e humilhante, início de meio século de ocupação e controle militar das terras que almejam como Estado independente.

    Por todo esse tempo, tentativas fracassadas de acordos de paz e a violência marcaram o relacionamento entre os dois lados. Houve duas "intifadas" (revoltas generalizadas contra Israel) e inúmeros ciclos de brutais atentados palestinos contra civis e militares israelenses permeados por respostas truculentas do Exército de Israel.

    Para muitos, uma terceira intifada está prestes a estourar, com o potencial de levar a região a mais uma rodada de derramamento de sangue. A nova revolta contaria com participação do grupo radical Hamas, que controla a faixa de Gaza há uma década e, desde então, já se engajou três vezes em confrontos com Israel (2008, 2012 e 2014).

    A influência do Hamas na Cisjordânia é inversamente proporcional à popularidade do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, no cargo desde 2005, mas que não consegue criar um Estado por meio da diplomacia internacional.

    Em 2012, por exemplo, ele conseguiu que a Assembleia Geral da ONU admitisse a Palestina como "Estado-observador não-membro". Hoje, 136 países no mundo -incluindo o Brasil - reconhecem a Palestina. Mas trata-se de algo simbólico.

    "Abbas atua por esforços diplomáticos, mas suas conquistas são mínimas. Sem pressão interna, nas ruas, nada vai acontecer. Uma nova revolta está prestes a ocorrer. Os palestinos deveriam usar todos os meios para pressionar Israel, dentro da lei internacional", diz Sair Zeedani, professor de Filosofia da Universidade Al Quds.

    Em 10 de junho de 1967, ao fim de menos de uma semana de combates com as forças de Egito, Jordânia e Síria, Israel triplicou seu território, tomando o controle de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia (da Jordânia); da Faixa de Gaza e do deserto do Sinai (do Egito); e das Colinas de Golã (da Síria). O mapa regional foi redesenhado, com cerca de 1 milhão de árabes sob controle israelense. Algo em torno de 380 mil fugiram ou foram expulsos.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Como foram os seis dias de guerra em 1967
    Como foram os seis dias de guerra em 1967

    Após a guerra, Israel deixou que voltassem, mas só cerca de 15 mil aceitaram. Quando anexou Jerusalém Oriental, ofereceu um documento de identidade a quem ficou, mas a maioria não quis.

    Dos 300 mil palestinos em Jerusalém, hoje, só 12% têm esse documento, mas não são considerados cidadãos, apenas "residentes permanentes". Têm direito a morar e trabalhar em Israel, a plano de saúde e educação gratuitos. Mas não podem votar para o Knesset (o Parlamento) nem têm passaporte.

    Paralelamente, foram criadas mais de 200 colônias israelenses nos territórios apossados —o que, para a ONU, infringe a Convenção de Genebra. Hoje, mais de 500 mil israelenses moram nesses assentamentos, considerados por palestinos como o maior entrave à paz.

    "Embora a comunidade internacional tenha saudado a solução de dois Estados, tornou-se claro que a fragmentação de territórios palestinos ao longo dos últimos 50 anos tem como objetivo tornar impossível um Estado palestino soberano", diz Amal Ahmad, da ONG Al-Shabaka.

    Em 1987, explodiu a 1ª Intifada. Seis anos depois, em 1993, com os Acordos de Oslo, firmados pelo ex-premiê israelense Yitzhak Rabin (1922-1995) e o ex-líder palestino Yasser Arafat (1929-2004), parecia que os anos de discórdia acabariam. Foi criada a Autoridade Palestina, entidade temporária até a criação de um Estado.

    Mas o assassinato de Rabin por um extremista judeu, em 1995, e uma nova onda de ataques palestinos levaram a uma nova Intifada, em 2000.

    Para a palestina cristã Noura Kurt, 73, fundadora de um Cento Cultural na Cidade Velha de Jerusalém, o tratamento israelense é insuportável. "Minha família está aqui desde a época de Jesus. Mas, em 1967, me tornei uma alienígena na cidade onde nasci. Quer dizer: não sou cidadã. Não tenho passaporte. Sou tratada como um vírus no aeroporto. Sou desprovida de meus direitos humanos mais básicos", diz Noura. "O que aconteceu em 1967 foi uma "nakba", uma catástrofe".

    No entanto, para o historiador e bibliotecário Khader Salameh, cuja família fugiu da aldeia natal em 1967, o conflito deveria ser visto de outra forma. "Nós, como palestinos, não usamos nossas cabeças. Temos que, antes de nos revoltar, construir nossa sociedade, nos educar. Sei que há ocupação. Mas por que fazer revolução, se podemos aprender? No mundo, sempre houve conquistas. É a vida. É a História".

    Guerra dos Seis Dias

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