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    Primeira russa a comandar partido diz que revolução tem de ser nas urnas

    IGOR GIELOW
    ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

    09/07/2017 02h00

    Igor Gielow/Folhapress
    Emilia Slabunova, na sede do Iabloko em Moscou
    Emilia Slabunova, na sede do Iabloko em Moscou

    Emilia Slabunova é uma figura rara na política russa. Primeira mulher a comandar um partido no país, ela defende que o regime de Vladimir Putin só poderá ser desafiado e eventualmente derrotado dentro da lei, em processos eleitorais.

    "O mais importante é garantir que as eleições sejam livres", afirmou ela, líder da sigla liberal Iabloko desde 2015. Com isso, Slabunova se diferencia dos opositores tradicionais do Kremlin putinista, que apostam em ativismo e protestos de rua.

    "Só tem dois jeitos de mudar as coisas na política. Ou pela via militar ou pela eleição. Nós acreditamos, no século 21, que a revolução tem de acontecer nas seções eleitorais, nas urnas", afirma.

    O Iabloko (acrônimo para o nome de seus fundadores que significa maçã em russo, que é o símbolo da agremiação) tem insistido na via democrática, apesar de denunciar os pleitos russos como "injustos e fraudados", como diz Slabunova.

    O partido está sem representação na Duma (equivalente russa à Câmara dos Deputados) há três eleições (2007, 2011 e 2016), tendo 12 assentos em Parlamentos regionais.

    "Insistimos. Por isso trabalhamos para aumentar o comparecimento às urnas, que é muito baixo [48% nas eleições legislativas de 2016] e facilita as fraudes", diz ela.

    A reportagem pediu, sem sucesso, entrevista com um representante do partido de Putin, o Rússia Unida. O Kremlin usualmente rejeita acusações de fraudes como choro de maus perdedores.

    Aos 58 anos, ela evita se alinhar ao líder oposicionista Alexei Navalni, que começou na política filiando-se justamente ao Iabloko, agremiação que tem como líder histórico o economista Grigori Iavlinski –que quer concorrer à Presidência em 2018, como fez em 1996 (quarto lugar) e 2000 (terceiro).

    "Nós apoiamos a agenda contra a corrupção no país, sem dúvida. Boa parte das denúncias de Navalni contra o premiê Dmitri Medvedev foi elaborada por nosso centro anticorrupção, é apuração nossa. Ele não pede a saída de Putin. Isso é estranho. E há a questão de seu financiamento."

    Além de suspeitar que Navalni esteja a serviço de alguma figura poderosa da política, como Igor Setchin (presidente da petroleira Rosneft), ela considera o opositor como "irresponsável" por levar jovens a se expor a riscos convocando protestos ilegais.

    O Iabloko é historicamente o bastião de um misto de liberalismo com Estado de bem-estar social. Seu programa inclui abertura econômica, alinhamento à União Europeia, fim das guerras na Ucrânia e na Síria e liberdade de imprensa e no Judiciário.

    Slabunova começou a carreira como deputada municipal em Petrozavodsk, capital da República da Karelia, em 2001. Em 2013, deixou a função de diretora de escola para se dedicar só à política.
    Ela diz não sofrer preconceitos num meio tradicionalmente machista.

    "Não sinto não. Acho que ser mulher é uma vantagem, até porque venho de uma política dura, regional. Eu conheço a vida real das províncias. Os outros líderes não sabem bem como lidar com isso, e me respeitam", disse Slabunova, que é casada e tem dois filhos.

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