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    CRÍTICA

    Análise geopolítica amplia nova biografia do ditador Josef Stálin

    JAIME SPITZCOVSKY
    COLUNISTA DA FOLHA

    09/07/2017 02h00

    AP Photo/Pavel Golovkin)
    Dec. 9, 2015 photo a bust of Soviet leader Josef Stalin stands on the front lawn of a house-turned-museum in the village of Khoroshevo, west of Moscow, Russia. The Stalin museum was opened this year in this small village where the Soviet leader is said to have stayed the night on his only visit to the front during World War II. (AP Photo/Pavel Golovkin) ORG XMIT: MOSB502
    Busto de Josef Stálin em frente a um museu em Khoroshevo, a oeste de Moscou

    Nos últimos anos, após a debacle da URSS em 1991 e a abertura de arquivos históricos antes selados pela censura soviética, proliferaram importantes e densas pesquisas sobre a vida do ditador Josef Stálin (1878-1953), figura central no desenho do sangrento século 20.

    Livro do professor americano Stephen Kotkin, recém-lançado no Brasil, destaca-se no acervo sobre a tirania stalinista ao, além de investigar a trajetória pessoal do biografado, produzir densa contextualização histórica e investir na análise geopolítica, desenhando de desafios da Rússia imperial a paralelos com, por exemplo, o iraquiano Saddam Hussein.

    Kotkin investiu cerca de dez anos em pesquisas para iniciar a trilogia com o volume "Stálin - Paradoxos do Poder 1878-1928", voltado a esquadrinhar a infância, a atividade revolucionária, a participação na revolução de 1917 e a chegada ao poder do dirigente soviético.

    Os outros tomos mergulharão, sobretudo, na descrição da etapa marcada pela coletivização forçada, o regime de terror, o fracassado pacto de não agressão com o alemão Adolf Hitler, a Segunda Guerra Mundial (1939-45), os primórdios da Guerra Fria e a morte de Stálin, em 1953.

    "Stálin parece bem conhecido por nós", diz o historiador e professor da Universidade de Princeton. "Há muito tempo que uma imagem antiga –o pai batia nele; o seminário ortodoxo o oprimiu; desenvolveu um complexo de Lênin para ultrapassar o seu mentor, depois estudou Ivan, o Terrível, e tudo isso levou ao massacre de milhões– é pouco convincente."

    Kotkin, portanto, busca diferenciar sua abordagem com doses maciças de história da virada do século 19 ao 20 e aponta para convicções ideológicas de Stálin como fator decisivo para impulsionar a tragédia do stalinismo.

    Tempera a extensa pesquisa com conjecturas sobre caminhos da União Soviética no caso da morte de Stálin, por exemplo, ao longo da caminhada para suceder Vladimir Lênin, morto em 1924, e da luta pelo poder com o rival Leon Trotsky (1879-1940).

    Problemas de saúde, como a arriscada cirurgia de apendicite em 1921, e ameaças de assassinatos rondavam o cotidiano do revolucionário oriundo da Geórgia, na periferia do império russo, que virou peça-chave da engrenagem bolchevique.

    "Se Stálin tivesse morrido, a probabilidade de coletivização total forçada –o único tipo– teria sido perto de zero e a probabilidade de que o regime soviético viesse a se transformar em outra coisa ou se desintegrado teria sido alta", sustenta Kotkin.

    Stálin (Vol. 1)
    Stephen Kotkin
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    Na esteira de trabalhos como os do britânico Simon Sebag Montefiori, dos russos Dimitri Volkogonov e dos irmãos Zhores e Roy Medvedev, a pesquisa de Kotkin não desponta como tratado definitivo sobre a ditadura de Stálin.

    Mas, com foco geopolítico, abre novas lentes para analisar a tragédia do stalinismo e suas consequências para o cenário global e a Rússia atual. Afinal, como escreve Kotkin, a história mundial é impulsionada pela geopolítica.

    *

    STÁLIN - Paradoxos do poder, 1878-1928
    Autor: Stephen Kotkin
    Tradução: Pedro Maia Soares
    Editora: Objetiva (1.112 págs.)
    Quanto: R$ 119,90
    Classificação: bom ★ ★ ★

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