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    Primárias no Chile decidem candidatos à eleição presidencial de novembro

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

    02/07/2017 02h00

    AFP
    O ex-presidente do Chile Sebastián Piñera (ao centro) saúda apoiadores em comício
    O ex-presidente do Chile Sebastián Piñera (ao centro) saúda apoiadores em comício

    Se a eleição presidencial chilena fosse nesta semana, um visitante desavisado ao país pensaria que o grande favorito ao pleito é o goleiro Claudio Bravo, do Manchester City e da seleção chilena. Isso porque, na disputa de pênaltis da semifinal da Copa das Confederações, o goleiro defendeu três bolas seguidas, e colocou seu time na final do torneio, neste domingo (2).

    O rosto de Bravo não sai dos noticiários. "Chile, Bravo", "Bravo, um Gigante" são apenas alguns dos vários títulos dedicados a ele em jornais e tablóides. Na TV, é infinita a repetição de imagens das defesas do herói do jogo, enquanto comentaristas derramam elogios à sua técnica.

    Logo após a partida, um dos pré-candidatos da direita, o ex-presidente Sebastián Piñera, 67, soltou nas redes sociais elogios ao jogador e disse que, se eleito, atenderá a reclamação que o mesmo fez em uma entrevista pós-jogo. "Acolhendo o conselho de Bravo, vou remodelar o Estádio Nacional e fazer um museu que recorde os momentos épicos do futebol chileno."

    O que poderia ser apenas uma anedota, porém, transformou-se num problema sério para a votação das eleições primárias, que ocorrem neste domingo e decidem qual será o representante de cada força política para as eleições presidenciais, em novembro.

    Isso porque a final do torneio, entre Chile e Alemanha, acontece no mesmo dia e, pelo horário chileno, justamente no momento em que se costuma verificar o maior número de eleitores nos centros de votação: o começo da tarde.

    Segundo a Folha apurou, um dos assessores de Piñera disse que há muita preocupação em sua campanha, pois é no flanco da direita que a primária será mais acirrada.

    O ex-presidente disputa o posto de candidato com mais dois oponentes, sendo o mais forte deles Manuel José Ossandón, 54, um líder populista de amplo apoio na periferia de Santiago.

    Num país em que o voto não é obrigatório, um domingo com o Chile jogando uma final de campeonato e a temperatura que promete estar abaixo dos 10 graus compõem um sério convite para ficar em casa.

    "Não acho que mais de 10% das pessoas vão comparecer para votar", diz à Folha o cientista político Fernando García Naddaf. "E quem mais perderá com isso será Piñera, que precisa desse respaldo."

    Isso porque a Nueva Mayoria, aliança que dava apoio ao governo, se pulverizou em duas candidaturas independentes e não disputará primária. O candidato governista será o ex-jornalista e senador por Antofagasta Alejandro Guillier, 64, enquanto os democratas-cristãos, que abandonaram a coalizão, concorrerão com candidata própria, Carolina Goic, 44.

    ESQUERDA

    A novidade desta eleição será a estreia da Frente Ampla, uma aliança de partidos de esquerda formada nos moldes do Podemos espanhol e da Frente Ampla uruguaia. Nela, haverá disputa na votação primária, mas encontra-se disparada na frente a também ex-jornalista Beatriz Sánchez, 46, que disputará com o sociólogo Alberto Mayol, 40.

    A candidatura de Sánchez era totalmente inesperada até mesmo para ela. Há poucos meses, a jornalista foi procurada por algumas lideranças do movimento estudantil que protagonizou as manifestações pela educação pública, que conquistaram as ruas das principais cidades em 2011.

    Como no Chile não é possível ser candidato a presidente com menos de 35 anos, nenhum desses líderes poderia se postular. Pediram, então, que Sánchez levantasse sua bandeira. Ela aceitou e vem conquistando apoios, devido à intensa campanha que vêm fazendo por ela dois jovens deputados oriundos desse movimento: Giorgio Jackson, 30, e Gabriel Boric, 31.

    As pesquisas preliminares, ainda sem as candidaturas definidas, dão vantagem pequena a Sebastián Piñera, com 25%. Alejandro Guillier está em segundo, com 21%.

    BACHELET

    A nove meses de deixar o cargo pela segunda vez (não há possibilidade de reeleição direta no Chile), a presidente Michelle Bachelet, 65, vem recuperando popularidade. No ano passado, atingiu seu ponto mais baixo, 18%.

    A última pesquisa da Adimark lhe deu 31%, três pontos a mais do que há dois meses, já configurando tendência de aumento, segundo o instituto.

    Analistas ouvidos pela Folha creem que isso se deve ao fato de, nos últimos meses, a presidente ter acelerado as reformas prometidas, porém postergadas nos últimos anos. Além disso, segundo a pesquisa, os escândalos de corrupção envolvendo membros de sua família ficaram para trás.

    Em seu último pronunciamento anual no Congresso, em junho, Bachelet disse que seu governo não está terminado. Garantiu que seguirá impulsionando as reformas tributárias, educacional e trabalhista, ainda que tenha dificuldades em aprová-las.

    Ela frustrou-se, porém, por não poder instalar uma Assembleia Constituinte, uma de suas promessas, para substituir a Carta vigente, dos anos Pinochet (1973-1990).

    Anunciou ainda, que, no segundo semestre, enviará ao Parlamento um projeto de lei para aprovar o casamento gay e espera ver aprovada uma lei do aborto que não puna a mulher que aborte por má-formação do feto, risco de vida da mãe ou estupro –hoje, o aborto é proibido sob quaisquer circunstâncias no Chile.

    Sebastián Piñera, hoje favorito a sucedê-la, é contrário a ambas as leis.

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