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    EI retorna a raízes insurgentes e será risco de longo prazo, diz estudo

    ERIC SCHMITT
    DO "NEW YORK TIMES"

    30/06/2017 07h00

    A milícia radical Estado Islâmico lançou quase 1.500 ataques em 16 cidades do Iraque e da Síria desde que as cidades foram declaradas libertas do controle dos militantes nos últimos meses. É uma nova prova de que o grupo está voltando às suas raízes insurgentes e um indício de riscos de segurança de longo prazo pela frente.

    A informação foi compilada pelo Centro de Combate ao Terrorismo da academia militar de West Point, em um estudo levado a público nesta quinta-feira (29) e que avisa que quaisquer ganhos militares serão insuficientes se não for feito um esforço maior para restaurar a segurança, a governança e as economias dos territórios antes controlados pelo Estado Islâmico.

    Alkis Konstantinidis/Reuters
    Forças iraquianas disparam sobre posições do Estado Islâmico no oeste de Mossul, no Iraque
    Forças iraquianas disparam sobre posições do Estado Islâmico no oeste de Mossul, no Iraque

    "Expulsar o EI da posição de partido governante formal de um território não é o suficiente para eliminar a capacidade do grupo de promover violência contra indivíduos no Iraque e na Síria", diz o estudo de 20 páginas.

    Líderes diplomáticos e militares americanos dizem que um desafio ainda maior do que o de expulsar o EI de seu autodeclarado Estado religioso, ou califado, no leste da Síria e norte e oeste do Iraque pode muito bem vir a ser a difícil reconstrução política e econômica que precisa acontecer nos próximos anos.

    Para especialistas em contraterrorismo, o novo estudo ilumina uma tendência que vem emergindo há vários meses, enquanto forças terrestres apoiadas pelos EUA no Iraque e Síria revertem aos poucos os ganhos territoriais que o Estado Islâmico conquistou em 2014 e usou como a base de sua convocatória a muçulmanos de todo o mundo para virem filiar-se ao califado. Agora seus redutos de Mossul, no Iraque, e Raqqa, na Síria, sua capital declarada, estão cercados, e os líderes seniores da organização fugiram diante do avanço das forças opositoras.

    "O EI previu há mais de um ano que perderia seu governo", disse William McCants, membro sênior do Brookings Institution e autor de "The ISIS Apocalypse: The History, Strategy and Doomsday Vision of the Islamic State" (O apocalipse do EI: a história, estratégia e visão fatídica do Estado Islâmico). "Seus militantes estão dispostos a travar uma guerra nas sombras para reconquistá-lo."

    Os autores do estudo do Centro de Combate ao Terrorismo, Daniel Milton e Muhammad al-Ubaydi, dizem que quiseram traçar um quadro mais preciso dos desafios militares no Iraque e na Síria, especialmente as dificuldades de manter a segurança em cidades grandes e pequenas retomadas do Estado Islâmico.

    "Não obstante todas essas conotações positivas, a libertação de cidades no Iraque e Síria vem mostrando ter resultados mistos para a população que vive o que vem depois dela", diz o estudo. "Isso faz parte do desafio de governar, após a libertação, áreas onde a infraestrutura urbana foi destruída e ainda restam fatores de risco à segurança."

    O estudo cita o exemplo de Fallujah, libertada pelas forças iraquianas em junho de 2016. Muitos meses mais tarde, relatos da mídia noticiosa indicam que os moradores ainda enfrentam uma série de dificuldades, como construções destruídas, munições vivas do Estado Islâmico soterradas entre escombros e a ameaça contínua de ataques do EI. Em março deste ano o prefeito de Fallujah ainda estava vivendo em Irbil, cidade do Curdistão iraquiano, no norte do Iraque, e deslocando-se para Fallujah a trabalho apenas em alguns dias.

    O estudo cita o Estado Islâmico como tendo dito que lançou 1.468 ataques em 16 cidades –11 no Iraque e cinco na Síria– entre o momento em que seus insurgentes foram expulsos dessas cidades e o mês de abril.

    Em alguns casos, a violência diminuiu nitidamente após a expulsão dos militantes; o EI se mostrou pouco disposto ou interessado em lançar ataques de assédio, desde emboscadas com armas pequenas até ataques suicidas. Em outras cidades, porém, a ameaça de violência continua onipresente.

    O setor leste de Mossul, no norte do Iraque, vem tendo o maior número de ataques por mês, 130, desde que as forças iraquianas expulsaram os combatentes do Estado Islâmico. Beiji, no Iraque, tem o segundo maior número de ataques mensais: 21.

    Combatentes do Estado Islâmico vêm adotando táticas diversas contra as cidades que antes controlavam. Cinquenta e seis por cento de todos os ataques foram lançados à distância, usando armas como foguetes e fuzis de franco-atiradores. Apenas 5% das operações foram ataques suicidas, segundo o estudo.

    Tradução de CLARA ALLAIN

    O que é Estado Islâmico

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