O Bank of America e a empresa de aviação Delta anunciaram a retirada de seu apoio financeiro ao Public Theater, em Nova York, por causa de uma montagem de "Júlio César" em que o personagem-título remete ao presidente dos EUA, Donald Trump.

Na tragédia shakespearina, baseada no relato de Plutarco, o político romano está perto de tomar o poder e acabar com a Republica quando é morto no terceiro ato, na metade da apresentação. O protagonista, na verdade, é Brutus, um de seus assassinos.

A cena levou a uma campanha on-line de grupos pró-Trump, estimulada por Fox News e "Breibart", entre outros veículos. Um dos filhos do presidente americano, Donald Trump Jr., questionou o espetáculo em mídia social.

A peça estreia na noite desta segunda (12) no teatro Delacorte, no Central Park, onde acontece o tradicional festival de verão Shakespeare in the Park.

O banco se justificou em nota: "O Bank of America apoia programas de artes ao redor do mundo, inclusive uma parceria de 11 anos com o Public. O teatro decidiu apresentar 'Júlio César' de forma que visa provocar e ofender."

A empresa aérea também se justificou: "A encenação violenta de 'Júlio César' no Shakespeare in the Park não reflete os valores da Delta. Sua direção artística e criativa passou do limite nos padrões de bom gosto".

A Delta havia patrocinado uma outra encenação da tragédia em 2012, no teatro Guthrie, em Minneapolis (EUA), em que a caracterização do mesmo personagem remetia ao então presidente Barack Obama.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

O diretor do Public, Oskar Eustis, afirmou que "qualquer um que assista à nossa montagem de 'Júlio César' vai perceber que ela de maneira nenhuma advoga violência contra quem quer que seja".

Pelo contrário, diz Eustis, "pode ser lida como uma parábola de alerta, de que lutar contra o tirano não significa imitá-lo". O Public é o produtor original de diversos musicais de sucesso na Broadway, como "Hamilton".

Outros patrocinadores, como a corporação Time Warner e o jornal "The New York Times", seguem apoiando financeiramente o teatro.

Do "NYT", em nota: "Apoiamos o Shakespeare in the Park há 20 anos. Como instituição que acredita na liberdade de expressão para as artes assim como para a mídia, apoiamos o direito do Public de encenar a produção como eles quiserem".