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    Após ataque a deputado, republicanos pedem ainda menos controle de armas

    EMILY COCHRANE
    DO "NEW YORK TIMES"

    10/07/2017 17h00

    Depois dos piores ataques em massa com armas de fogo na história dos Estados Unidos, em Newtown, Connecticut; Aurora, Colorado; Orlando, Flórida; e na escola Columbine, Colorado, os proponentes do controle de armas se manifestaram exigindo leis mais severas: verificações mais rigorosas de antecedentes, limites à capacidade dos pentes de munição, proibições à venda de fuzis e controles mais severos sobre as feiras de armas e os mercados online de armas de fogo –mas quase sem resultado.

    Mas nas semanas posteriores a 14 de junho, quando um grupo de republicanos foi alvo de ataque a tiros durante um treino de beisebol de um time do Congresso, a reação foi na direção oposta: legisladores conservadores, alguns dos quais quase se tornaram vítimas de violência armada, começaram a pressionar para que as leis de controle de armas sejam afrouxadas.

    Três projetos de lei apresentados nas últimas duas semanas na Câmara dos Deputados, controlada pelos republicanos, permitiriam que legisladores carregassem armas ocultas praticamente o tempo todo. Um quarto projeto de lei permitiria que licenças de porte de armas ocultas concedidas em outros Estados fossem válidas no Distrito de Columbia, o território da capital norte-americana, Washington. Ainda outro eliminaria os controles federais sobre a venda de silenciadores.

    A maior parte dos projetos de lei estava em desenvolvimento há meses, ou, em certos casos, há anos. Mas o ataque em Alexandria (Estado da Virgínia), que causou sérios ferimentos ao líder republicano na Câmara, deputado Steve Scalise, de Louisiana, e ferimentos menores a três outras pessoas, estimulou os republicanos nas duas casas do Congresso a agir.

    Para os proponentes republicanos das medidas, a questão agora se tornou pessoal. Diversos deles mencionaram uma lista contendo o nome de seis congressistas encontrada em poder do atirador que realizou o ataque, James Hodgkinson.

    "Eles já foram alvo de múltiplos tiros, a curta distância, quando estavam tentando salvar alguém e sem disporem de meios de se defender?", questionou o deputado Barry Loudermilk, republicano da Geórgia que estava no campo no momento do ataque, sobre os defensores do controle de armas.

    "Quando eles passarem pessoalmente por essa experiência, então poderemos ter um debate", disse Loudermilk, evocando emoção semelhante à das vítimas de violência armada que vão a Washington buscar leis mais fortes de controle de armas.

    O esforço legislativo expõe o confronto partidário continuado depois de ataques com arma de fogo que atraem muito interesse da mídia, com os legisladores federais brigando sobre as leis de controle de armas e raramente se afastando das posições de seus partidos.

    Depois do ataque a tiros contra o treino de beisebol, uma medida quanto ao direito de porte de armas angariou muito apoio: a Lei de Reciprocidade de Porte de Armas, que requereria que cada Estado reconhecesse as licenças de porte de armas ocultas concedidas por outros Estados, obteve 200 assinaturas.

    "Acho que o acontecido em Alexandria afiou a determinação das pessoas de garantir que esse direito seja protegido", disse o deputado Richard Hudson, republicano da Carolina do Norte, que propôs a medida em janeiro.

    Jim Watson - 7.mar.2017/AFP
    (FILES) This file photo taken on March 7, 2017 shows US President Donald Trump (R) speaking with US Congressman and Majority Whip Steve Scalise (L), R-Louisiana, during a meeting with the US House Deputy Whip team at the White House in Washington, DC. Senior Republican Congressman Steve Scalise was among several victims shot and wounded at a baseball practice ahead of an annual game between lawmakers in a Washington suburb, one of his colleagues said June 14, 2017.Fellow Republican lawmaker Mo Brooks told CNN that Scalise was shot in the hip, adding that at least two law enforcement officers and one congressional staffer were shot in Alexandria, Virginia. / AFP PHOTO / JIM WATSON ORG XMIT: JIM021
    Steve Scalise (à esq.), líder republicano na Câmara, e Donald Trump na Casa Branca em março

    Os políticos do Distrito de Columbia tentam há anos combater os esforços dos republicanos do Congresso para atenuar as leis de controle de armas da capital, mas nunca em circunstâncias como as atuais.

