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    Em encontro longo, Trump e Putin discutem interferência eleitoral russa

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A HAMBURGO

    07/07/2017 09h10 - Atualizado às 23h45

    Evan Vucci/Associated Press
    Os presidentes Putin (à esq.) e Trump conversam durante G20 em Hamburgo, na Alemanha
    Os presidentes Putin (à esq.) e Trump conversam durante G20 em Hamburgo, na Alemanha

    O esperado encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o russo Vladimir Putin dominou o primeiro dia do G20 em Hamburgo.

    A reunião nesta sexta-feira (7) era mais aguardada do que que a própria cúpula das principais economias do mundo. A conversa durou 2h16, muito além da meia hora prevista. O aperto de mãos foi transmitido ao vivo e debatido ao longo do dia. A mão de Putin ficou por cima, envolvida pela de Trump.

    Os dois controversos líderes discutiram as acusações de que a Rússia interferiu nas eleições americanas de novembro, que têm constrangido o governo Trump.

    O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que Trump aceitou a resposta de Putin, que negou ter havido envolvimento de Moscou no pleito.

    Já o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, disse que as divergências sobre o tema podem ser "intratáveis" e que deve haver esforço para "seguir em frente".

    Um dia antes, o presidente americano tinha endurecido o discurso e pedido que a Rússia abandonasse as suas "atividades desestabilizadoras", deixando de apoiar, por exemplo, a Síria e o Irã.

    Mas, em Hamburgo, Trump disse a Putin que havia sido uma "honra" conhecê-lo pela primeira vez, buscando "coisas positivas" na relação entre os ex-rivais da Guerra Fria. "Tivemos algumas conversas muito, muito boas."

    Trump e Putin conversaram por meio de tradutores. Repórteres foram impedidos de acompanhar. "Conversamos ao telefone diversas vezes. Um telefonema nunca é o suficiente", disse Trump.

    EUA e Rússia divergem em uma série de questões fundamentais, como a crise na Ucrânia e a guerra na Síria.

    Os Estados Unidos, a Rússia e a Jordânia anunciaram na sexta um cessar-fogo no sudoeste da Síria, o único resultado concreto desse encontro, ainda que parcial.

    A trégua deve entrar em vigor no domingo às 12h (6h em Brasília) —mas, como outros acordos do tipo, pode não ser implementado ou pode ser descumprido na sequência.

    EUA e Rússia, as duas principais potências militares do planeta, apoiam lados opostos na guerra civil que assola o país há mais de seis anos. Enquanto os americanos dão suporte a grupos rebeldes, os russos intervêm a favor do ditador Bashar al-Assad.

    Segundo Tillerson, na metade do encontro, a primeira-dama Melania Trump entrou na sala para lembrar Trump do restante de sua agenda. A reunião prosseguiu.

    Além de Putin, Trump conversou com o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto. O presidente dos EUA relatou progresso nas relações com o vizinho, com o qual tem travado um duelo retórico sobretudo com a insistência de construir um muro na fronteira.

    "Estamos negociando o Nafta [o acordo de livre comércio entre os dois países mais o Canadá] e algumas outras coisas com o México", afirmou Trump, que chamou Peña Nieto de "amigo".

    CLIMA

    A cúpula do G20 se encerra neste sábado após os líderes das principais economias e organizações internacionais debateram temas como protecionismo, terrorismo e mudança climática —ponto em que Trump tem se isolado desde que prometeu abandonar o Acordo de Paris sobre o clima, selado em 2015, classificando-o como contrário aos interesses nacionais.

    A chanceler alemã, Angela Merkel, anfitriã da cúpula, insistiu que os países mantenham o compromisso de frear o aquecimento global —o acordo prevê que a temperatura do planeta não suba acima de 2ºC em relação à era pré-industrial até o fim do século, e tenta limitá-la a 1,5ºC.

    "Todos nós conhecemos os grandes desafios globais", disse ela, "e todos sabemos que o tempo está passando".

    ANTAGONISTA

    Trump chegou ao seu primeiro G20 como maior antagonista da cúpula. Ele tem uma visão de comércio oposta à defendida pelo G20: reivindica uma ordem bilateral em vez do multilateralismo que está na gênese do grupo.

    Outro tema em que o republicano fica isolado é o ambiente. Em junho, ele anunciou a saída dos EUA do Acordo de Paris, firmado em 2015 por quase 200 países, que é considerada a principal iniciativa global para conter as mudanças climáticas.

    Líderes aumentaram a pressão para que Trump faça concessões em relação ao clima e ao comércio durante o G20.

    Em um comunicado conjunto emitido enquanto os líderes mundiais se reuniam em um grande centro de convenções de Hamburgo, os países do Brics (grupo composto por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul) divulgaram um comunicado oficial insistindo na importância de um mercado aberto e da implementação do Acordo de Paris.

    Nas ruas de Hamburgo, manifestantes contrários ao G20 voltaram a entrar em confronto com a polícia nesta sexta-feira. Ao menos 160 policiais ficaram feridos e 70 pessoas foram detidas, segundo a agência de notícia Reuters. Dezenas de carros foram incendiados.

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