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    Venezuela chega 100 dias de protestos com novos atos contra o governo

    DA AFP

    09/07/2017 17h47

    A Venezuela completa, neste domingo (9), cem dias de protestos que já deixaram 91 mortos (quase uma morte por dia) contra o presidente Nicolás Maduro. E o cenário é de incertezas. A prisão domiciliar do líder opositor Leopoldo López pode abrir as portas para uma negociação que afrouxe a crise política.

    "Cem dias e sigo em rebeldia contra a tirania", dizia o cartaz de um dos mais de 2.000 manifestantes que se concentraram em Caracas, trajando camisetas com o rosto de López.

    Símbolo dos opositores encarcerados, López foi para o regime domiciliar neste sábado (8), após três anos e cinco meses na prisão. A oposição não se deu por satisfeita e convocou novas marchas até alcançar "a liberdade plena do país".

    "Estamos completando cem dias de resistência pela Venezuela, seguimos nas ruas com mais firmeza para o plebiscito", disse o deputado Juan Andrés Mejía, em coletiva de imprensa da Mesa da Unidade Democrática (MUD).

    A MUD chamou a população a participar de um plebiscito simbólico em 16 de julho, para mostrar a recusa maciça à Assembleia Constituinte convocada por Maduro, que vê como uma "fraude" do chavismo para proteger "uma ditadura".

    No centro da cidade, milhares de seguidores de Maduro, vestidos de vermelho, participaram de um ato de campanha pela Constituinte, cuja eleição acontece no dia 30 de julho.

    Na luta
    Em mensagem lida por seu colega Freddy Guevara, López incitou a população a continuar nas ruas e apoiar o plebiscito.

    A mudança do regime de Leopoldo é o aceno mais expressivo do governo à oposição desde o início de uma onda de protestos em 1º de abril que já deixou 91 mortos, em meio a uma devastadora crise econômica.

    O Supremo Tribunal de Justiça (TSJ), que a oposição acusa de ser aliado ao governo, alegou "problemas de saúde" para colocar López em prisão domiciliar -usando uma tornozeleira eletrônica, segundo sua família.

    López, que tem 46 anos, foi detido em fevereiro de 2014 e condenado a quase 14 anos, acusado de incitar a violência em protestos contra Maduro naquele ano, que deixaram 43 mortos.

    De acordo com familiares, a saúde de López inspira cuidados. "Ele está muito fraco porque teve uma infecção geral na penitenciária", contou o pai, Leopoldo López Gil, que mora em Madri.

    Ele, que ficou sabendo da decisão da prisão domiciliar no sábado (8), explica que o filho perdeu "4 kh ou 5 kg". "A cada dia que passa estou mais orgulhoso dele, orgulho por seu um homem que soube se sacrificar, não por si mesmo, mas por seus princípios e desejos [para a Venezuela]", apontou López Gil.

    A oposição vê a saída de López da prisão como um "triunfo inegável" dos protestos. "Continuaremos lutando pela liberdade dos presos políticos", assegurou Lilian Tintori, mulher do opositor.

    Segundo a ONG Foro Penal, com as prisões destes cem dias, os chamados presos políticos somam 430.

    Disputa
    Ainda que analistas estimem que está cedo para medir o impacto da decisão, o governo cedeu ao tirar das grades quem ele acusa de "monstro". López aceitou a prisão domiciliar apesar de ter dito que só sairia com liberdade plena e após a libertação de todos os opositores presos.

    Sua soltura acontece após três meses de esforços do ex-presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, que mediou, no ano passado, uma fracassada negociação entre governo e oposição.

    Em comunicado, Rodríguez Zapatero defendeu que esse passo permitirá avançar para a paz e a convivência democrática" e que se intensifiquem os esforços na busca de soluções

    A saída de López da prisão foi celebrada por governos da América Latina, da Espanha e dos EUA. Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), duro crítico de Maduro, vê uma oportunidade de reconciliação e uma "saída democrática".

    Maduro, que acusa a oposição de promover a violência em protestos para dar um golpe de Estado, disse esperar que os opositores aceitem dialogar e que López "passe uma mensagem de reparação e de paz".

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