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    Líder da Igreja Anglicana diz que instituição ocultou abuso de jovens

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    22/06/2017 10h14 - Atualizado às 14h49

    Alastair Grant - 13.fev.2017/Associated Press
    O líder da Igreja Anglicana Justin Welby
    O líder da Igreja Anglicana Justin Welby, em fevereiro deste ano

    Um líder da Igreja Anglicana disse nesta quinta-feira (22) que a instituição ocultou evidências do abuso de jovens praticado por um de seus bispos por duas décadas.

    A declaração de Justin Welby, arcebispo da Cantuária, foi feita após uma investigação independente criticar a igreja devido a sua atuação no caso do bispo Peter Ball, que teria sido encobertado.

    A liderança da Cantuária é o cargo mais alto na Igreja Anglicana abaixo do monarca. Welby classificou a leitura do relatório da comissão, com o título "Um Abuso da Fé", como algo "angustiante".

    "A igreja conspirou e escondeu, em vez de tentar ajudar aqueles que foram corajosos o bastante para fazer as denúncias", ele afirmou.

    "Esse é um comportamento indesculpável e chocante", afirmou, insistindo também em que o caso não é atual e, portanto, não significa que a instituição mantenha as práticas. "Não podemos ser complacentes, precisamos aprender as lições."

    Horas após suas declarações, foi revelado também que Welby escreveu a seu antecessor no cargo, George Carey, pedindo que deixasse o posto de assistente honorário devido às acusações.

    George Carey foi acusado de ter recebido sete cartas após a detenção de Ball em 1992, das quais repassou apenas uma à polícia. Seu comportamento foi descrito como uma tentativa deliberada de esconder o caso.

    Ele chegou a escrever ao irmão gêmeo do bispo, Michael Ball, dizendo acreditar que Peter era "basicamente inocente" das acusações.

    Carey também comentou o relatório desta quinta, afirmando que o texto lhe causou desconforto. "Peço desculpas às vítimas. Acreditei nele e dei pouco crédito aos homens e garotos vulneráveis por trás das acusações."

    CASO

    O bispo Peter Ball, hoje aos 85 anos, admitiu seu histórico de abuso de 18 jovens vulneráveis com de 17 a 25 anos entre 1977 e 1992.

    Eles lhe haviam procurado pedindo conselho espiritual e foram convencidos de que a prática sexual era uma outra forma de adoração. Alguns deles eram forçados a rezar sem a roupa. Uma das vítimas de Ball, Neil Todd, suicidou-se em 2012.

    Ball escapou dessas acusações em 1993, ao renunciar de seu posto em Gloucester, um processo no qual supostamente teve o apoio de figuras de alto escalão na igreja.

    Outra investigação foi iniciada em 2012, pela qual ele foi preso em outubro de 2015. Em fevereiro passado, Ball foi libertado após cumprir 16 meses, a metade da pena.

    O duro relatório condenando a instituição foi encomendado pelo próprio arcebispo da Cantuária, Welby. O trabalho foi chefiado por Moira Gibb por 18 meses.

    O texto publicado na quinta diz que a igreja tratou Ball como uma vítima, em vez de perpetrador, enquanto ofereceu pouca compaixão às vítimas.

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