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    Governo Trump

    Secretário de Justiça de Trump nega acusação de conluio com russos

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    13/06/2017 16h41 - Atualizado às 20h40

    Susan Walsh - 6.mar.2017/Associated Press
    FILE - In this March 6, 2017 file photo, Attorney General Jeff Sessions waits to make a statement at the U.S. Customs and Border Protection office in Washington. Sessions is seeking the resignations of 46 United States attorneys who were appointed during the prior presidential administration, the Justice Department said Friday, March 10, 2017. (AP Photo/Susan Walsh, File) ORG XMIT: WX106
    O secretário de Estado dos EUA, Jeff Sessions

    Ao atender o chamado do Comitê de Inteligência do Senado para depor, o secretário de Justiça dos Estados Unidos, Jeff Sessions, disse nesta terça-feira (13) que qualquer acusação de que ele tenha participado em um conluio com a Rússia para interferir nas eleições de 2016 é uma "mentira detestável".

    Assim como o FBI (polícia federal americana), o comitê também conduz uma investigação sobre possíveis conexões entre membros da equipe de campanha de Donald Trump e Moscou.

    "A sugestão de que eu participei de algum conluio, que eu sabia de algum conluio com o governo russo para prejudicar esse país (...) ou para minar a integridade do nosso processo democrático é uma mentira pavorosa e detestável", disse Sessions.

    O secretário, que foi senador pelo Alabama por 20 anos antes de assumir o posto, foi questionado várias vezes pelos ex-colegas sobre seu contato com o embaixador russo nos EUA, Sergei Kislyak, durante um evento de campanha de Trump no Hotel Mayflower, em Washington, em abril de 2016.

    Na última quinta (8), em uma sessão fechada do mesmo comitê, o ex-diretor do FBI James Comey revelou que Sessions e Kislyak tiveram uma conversa naquele dia –o contato não havia sido informado pelo Departamento de Justiça, que confirmara apenas dois outros encontros em 2016.

    Sessions primeiro afirmou que não teve nenhuma conversa privada naquele dia com o embaixador. Depois, disse que não se lembrava se eles teriam se falado em meio ao evento com "duas ou três dúzias de pessoas".

    "Certamente eu posso garantir a você que [não conversei sobre] nada impróprio, se eu conversei com ele", respondeu ao vice-presidente do comitê, o democrata Mark Warner.

    Em um momento de maior tensão na audiência, Sessions se irritou quando o democrata Ron Woden, do Kansas, pediu que ele esclarecesse uma declaração feita por Comey também na sessão fechada. O ex-diretor do FBI disse que o afastamento de Sessions da investigação do FBI sobre a Rússia envolvia questões "problemáticas".

    "Por que você não me diz? Não há nenhuma [questão problemática]. Essa é uma insinuação maldosa que está sendo vazada sobre mim e eu não gosto disso", disse o secretário.

    No início de março, Sessions anunciou que se afastaria da investigação do FBI sobre a Rússia justamente depois de o "Washington Post" revelar que ele havia se reunido por duas vezes com Kislyak.

    "Eu me recusei [a fazer parte da investigação] não por ter feito algo errado durante a campanha, mas porque as regras do Departamento de Justiça exigem", afirmou.

    COMEY E TRUMP

    Sentado na mesma cadeira em que Comey, na última quinta, disse que o secretário não havia respondido à sua preocupação sobre os encontros privados com Trump, Sessions afirmou que a conversa reservada entre o presidente e o diretor do FBI "por si só não é imprópria".

    "Mas não seria apropriado compartilhar informação [com Trump] sem revisão ou permissão [do Departamento de Justiça]", disse, numa sugestão de que Comey teria errado ao informar o presidente que ele não era alvo da investigação.

    Sessions também disse que o ex-diretor do FBI não teria informado a ele o conteúdo das conversas com Trump –na qual Comey diz que o presidente sugeriu que ele deixasse de lado a investigação sobre o ex-conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn. O ex-diretor diz ter entendido a frase de Trump como uma "orientação".

    Sessions afirmou não saber se o presidente tem gravado as conversas no Salão Oval ou na Casa Branca e se recusou a responder sobre o que teria falado com Trump sobre a demissão de Comey.

    O secretário de Justiça escreveu, a pedido do presidente, uma carta recomendando a saída do então diretor, em 9 de maio. Dias depois, contudo, o próprio Trump afirmou que já tinha tomado a decisão antes do parecer de Sessions.

    O depoimento ocorre ainda em um momento delicado entre o presidente e um de seus mais importantes aliados no governo. Funcionários, sob anonimato, informaram à ABC News e ao "Washington Post" que Sessions chegou a oferecer informalmente a Trump sua renúncia nas últimas semanas.

    As relações entre os dois teriam começado a se deteriorar depois que Sessions anunciou que se afastaria do comando das investigações sobre a Rússia.

    Na última semana, o presidente criticou publicamente o Departamento de Justiça por ter submetido à Suprema Corte um recurso em relação o segundo decreto prevendo o veto a cidadãos de seis países de maioria muçulmana –e não ao primeiro. Segundo Trump, o segundo texto é a "versão diluída e politicamente correta" da primeira ordem executiva.

    Considerado "linha-dura", Sessions, 70, foi visto como peça-chave pelo presidente na implementação de sua agenda de combate à imigração ilegal e no projeto de construção de um muro na fronteira com o México. Ele também tem posições parecidas com Trump sobre o combate às drogas e o tráfico de armas.

    CONSELHEIRO

    Antes da audiência de Sessions, o vice-secretário de Justiça, Rod Rosenstein, afirmou, em outra sessão no Senado, não ver razões e nem haver um "plano secreto" para demitir o conselheiro especial da investigação sobre a Rússia, o ex-diretor do FBI Robert Mueller. Rosenstein é a pessoa do Departamento de Justiça responsável pela investigação depois que Sessions se afastou dela.

    Na segunda (12), Christopher Ruddy, executivo-chefe da Newsmax Media e velho amigo de Trump, havia dito, à rede pública PBS após deixar a Casa Branca, que o presidente estava pensando em demitir Mueller.

    "Eu não vou seguir nenhuma ordem a não ser que eu considere que são ordens legítimas e apropriadas", disse Rosenstein, ao ser questionado sobre como procederia se recebesse um pedido de Trump para demitir Mueller.

    "Se houver uma boa razão, eu considerarei. Se não houver, para mim não importa o que digam."

    Mueller foi apontado por Rosenstein no dia 17 de maio, e Trump só ficou sabendo da decisão pouco antes do anúncio à imprensa. O Departamento de Justiça é independente da Casa Branca para tomar decisões relacionadas a investigações.

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