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    Com ataque a mausoléu, terroristas atingem identidade política do Irã

    AMANDA ERICKSON
    DO "WASHINGTON POST"

    08/06/2017 07h00

    Terroristas da milícia terrorista Estado Islâmico atacaram dois locais de grande importância no Irã na quarta-feira (7), matando pelo menos 12 pessoas e deixando dezenas de feridos. Um dos ataques foi contra o Parlamento iraniano.

    O outro teve como alvo um dos lugares mais venerados do Irã: o mausoléu sagrado do aiatolá Ruhollah Khomeini, considerado uma das maiores obras arquitetônicas da República Islâmica.

    TIMA - 4.jun.2017/Reuters
    Mausoléu do fundador da Revolução Islâmica, aiatolá Ruhollah Khomeini, no aniversário de sua morte no dia 4
    Mausoléu do fundador da Revolução Islâmica, aiatolá Khomeini, no aniversário de sua morte no dia 4

    O grande complexo do mausoléu é "um testemunho espiritual e político da Revolução Islâmica de 1979". Um ataque ao mausoléu seria comparável a um ataque ao Túmulo dos Desconhecidos, nos EUA: é uma agressão à identidade política nacional e a um dos monumentos iranianos mais importantes em homenagem ao islamismo xiita.

    Como Marc Martinez, analista sênior e especialista no Irã do Instituto Delma, nos Emirados Árabes Unidos, explicou a um colega meu, o ataque desta quarta-feira é uma agressão à própria Revolução Islâmica. Para ele, a escolha desse alvo pode acabar reforçando o forte sentimento nacionalista iraniano.

    A importância do mausoléu se deve em grande parte ao próprio aiatolá Khomeini. Na década de 1960, Khomeini foi um dos maiores adversários do xá e do Ocidente. Ele foi preso e exilado na Turquia, mas retornou após a queda do governo do xá, em janeiro de 1979.

    Khomeini foi eleito líder vitalício, com uma vitória arrasadora nas urnas, e fez seu primeiro discurso público no local do mausoléu, que ficara fortemente associado aos adversários do regime do xá. Muitas das pessoas mortas nos protestos de 1978 contra o xá estão sepultadas no mausoléu.

    Foi Khomeini quem declarou o Irã uma república islâmica, introduzindo a lei islâmica no país e denunciando os Estados Unidos.

    Quando ele morreu, em 4 de junho de 1989, a construção do mausoléu começou para valer. Em seu enterro caótico, 10 milhões de seguidores impediram várias vezes a passagem do caixão em direção ao cemitério.

    A multidão acabou agarrando o féretro e começou a passá-lo por cima das cabeças das pessoas. Quando o corpo do aiatolá caiu do caixão, as pessoas tentavam arrancar pedaços de sua mortalha para guardar como relíquias sagradas.

    O mausoléu é enorme. O complexo inclui um pátio gigantesco e várias estruturas, além de um cemitério. Mais de 12 mil tapetes cobrem os pisos.

    O túmulo de Khomeini é coberto por uma "zarih" de aço inoxidável —uma estrutura gradeada, através da qual o público pode prestar seus respeitos. Em algum momento futuro o teto será enfeitado por milhares de espelhos.

    Quase todos os detalhes arquitetônicos são carregados de simbolismo. Duas torres de 90 metros de altura ladeiam o mausoléu. O enorme domo central é dourado, adornado com 72 tulipas, simbolizando os 72 mártires que combateram em Karbala no ano 680, um momento crucial na formação do xiismo.

    Também estão no mausoléu os restos mortais de muitos dos soldados mortos na guerra entre Irã e Iraque. A esposa do aiatolá foi sepultada no mausoléu, além de várias figuras políticas notáveis. Em 2017 o ex-presidente iraniano Akbar Rafsanjani foi enterrado no local.

    O mausoléu recebe grande número de visitantes, especialmente durante o Ramadã. No dia 4 de junho, centenas de milhares de visitantes vão ao mausoléu para lembrar o aniversário da morte de Khomeini. No mês seguinte ao Ramadã, o Muharram, as fontes que cercam o mausoléu são tingidas de vermelho.

    Tradução de CLARA ALLAIN

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