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    EUA cobram 'pressão muito maior' da China sobre Coreia do Norte

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    21/06/2017 19h05

    O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, cobrou dos mais altos representantes da diplomacia e da defesa chinesas, em reunião nesta quarta (21) em Washington, que Pequim exerça uma "pressão muito maior" sobre a Coreia do Norte para conter seu programa nuclear e os testes com mísseis.

    Segundo Tillerson, as duas partes tiveram uma conversa "aberta e franca" no encontro no Departamento de Estado -o primeiro do diálogo de alto nível sobre diplomacia e segurança acordado entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping em abril.

    Paul J. Richards/AFP
    US Secretary of Defense Jim Mattis(L) and US Secretary of State Rex Tillerson conduct a two question press conference after meeting with Chinese State Councilor Yang Jiechi, and Chief of the People's Liberation Army Joint Staff Department General Fang Fenghui as the two countries start the US-China Diplomatic and Security Dialogue June 21, 2017, at the US Department of State in Washington, DC. / AFP PHOTO / PAUL J. RICHARDS ORG XMIT: PJR064
    Secretário de Defesa dos EUA, Jim Mattis (esq.), e o secretário do Estado, Rex Tillerson, em entrevista

    "Reiteramos à China que ela tem uma responsabilidade diplomática de exercer uma pressão econômica e diplomática muito maior no regime [norte-coreano] se eles quiserem evitar uma escalada de tensão na região", disse Tillerson, ao lado do secretário de Defesa, Jim Mattis, que também participou da reunião. Do lado chinês, estiveram presentes o conselheiro de Estado, Yang Jiechi, e o chefe do Estado-Maior, o general Fang Fenghui.

    Horas antes do encontro, Trump escreveu em uma rede social que Pequim havia fracassado na pressão sobre Pyongyang, aliado chinês. "Mesmo que eu agradeça muito os esforços do presidente Xi e da China em ajudar com a Coreia do Norte, não tem funcionado. Pelo menos sei que a China tentou", afirmou.

    Tillerson disse que os EUA esperam que Pequim faça a sua parte de não contribuir com as "empresas criminosas que financiam o programa de armas nucleares" norte-coreano. "A China entende que os EUA reconhecem na Coreia Norte a nossa maior ameaça de segurança."

    O secretário americano, no entanto, afirmou que os dois países defendem uma "desnuclearização completa, verificável e irreversível da península coreana".

    Trump já deixou claro que a pressão chinesa sobre Pyongyang é a peça fundamental da relação entre os dois países sob o seu governo.

    Para Shen Dingli, professor da Fudan University, em Xangai, o atrelamento da relação bilateral a um tema tão sensível é perigoso. "Para os EUA faz sentido, por que a China é a única esperança de sobrevivência da Coreia do Norte. Para a China, não faz, já que é contra sanções", diz. "Por isso outros diálogos sobre Pyongyang falharam no passado e continuarão a fracassar."

    PRESSÃO ECONÔMICA

    No campo comercial, contudo, o governo Trump parece ter trabalhado separadamente. Apesar de o republicano ter prometido, durante a campanha, que declararia a China como manipuladora cambial, ele não só deixou de lado a ameaça como assinou, em abril, um acordo para aproximar o comércio.

    Na última semana, o Departamento de Agricultura anunciou ter finalizado um acordo para permitir importação de carne bovina dos EUA pela China e os dois países assinaram um memorando para promover laticínios americanos no país asiático. Os EUA também propuseram flexibilizar as regras para permitir a compra de carne de frango da China.

    Shen afirma que a relação comercial entre os dois países tem muito mais chances de progredir do que o diálogo de segurança, por ser um tema "muito menos sensível" e que "não um envolve um terceiro país".

    O diálogo ocorre ainda dois dias após a morte do estudante Otto Warmbier, que ficou quase um ano e meio preso na Coreia do Norte por tentar roubar um cartaz de propaganda no país. O jovem de 22 anos retornou aos EUA na última semana, em coma -situação em que ele estaria desde pouco depois do julgamento, em março de 2016.

    Na terça (20), Trump classificou como uma "desgraça" o que ocorreu com o estudante, e disse que se ele tivesse voltado antes aos EUA -numa crítica ao antecessor, Barack Obama- o "resultado teria sido muito diferente".

    Questionado se o governo Trump estava próximo de conseguir trazer de volta outros três cidadãos americanos presos pelo regime norte-coreano, Tillerson disse apenas que a diplomacia americana continua com os esforços nesse sentido.

    MAR DO SUL DA CHINA

    Outro ponto onde a conversa foi "franca", segundo os secretários americanos, foi sobre disputas territoriais entre países asiáticos aliados dos EUA e Pequim no mar do Sul da China.

    "Fomos claros que a posição dos EUA permanece a mesma: nos opomos a mudanças no status quo pela militarização do mar do Sul da China e excessivas reivindicações marítimas não apoiadas pelas leis internacional", afirmou Tillerson.

    Mattis disse ter informado os chineses que, mesmo mantendo o diálogo aberto sobre o tema, os "EUA continuarão voando, navegando e operando onde a lei internacional permitir".

    Os representantes do regime chinês teriam se comprometido a resolver as disputas "de forma pacífica".

    Mattis e Tillerson disseram que o diálogo iniciado nesta quarta tem como meta tentar aumentar a confiança mútua para as próximas décadas.

    Eles, porém, também teriam dito aos chineses que os EUA "não vão se intimidar" de condenar violações de direitos humanos por parte de Pequim.

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