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    Temor do G20 é que Trump divida o grupo, afirma analista

    GUILHERME MAGALHÃES
    ENVIADO ESPECIAL A BONN (ALEMANHA)

    29/06/2017 02h00

    Às vésperas de sua 12ª cúpula, o G20 —grupo das 19 maiores economias do planeta e a União Europeia— encara o desafio de manter a união frente à primeira participação de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.

    "Trump tem questionado muitos dos consensos passados", disse à Folha Axel Berger, 36, analista-chefe do Grupo de Pesquisa de Políticas do G20 do Instituto Alemão de Política de Desenvolvimento. "Há medo de que outros países se somem a ele."

    Berger liderou o T20 (grupo de think tanks dos países-membros) durante a presidência do G20 pela Alemanha, que assumiu o posto após a cúpula de Hangzhou (China), em setembro de 2016, e sedia o encontro deste ano, nos dias 7 e 8 de julho, em Hamburgo.

    O Brasil não será representado pelo presidente Michel Temer, que desistiu de ir ao encontro depois da escalada da crise política.

    Fabian Bimmer - 26.jun.2017/Reuters
    Manifestantes protestam contra o G20 em frente à Prefeitura de Hamburgo, que recebe a cúpula do grupo em julho
    Manifestantes protestam contra o G20 em Hamburgo, que recebe a cúpula do grupo em julho

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    Qual a maior diferença entre a cúpula de Hangzhou e esta?
    A presidência chinesa adotou um plano de ação para a implementação da Agenda 2030 [diretrizes dos trabalhos da ONU rumo ao desenvolvimento sustentável], algo relevante. Em Hamburgo, temos ênfases diferentes, por exemplo em políticas de saúde, tema importante na agenda da chanceler [Angela] Merkel.

    Mas acho que a principal diferença é essa fragmentação dupla. Dentro da sala de negociação temos Trump, que tem questionado muitos dos consensos passados, a base do G20, como o G20 opera.

    A presidência alemã teve de investir muita energia para voltar à estaca zero e discutir essas questões de novo com Trump. O grande perigo não é terminarmos num cenário de 19 países contra um. Vimos essa dinâmica na cúpula do G7, onde seis países estavam juntos e disseram: "Nós reconhecemos os problemas causados pelas mudanças climáticas e precisamos fazer algo a respeito". Os EUA não estavam a bordo. Já o G20 é um grupo mais diverso, e há medo de que outros países possam se somar a Trump.

    Quais países?
    Depende do problema. Quando se fala em mudanças climáticas, a posição da Rússia é um pouco instável, a da Arábia Saudita também. Em relação ao comércio, provavelmente a Índia se juntará a Trump ao questionar o plano antiprotecionismo do G20. O medo é que Trump use uma dinâmica perigosa e tenhamos fragmentação no grupo.

    Outra grande diferença em relação à cúpula de Hangzhou, Antalya [2015, na Turquia] e São Petersburgo [2013, na Rússia]: podemos esperar grandes protestos contra o G20, protestos pacíficos mas também violentos. Porque a Alemanha é mais aberta do que China, Turquia ou Rússia.

    Por que o G20 atrai protestos?
    Várias razões. Temos um grande movimento antiglobalização e populista, que levou à eleição de Trump e contribuiu para o "brexit" [saída britânica da União Europeia]. E há pontos específicos. Na Alemanha, acho que algumas pessoas irão às ruas protestar contra Trump porque ele é Trump e porque ele representa uma face da América de que os alemães não gostam, capitalista e arrogante. Outros podem ir pedir mais ação contra as mudanças climáticas.

    Como o Brasil, em grave crise política e econômica, se posiciona no G20 hoje?
    Acho que o Brasil não tem sido muito ativo no G20, e isso pode ser explicado pelas questões domésticas.

    O sr. vê a Argentina, que será a próxima presidente do G20, tentando preencher o vácuo?
    O que é interessante na abordagem argentina é a iniciativa anunciada de unir os países latino-americanos, com México e Brasil, para formular uma posição regional no G20. Não sei quão unificado isso pode ser, mas é interessante porque a voz latino-americana no G20 em anos anteriores não foi alta. O debate foi dominado por países asiáticos ou da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento). Há chance de a Argentina colocar a América Latina no radar do G20.

    O G20 ainda é 'resolvedor de problemas' ou é parte deles?
    Ele tem o potencial de trazer soluções, e acho que está cumprindo esse papel. Se você olhar para o desafio que Trump impõe para a sociedade mundial, sem um fórum como esse teríamos menos possibilidades de trazê-lo para o diálogo. Claro, você pode fazer isso de forma bilateral, mas a dinâmica é diferente se você tem os chefes de Estado de 20 economias relevantes na mesa e eles argumentam que mudanças climáticas são um problema, por exemplo.

    Não devemos olhar só para o comunicado [final da cúpula], mas reconhecer a importância do G20 em avançar no tecido social entre líderes.

    O repórter viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.

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