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    Condição para fim de embargo ao Qatar é irreal, diz embaixador

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    27/06/2017 02h00

    AFP
    Prédios na região central de Doha, a capital do Qatar
    Prédios na região central de Doha, a capital do Qatar

    O embaixador do Qatar no Brasil, Mohammed Hassan al-Hayki, afirma que o embargo imposto pela Arábia Saudita e outros três países árabes em 5 de junho fez com que famílias em seu país fossem separadas, empresas quebrassem e pacientes enfrentassem dificuldades para receber medicamentos.

    Para Al-Hayki, a Arábia Saudita é hipócrita ao justificar o embargo com a acusação de que o Qatar patrocina facções terroristas.

    "A Arábia Saudita apoia grupos terroristas desde sempre; dos 19 autores dos atentados do 11 de Setembro, 15 eram sauditas, dois eram dos Emirados Árabes, um, do Egito e um, do Líbano", disse o diplomata à Folha.

    A Arábia Saudita, os Emirados Árabes, o Egito e Bahrein cortaram relações diplomáticas com o Qatar dia 5.

    A Arábia Saudita, que serve de rota para 50% dos alimentos e remédios consumidos no Qatar, fechou a fronteira terrestre e proibiu aviões qatarianos de sobrevoar seu espaço aéreo. Cidadãos do país foram expulsos de Arábia Saudita, Emirados Árabes e Bahrein, e os nacionais desses países estão proibidos de ir ao Qatar.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Raio-X do Qatar
    Raio-X do Qatar

    O pequeno país do Golfo é o maior produtor de gás natural do mundo e será sede da Copa de 2022. Além disso, abriga a maior base militar americana no Oriente Médio.

    Na sexta-feira (24), os quatro países apresentaram uma lista de exigências para suspender o bloqueio.

    Entre elas, está o fechamento da rede de TV Al Jazeera, interrupção da construção de uma base militar turca no país, limitação das relações diplomáticas e comerciais com o Irã e a "suspensão do patrocínio a grupos terroristas" como Al Qaeda, Estado Islâmico e a milícia xiita libanesa Hizbullah.

    *

    Folha - Quais foram os efeitos do embargo?
    Mohammed al-Hayki - No começo foi difícil, pois 50% de nossas importações vêm pela Arábia Saudita, que fechou a fronteira de um dia para outro.
    Mas agora estamos usando outras rotas para driblar o bloqueio. Nós importávamos produtos lácteos dos sauditas e agora compramos da Turquia por um terço do preço.

    Também o bloqueio do espaço aéreo da Arábia Saudita aos voos da Qatar Airlines não foi um problema muito grande. Aumentou um pouco o gasto com combustível e o tempo de voo. Entre Doha e São Paulo, por exemplo passou de 14 para 16 horas.

    Mas o grande impacto é sobre a vida das pessoas.

    Há milhares de qatarianos casados com cidadãos de Arábia Saudita, Emirados Árabes, Bahrein, então milhares de famílias foram separadas. Milhares de sauditas trabalhando no Qatar tiveram de abandonar seus empregos

    Empresas enfrentam enormes dificuldades e algumas fecharam as portas porque não podem transferir dinheiro nem administrar seus negócios. Indivíduos de Bahrein que visitam parentes no Qatar podem pegar 15 anos de prisão. Demonstrar solidariedade ao Qatar nas redes sociais é crime em Bahrein e Emirados.

    Vocês pretendem cumprir as exigências feitas pelos países?
    O objetivo do embargo e dessas exigências é transformar o Qatar em um protetorado e confiscar sua política externa independente.

    O prazo dado para cumprir as exigências, de dez dias, é uma indicação das péssimas intenções desses países. Não há nenhum desejo sincero de negociação. Uma das imposições é fechar a rede de TV Al Jazeera, prova de que não têm nenhum respeito pela liberdade de expressão.

    O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, pediu que os países estabelecessem exigências razoáveis, factíveis, mas as imposições deles não são razoáveis. O bloqueio incluiu até remédios para pacientes com câncer e pessoas que fazem hemodiálise.

    Uma das exigências é romper com o Irã.
    Nós não vemos razões para hostilizar o Irã. Temos problemas com os iranianos, mas nós resolvemos as coisas negociando. Os Emirados Árabes são os segundo maior parceiro comercial do Irã, atrás da China –daí você vê a hipocrisia de exigir que o Qatar limite suas relações comerciais com o Irã.

    E a exigência de deixar de apoiar grupos terroristas?
    Esse pedido é absurdo. O Estado Islâmico e a Al Qaeda, embora sejam sunitas, estão em guerra um contra o outro. O Hizbullah é xiita e apoia o Irã e o governo sírio, e luta contra o EI e a Al Qaeda.

    Como é que podemos apoiar todos esses grupos que lutam entre si? Além disso, é hipocrisia. Todo mundo sabe que os sauditas vêm patrocinando o terrorismo desde sempre.

    Basta ver que, dos 19 autores dos atentados de 11 do Setembro, 15 eram sauditas, dois eram dos Emirados Árabes, um, do Egito e um, do Líbano.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Países que romperam relações com o Qatar
    Países que romperam relações com o Qatar
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