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    ANÁLISE

    Reino saudita fica mais imprevisível ao fazer de linha-dura o possível monarca

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    21/06/2017 22h06

    Kevin Lamarque/Reuters
    Trump se reúne com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, na Casa Branca
    Trump se reúne com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, na Casa Branca

    A Arábia Saudita, outrora um dos países previsíveis do Oriente Médio, mudou ainda mais esse perfil na quarta-feira (21), com a nomeação do jovem e ambicioso Mohammed bin Salman, 31, como príncipe herdeiro.

    Seus súditos foram surpreendidos de manhã pelas imagens do antigo herdeiro, Mohammed bin Nayef, 57, lhe jurando lealdade. Em reverência, Bin Salman se ajoelhou e beijou as mãos do primo cujo cargo ocupará.

    De linha-dura, MbS –como ele é apelidado, pelas iniciais do nome– será o rei com a eventual morte de seu pai, Salman, hoje com 81 anos. É uma má notícia para alguns de seus vizinhos.

    Bin Salman esteve por trás de violentas políticas na região, incluindo a guerra no Iêmen, o isolamento diplomático do Qatar e as ameaças ao Irã, um dos principais rivais da Arábia Saudita.

    Arábia Saudita e Irã disputam a influência no Oriente Médio e representam dois ramos distintos do islã. Sauditas são sunitas, o ramo majoritário. Iranianos são xiitas.

    Não ajuda o fato de que o príncipe herdeiro sugeriu, em entrevista no mês passado, que o Irã quer tomar o controle das cidades sagradas de Meca e Medina, localizadas na Arábia Saudita.

    Também no terreno internacional, Bin Salman promoveu a aproximação do país em relação aos EUA de Donald Trump, que visitou a monarquia em sua primeira viagem oficial, no mês passado. O príncipe herdeiro sinalizou ainda o seu interesse em aprofundar os laços com a Rússia. No conjunto, as políticas de Bin Salman indicam um Oriente Médio ainda mais volátil.

    Assim como é volátil o futuro em que Bin Salman deve reinar, caso de fato seja mantido como príncipe herdeiro. Entre intrigas palacianas, essa é a segunda mudança na linha sucessória nos últimos anos, desde a morte do rei Abdullah, em 2015.

    A Arábia Saudita depende de suas exportações de petróleo, drasticamente desvalorizado. O barril que valia US$ 100 em 2014 é negociado atualmente por menos de US$ 50, e pode chegar a valer US$ 20 no ano que
    vem.

    Nesse cenário, ao menos, Bin Salman parece ser uma boa aposta para a monarquia. Ele já vem implementando medidas para reduzir a dependência do petróleo, parcialmente privatizando a estatal Aramco.

    É também de alguma maneira positiva a mensagem enviada à juventude saudita, há tempos descontente com os anciões que têm governado o reinado.

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