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    Reino Unido escolhe novo Parlamento, em 'plebiscito' para Theresa May

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

    08/06/2017 02h27

    Quando a primeira-ministra britânica, Theresa May, convocou as eleições gerais desta quinta (8) ela tinha uma visão otimista de futuro.

    O Partido Conservador ampliaria sua maioria no Parlamento e, assim, sairia mais robusto do pleito para negociar os termos da retirada do país da União Europeia, apelidada de "brexit".

    Marko Djurica/Reuters
    Cartazes em loja de apostas mostram a primeira-ministra, Theresa May, e o trabalhista Jeremy Corbyn
    Cartazes em loja de apostas mostram a primeira-ministra, Theresa May, e o trabalhista Jeremy Corbyn

    A realidade, no entanto, lhe atingiu como uma esquete surreal dos comediantes britânicos do Monty Python.

    A vantagem de May em relação ao Partido Trabalhista, seu rival, era de 24 pontos percentuais em 18 de abril, quando anunciou as eleições antecipadas, segundo uma pesquisa da YouGov. A mesma firma prevê agora margem de quatro pontos.

    Com 42% das intenções de voto, o Partido Conservador pode perder 28 assentos, indo dos 330 atuais para 302 —ou seja, May sairia das eleições mais fraca do que antes.

    PARLAMENTO HOJE - Número de cadeiras por partido

    PESQUISA - Intenção de voto para a eleição de hoje*

    Os trabalhistas, por sua vez, podem ter 38% dos votos e 269 assentos. As cadeiras são decididas por distrito e não correspondem ao percentual da votação geral, por isso as pesquisas nacionais podem, às vezes, ser ilusórias.

    A sondagem foi divulgada nesta quarta (7), com a entrevista de 8.664 pessoas no dia anterior. Sua margem de erro não é informada. Há uma variação ampla ente as pesquisas: no mesmo dia, levantamento do ICM previu uma vitória de May por 12 pontos.

    PLATAFORMAS

    May quis antecipar as eleições para reforçar seu mandato para o "brexit", tema ao qual ela dedicou as últimas horas de sua campanha.

    Ela defende que a saída britânica seja completa, o que é conhecido como "brexit duro". O Reino Unido deixaria, por exemplo, o mercado único europeu. Os trabalhistas, por outro lado, preferem ficar nesse mercado.

    Mas os dois meses de campanha foram o bastante para outros temas tomarem o debate, diz à Folha Alex De Ruyter, diretor do Centro de Estudos de Brexit da Universidade Birmingham City.

    "Os eleitores quiseram conhecer a visão dela sobre outros assuntos, como educação, saúde e segurança."

    Os trabalhistas têm propostas atraentes aos jovens nessas áreas, como fazer com que as universidades voltem a ser gratuitas.

    Já os conservadores provavelmente perderam votos sugerindo trocar os almoços gratuitos dados a crianças na escola por cafés da manhã.

    Na área da saúde, uma das prioridades dos eleitores, trabalhistas prometem investimento extra de R$ 127 bilhões. Os conservadores oferecem uma soma menor: R$ 34 bilhões nestes cinco anos, que dizem ser mais viável.

    Outra questão fundamental é a migração. Ambos os partidos concordam que é necessário reduzi-la, mas os conservadores têm metas mais duras, em um aceno a quem votou pelo "brexit".

    Apesar da afluência de pesquisas eleitorais, todas elas concordando com a vitória do Partido Conservador, ainda há margem para surpresas.

    Um dos fatores decisivos será a participação dos jovens, favorecendo o Partido Trabalhista —o voto no país não é obrigatório.

    A idade, mais do que a classe social, é a principal linha divisória entre os eleitores. Os trabalhistas têm vantagem de 19 pontos percentuais na população entre 18 e 24 anos, segundo o YouGov. Os conservadores lideram com 49 pontos entre as pessoas acima de 65 anos.

    A chave é o quanto dessas fatias de fato votará. Em 2015, apenas 43% dos jovens foram às urnas, comparados aos 78% de mais de 65 anos.

    "Não votamos o bastante, e isso me preocupa", diz Jo Goodman, presidente do conselho de estudantes na Birmingham City. "Se não participamos, o governo pode achar que não precisa considerar nossas reivindicações."

    Goodman fez campanha para que os alunos se inscrevessem para votar. Ela justifica a predileção pelos trabalhistas devido a uma plataforma que, diz, "se importa mais com a justiça social".

    O argumento funciona principalmente em relação a temas como o sistema de saúde e a educação. Há muitas propostas que nos convencem", afirma Goodman.

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