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    Chile falha ao não fornecer acesso igualitário à educação de qualidade

    SYLVIA COLOMBO
    DA ENVIADA A SANTIAGO

    10/07/2017 02h00

    Tamara Merino/Folhapress
    O casal Chelo e Jesika vive nas ruas da região central de Santiago, perto da Universidade Católica, há mais de 20 anos
    O casal Chelo e Jesika vive nas ruas da região central de Santiago há mais de 20 anos

    Dados recentes da OCDE e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Econômico (Pnud) mostram que o Chile tem falhado não apenas na distribuição da riqueza gerada pelos anos do "boom das commodities" mas também ao não fornecer acesso igualitário à educação de qualidade e a empregos com contrato e carteira assinada aos jovens.

    Para a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que comparou os índices Gini (que mede a brecha entre a renda dos lares mais ricos e dos mais pobres), o Chile se mantém como o país mais desigual dos que integram o bloco.

    Segundo o informe divulgado pela instituição neste ano, depois do Chile estão o México e os EUA.

    "A redistribuição da renda não mudou nos últimos dez anos, mesmo com a maior participação no mercado de trabalho das mulheres e outras minorias", diz à Folha o pesquisador Horacio Levy, da OCDE.

    O Pnud acaba de lançar o documento "Desiguales", sobre o Chile, que, além dos dados, mostra que a desigualdade de renda e oportunidades é visível "nos tons de pele, nos sobrenomes, na geografia das grandes cidades e da periferia, nas amplas casas com vista para o mar e nos parques conservados perto de ruas que se inundam e ônibus lotados".

    A desigualdade preocupa o Pnud porque o Chile é o primeiro da região em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Porém, quando se inclui a desigualdade no cálculo do índice, o país cai 12 posições.

    O informe diz que os mais atingidos pela desigualdade são as mulheres, a população rural e a do sul do país (onde o transporte é mais caro), indígenas e outras minorias.

    Tamara Merino/Folhapress
    Turca', 57, vive desde os 41 nas ruas de Santiago; ela passou os últimos dois anos em um barraco de cartolina
    'Turca', 57, vive desde os 41 nas ruas de Santiago; ela passou os últimos dois anos em um barraco

    Analistas ouvidos pela Folha em uma enquete informal na periferia de Santiago mostram que as aposentadorias serão um tema central na campanha presidencial deste ano.

    "O Chile praticamente privatizou as aposentadorias nos anos sob Augusto Pinochet (1973-90), com o Estado investindo pouco e dizendo que o sistema seria altamente rentável dependendo da colaboração de cada um", diz Levy, acrescentando que não foi previsto que trabalhadores transitassem entre empregos formais e informais.

    "Hoje a população vê que não era bem assim. E a aposentadoria que recebe é muito baixa."

    *

    DESIGUALDADE DE RENDA NO CHILE
    33% do que a economia gera ficam com 1% da população mais rica
    Num segundo recorte, o 0,1% mais rico fica com 19,5% das riquezas

    ÍNDICE GINI
    0,465 (2013)
    Segundo as Nações Unidas, quando o coeficiente Gini é superior a 0,40, o país tem grande diferença entre ricos e pobres

    40% dos jovens chilenos pobres não estudam nem trabalham

    10% dos jovens chilenos pobres têm trabalho

    28% dos jovens chilenos de classe média têm trabalho

    Fonte: Pnud

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