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    Alegando uso por terroristas, Rússia pode bloquear Telegram

    IGOR GIELOW
    ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

    26/06/2017 12h32

    Dado Ruvic - 18.nov.2015/Reuters
    Usuários do aplicativo de mensagens instantâneas Telegram, que pode ser proibido na Rússia
    Usuários do aplicativo de mensagens instantâneas Telegram, que pode ser proibido na Rússia

    O governo russo ameaça bloquear o aplicativo de mensagens instantâneas Telegram, caso seus controladores não forneçam informações sobre conversas criptografadas de acusados de envolvimento de terrorismo.

    A ameaça foi feita pela agência reguladora de comunicação do país, a Rozkomnadzor, após o FSB (Serviço Federal de Segurança, principal agência sucessora da KGB soviética) divulgar que o homem-bomba que matou 15 pessoas em um ataque no metrô de São Petersburgo no dia 3 de abril usava o "chat secreto" do Telegram para falar com seus contatos extremistas na Ásia Central —ele poderia estar sob ordens da Al Qaeda ou do Estado Islâmico, mas isso não foi confirmado.

    "Os mais ativos membros de organizações terroristas internacionais no território russo usam o Telegram", afirmou o comunicado do FSB, que considera o grau de segurança do "chat secreto" bastante alto.

    Nesta segunda (26), o serviço de segurança prendeu em Odintsovo, cidade próxima de Moscou, um dos suspeitos de integrar a célula terrorista que atacou São Petersburgo. Abror Azimov estava armado, mas nega envolvimento com o atentado.

    A disputa entre a Rússia e o Telegram é longa, e lembra os embates de aplicativos similares, como o WhatsApp, no Brasil.

    Basicamente, as autoridades querem acesso ao conteúdo de conversas em casos criminais ou de segurança nacional. As empresas dizem ser tecnicamente impossível, até porque esse é o cerne da privacidade que vendem, e lembram que isso enseja violações constitucionais de sigilo.

    O fundador do Telegram, Pavel Durov, publicou nesta segunda-feira na rede social russa VKontakte uma declaração elevando esses motivos, e dizendo que já mandou bloquear 5.000 canais de suspeitos de divulgar informações úteis a terroristas no Telegram. Ele sustenta que "se você quiser derrotar o terrorismo bloqueando as coisas, terá de bloquear a internet".

    Durov tem longa história de conflito com o Estado russo. Criador da VKontatke, o "Facebook da Rússia", ele acabou afastado após dar declarações polêmicas e se negar a bloquear o perfil do blogueiro Alexei Navalni, o mais estridente líder de oposição ao governo de Vladimir Putin. Ele e o irmão deixaram a Rússia, compraram uma nacionalidade caribenha investindo US$ 250 mil nas ilhotas de São Cristóvão e Névis, e fundaram em Berlim o Telegram.

    O aplicativo sempre foi visto como tendo mais alto nível de segurança do que o mais conhecido WhatsApp, que elevou o grau de sua criptografia para tentar igualar-se à concorrência. No Brasil, policiais federais costumam usar o produto de origem russa.

    Para o governo russo, a segurança do país está em risco com a não divulgação das informações criptografaras, que as autoridades afirmam serem sim passíveis de revelação. A diferença com o caso brasileiro, no qual o WhatsApp costuma ser bloqueado por não informar dados de investigados criminalmente, é que o Judiciário não tomou parte da discussão na Rússia.

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