• Mundo

    Wednesday, 01-May-2024 03:57:24 -03

    Site jornalístico americano falha, expõe informante da NSA e a culpa

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    08/06/2017 02h00

    A prisão de uma fonte do site "The Intercept", na segunda-feira, fez tremer o jornalismo americano. "Catástrofe" foi a expressão recorrente para descrever o efeito que ela poderá ter sobre outros "whistle-blowers", vazadores de informação de interesse público.

    De um lado, porque sinaliza que a perseguição aos vazamentos e aos jornalistas, que marcou o governo Barack Obama, prossegue e talvez se intensifique. De outro, motivo maior para o calafrio com a prisão, porque o jornalismo se mostrou incapaz de proteger o anonimato de uma fonte especialmente visada.

    AFP
    A ex-prestadora de serviços da NSA Reality Winner foi a informante do site americano The Intercept
    A ex-prestadora de serviços da NSA Reality Winner foi a informante do site americano The Intercept

    No tuíte ameaçador de Corey Lewandowski, que foi chefe da campanha de Donald Trump, sobre o episódio: "Se você vazar, você será pego!". Ao fundo da mensagem, a fotografia do prédio negro da Agência Nacional de Segurança (NSA).

    Reality Winner, que trabalha para a NSA, motivou piadas oportunistas contra Trump nos "talk shows" de terça, por causa de seu nome, "vencedora da realidade". Mas o indiciamento e a perspectiva de anos na prisão, como Chelsea Manning, não têm nada de cômico, para uma jovem de 25.

    Outros repórteres que trabalham com vazadores foram os mais revoltados com o tombo do "Intercept", tido como incompreensível. O site, criado por Glenn Greenwald depois de suas reportagens premiadas com Edward Snowden, tem especialistas em segurança de vazamento.

    Eles não foram ouvidos e o site teria falhado duas vezes seguidas: levou para avaliação do governo documentos que continham registros de sua origem —a impressora em que foram copiados— e informou depois ao governo que teriam sido enviados de uma determinada região.

    Com isso, teria dado o ponto de partida para a identificação de Reality Winner, segundo o próprio processo de indiciamento.

    A resposta do "Intercept" foi lançar dúvidas sobre o que o indiciamento diz, sem negar nem sequer comentar as suas próprias falhas.

    Fez pior, na verdade: Greenwald e Jeremy Scahill, outro fundador do "Intercept", não se pronunciaram diretamente, mas remeteram os leitores para uma análise de mídia que joga quase toda a responsabilidade sobre Winner, por não ter tomado as precauções exigidas.

    A começar do maior crítico do "Intercept" no caso, o repórter investigativo Barton Gellman, mas avançando sobre acadêmicos e até técnicos do Google, a mídia está tentando tirar algo de bom da "catástrofe", popularizando procedimentos de segurança para o futuro.

    Edward Snowden, que também trabalhava para a NSA quando revelou os escândalos da espionagem eletrônica americana para Greenwald ("Guardian") e o mesmo Gellman ("Washington Post") em 2013, tratou de lembrar agora que não se pode jogar o jornalismo fora por causa de um erro.

    "Quando você for chamado a escolher entre governo sem jornais ou jornais sem governo, lembre suas aulas de história", argumentou o vazador, remetendo a Thomas Jefferson —que preferia jornais sem governo.

    Hoje presidente da Freedom of the Press Foundation, Snowden esperava celebrar de outra maneira o quarto aniversário das suas revelações, que coincidiu com o dia da prisão de Winner.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024