    "Washington é o último lugar do mundo em que o porte de armas ocultas deveria ser aceito ou autorizado", disse a deputada Eleanor Holmes Norton, democrata e representante sem direito a voto do Distrito de Columbia na Câmara. "Eles certamente não terão sucesso, no que depender de mim".

    Ela disse objetar não só aos esforços para contornar as rigorosas leis de controle de armas da capital mas também ao momento do esforço.

    "Que os meus colegas tomem uma tragédia para um de nossos membros como ocasião para propor esse tipo de medida apenas um dia mais tarde diz tudo que é preciso saber sobre eles", afirmou Holmes Norton.

    Mas deputados presentes no campo durante o ataque, como Mo Brooks, republicano do Alabama, estão motivados. Brooks, que está envolvido em uma acirrada campanha de primárias pelo direito a disputar um assento no Senado em seu Estado, apresentou um projeto de lei que permitiria a congressistas portar armas ocultas em qualquer lugar exceto dentro do Congresso e na presença do presidente ou vice-presidente.

    "O momento parecia apropriado para apresentar o projeto, por conta do risco evidente que deputados e senadores enfrentam, como prova o ataque", disse Brooks.

    O deputado Joe Crowley, de Nova York, um dos líderes da bancada democrata na Câmara, concordou com a necessidade de avaliar a segurança dos congressistas, mas disse que armar indivíduos não era a solução.

    "Se você estiver carregando uma pistola na cintura, fica muito mais difícil deslizar para a segunda base", disse Crowley.

    Quando os legisladores voltarem do recesso do Dia da Independência norte-americano, esta semana, a disputa política sobre controle de armas pode voltar com eles.

    Pouco antes do recesso, os senadores Mike Lee, republicano do Utah, e Mike Crapo, republicano do Idaho, introduziram um projeto de lei que eliminaria a regulamentação federal sobre silenciadores.

    No mesmo dia, a National Rifle Association (NRA), que defende o direito ao porte de armas nos Estados Unidos, veiculou um anúncio contendo acusações incendiárias, como a de que "eles usam sua mídia para assassinar as notícias reais", e imagens de manifestantes violentos, e encerrado por um apelo a "lutar contra a violência das mentiras com o punho cerrado da verdade".

    Scott Olson - 28.abr.2017/Getty Images/AFP
    ATLANTA, GA - APRIL 28: President Donald Trump speaks at the NRA-ILA's Leadership Forum at the 146th NRA Annual Meetings & Exhibits on April 28, 2017 in Atlanta, Georgia. The convention is the largest annual gathering for the NRA's more than 5 million members. Trump is the first president to address the annual meetings since Ronald Reagan. Scott Olson/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
    O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa na NRA, em Atlanta

    Antes do final de julho, os deputados Peter King, republicano de Nova York, e Mike Thompson, democrata da Califórnia, planejam reapresentar seu projeto de lei bipartidário que expandiria as verificações federais de antecedentes em todas as vendas de armas de fogo, entre as quais as vendas on-line –um projeto inspirado pelo massacre na escola primária de Sandy Hook, em Newtown, Connecticut. Mas King se admitiu pessimista.

    "Tudo já foi tentado e, se Sandy Hook não mudou as opiniões das pessoas, e se o caso de Gabby Giffords não mudou as opiniões das pessoas, é difícil prever que ela mude, a esta altura", disse King, mencionando o ataque a tiros contra uma colega, Gabrielle Giffords, antiga deputada federal democrata pelo Arizona.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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