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    Investigação contra Trump lembra Watergate, dizem veteranos do caso

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    02/07/2017 02h33

    Associated Press
    Em março de 1974, o então presidente Richard Nixon fala durante uma entrevista à imprensa do Texas
    Em março de 1974, o então presidente Richard Nixon fala durante uma entrevista à imprensa do Texas

    "Quem imaginava que isso poderia acontecer de novo?" Inevitavelmente, a pergunta guiou o reencontro de 50 ex-membros do Comitê do Watergate no Senado no último dia 17, no prédio-símbolo do escândalo, 45 anos após a eclosão do caso que levou à queda do presidente Richard Nixon (1969-1974).

    Entre os ex-assessores, não havia dificuldades em apontar as semelhanças entre as investigações sobre uma possível interferência russa nas eleições de 2016 –e o envolvimento de membros da equipe do presidente Donald Trump–, e o caso sobre o qual se debruçaram há mais de quatro décadas.

    Um deles era o advogado Rufus Edmisten, 75, o homem responsável por levar até a Casa Branca, em julho de 1973, a intimação para que o presidente Nixon entregasse as gravações feitas de suas conversas no Salão Oval.

    "Eu sempre achei que viria um novo Watergate, mas não com tantas semelhanças assustadoras", disse à Folha, na última sexta (30).

    Edmisten era o vice-conselheiro-chefe do Comitê do Watergate no Senado e o braço direito do senador democrata Sam Ervin, que presidia o comitê junto com o representante da minoria republicana, Lowell P. Weicker.
    Seu papel era variado, indo desde pré-sabatinar as testemunhas antes da audiência no comitê até cuidar das credenciais de imprensa.

    Hoje, Edmisten, que é sócio num escritório de advocacia na Carolina do Norte, compara o comportamento dos dois presidentes republicanos frente aos escândalos.

    U.S. Senate Historical Office
    O advogado Rufus Edmisten (ao centro), vice-conselheiro-chefe do Comitê do Watergate no Senado
    O advogado Rufus Edmisten (ao centro), vice-conselheiro-chefe do Comitê do Watergate no Senado

    "Como Nixon, Trump parece acreditar que o Executivo tem mais poder do que o Legislativo e o Judiciário", diz. "Os dois também demitiram pessoas importantes relacionadas às investigações: Nixon retirou o procurador especial do caso [Archibald Cox], Trump, o [diretor do FBI James] Comey."

    No caso de Nixon, tudo começou com a invasão da sede do Partido Democrata no Watergate em junho de 1972, durante a campanha à Presidência na qual ele concorria à reeleição. Apesar de ter sido divulgado, antes do pleito, que o FBI descobrira a ligação entre a ação e a equipe de campanha de Nixon, o republicano foi reeleito.

    Apenas em fevereiro de 1973, o comitê do Watergate no Senado seria formado.

    Apesar da comparação, Edmisten ressalta que as investigações sobre uma suposta intervenção da Rússia nas eleições e a possível participação da equipe de Trump está em "estágio muito inicial".

    "A investigação do Watergate começou em 1972, e Nixon não deixou o posto até 1974. Essas coisas não acontecem da noite para o dia", lembra. "As pessoas esperam ter um resultado na velocidade da mídia, que traz notícias 24h, mas não acontece dessa forma. A lei é mais devagar."

    Gordon Freedman, 65, que aos 21 se tornou um dos assistentes do comitê, lembra que as provas ligando Nixon só vieram com a descoberta de que havia fitas, por meio de um depoimento de um assessor, e a liberação, um ano depois, da gravação que comprovava a tentativa de obstrução da Justiça.

    "Até que isso acontecesse no Watergate, nunca ninguém pensou que chegaria até o presidente", afirma Freedman, que tinha como principal tarefa analisar a ampla papelada relacionada às campanhas de 1972 em busca de provas.

    No caso de Trump, o próprio presidente já sugeriu que a demissão do ex-diretor do FBI estaria relacionada à investigação sobre a Rússia.

    Comey também afirma que Trump teria pedido para que ele deixasse de lado o caso envolvendo as relações do ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn com Moscou. O presidente chegou a sugerir que teria gravado as conversas com Comey, mas semanas depois negou a própria declaração.

    "Os casos são muito parecidos no sentido de que houve problemas durante a campanha que têm que ser investigados, já com o novo presidente no posto", diz Freedman, que hoje tem uma ONG de educação. "Mas a investigação sobre a Rússia é potencialmente muito mais destrutiva, porque, se comprovada, é a prova de um governo estrangeiro interferindo na política doméstica."

    Edmisten disse já ter dado um conselho ao amigo Richard Burr, republicano à frente do Comitê de Inteligência do Senado, que investiga o caso da Rússia. "Disse que eles têm que ter um esforço bipartidário e manter um comitê não político. E que não podem correr [por resultados], que têm que fazer no seu tempo", diz. "Mas acho que estão fazendo um bom trabalho."

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