• Mundo

    Thursday, 02-May-2024 19:27:44 -03

    Farc devem concluir nesta terça-feira entrega de armas à ONU

    DIEGO ZERBATO
    DE SÃO PAULO

    20/06/2017 02h04

    As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) deverão concluir nesta terça-feira (20) a entrega de suas armas à missão da ONU na Colômbia, selando o fim do conflito armado no país.

    Porém, tanto a guerrilha quanto o governo de Juan Manuel Santos tiveram provas de que não será fácil manter o acordo de paz como planejado nas conversas realizadas em Havana, Cuba.

    Em 7 de maio passado, o Tribunal Constitucional (Suprema Corte) deu aval ao Congresso para mudar as leis que regem os pontos do acordo sem a permissão do Executivo, como era feito até então.

    Embora Santos tenha maioria no Congresso, a sentença ajudará seus rivais, liderados por seu ex-aliado e antecessor no cargo, Álvaro Uribe, a protelar a tramitação dos projetos de lei.

    Os primeiros resultados da sentença foram vistos na medida que transforma as Farc em partido. A aprovação das dez cadeiras no Legislativo e do fundo partidário da guerrilha levou três semanas.

    Emperrou também a reforma agrária. O Centro Democrático, partido de Uribe, quer incluir um aditivo para assegurar a posse das terras tomadas por empresários na região do conflito.

    Os dois casos mostram que a oposição tentará levar a discussão o mais perto possível da campanha para as eleições parlamentares e presidenciais de 2018.

    Para Carolina Jiménez, professora de ciência política da Universidade Nacional da Colômbia, a ação da oposição era esperada, já que eles representam os "setores da economia".

    "Eles [empresários] teriam problemas, inclusive na reparação por restituição das terras, porque muitos dos senhores da guerra concentraram e se apropriaram das terras por deslocamento forçado", afirma Jiménez.

    ELEITORAL

    A diretora do Programa de Investigação do Conflito Armado e Construção da Paz da Universidad de Los Andes (Bogotá), Angelika Rettberg, avalia que a atuação de Uribe tem fim eleitoral.

    Ela relembra que os primeiros contatos que levaram à paz foram feitos pela administração passada. "Acho que há mais continuidade do que Uribe e seus partidários estariam dispostos a reconhecer."

    A oposição usa a seu favor a impopularidade de Santos, cuja aprovação atingiu 26% em maio, segundo o instituto Gallup, e a resistência da população em relação ao acordo selado em Havana.

    Entre os consultados na pesquisa, 57% consideram que a implantação do acordo de paz segue um mau caminho e 51% dizem que a guerrilha não vai cumpri-lo.

    Embora não tenha sido atribuído às Farc, o atentado do sábado (17) contra um shopping de Bogotá, que deixou três mortos, deve aumentar a rejeição a negociações futuras, como a do ELN (Exército de Libertação Nacional).

    John Restrepo, professor da Universidade de Medellín, considera que o passado recente da guerrilha ainda influencia a opinião pública.

    "A imagem que ficou nos últimos anos é de que as Farc são um grupo de traficantes e que a saída para o conflito deveria ter sido militar."

    Angelika Rettberg afirma que a resistência popular também é um dos motivos para que a Justiça e o Congresso tenham brigado por mais influência no acordo.

    O problema começou com a vitória do "não" no referendo de outubro sobre o acordo de paz. "Sempre vai existir o argumento de que o texto não foi aprovado pela maioria", afirma Rettberg.

    Ela considera, porém, que as barreiras ao acordo são mais saudáveis que preocupantes. "Isso mostra que existe separação de poderes e que toda essa discussão acontece nos canais institucionais."

    Editoria de Arte/Folhapress
    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024