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    Governo Trump

    Profissionais da inteligência estão aprendendo a falar a língua de Trump

    DA "FOREIGN POLICY"

    12/07/2017 11h00

    Em uma grande e gelada sala de reuniões de uma ilha particular no Estado americano da Geórgia, espiões, executivos, militares, burocratas, agentes e uns poucos jornalistas estão reunidos ao redor de uma lista com nomes e cores: trabalhos em uma simulação onde os presentes estariam respondendo a um importante ataque cibernético.

    Após separar informações falsas de grupos de hackers e infra-estrutura danificada, os grupos informam o presidente, representado pelo general Mike Hayden, antigo diretor da CIA (serviço secreto americano) e da NSA (Agência de Segurança Nacional).

    Em junho, uma pequena parte de Washington, ligada a um interesse comum por inteligência, voou até a Geórgia com um missão central: discutir e analisar grandes ameaças aos Estados Unidos na área de segurança e descobrir como resolvê-las e como apresentá-las ao presidente.

    A conclusão: o presidente Donald Trump é pragmático e sai de todas as reuniões com a disposição de fazer alguma coisa, qualquer coisa; os espiões precisam descobrir como lidar com isto.

    As tendências impulsivas de Trump podem preocupar muitas pessoas, mas essa prontidão para agir e responder geralmente é bem recebida assim que especialistas e comentaristas de fora do governo confrontam a Casa Branca.

    Essa dinâmica pode criar conflitos entre especialistas não eleitos que esperam ter a última palavra antes de Trump disparar o primeiro tiro.

    Espiões e profissionais da inteligência estão buscando a fórmula perfeita para conseguir que uma notória plateia, composta por uma pessoa cética e impaciente, escute e avalie informações sobre uma das mais complexas ameaças com que o mundo se depara há muito tempo.

    Comunicar as maiores ameaças mundiais a Trump "seria desafiador e atingível", disse John McLaughlin, ex-diretor interino da CIA numa conferência organizada pela "The Cipher Brief", uma empresa de mídia de segurança com foco em conectar o setor privado com peritos em segurança nacional, em junho.

    McLaughlin, que estava presente nas reuniões de emergência durante os ataques do 11 de Setembro, hoje leciona na Escola John Hopkins de Estudos Internacionais Avançados em Washington. Ele está acostumado a traduzir informação de forma a tornar imediatamente acessível e acionável para o presidente.

    Mas ele também caracterizou as sessões de briefing de Donald Trump como caóticas e pediu cautela aos que vão ao salão oval para não cutucá-lo a respeito de decisões sobre inteligência.

    "Para quem é de operações e os analistas aqui, algo que você transmite é entendido por um elaborador de políticas que exigir ação imediata", disse McLauglin. "Com ele, eu ficaria receoso que ele dissesse, 'isso é interessante, vá resolver isso agora.'"

    Ele advertiu profissionais de inteligência para "apagar esse fogo com cautela".

    As reuniões diárias com o presidente já foram customizadas para as preferências de Trump, após uma preocupação inicial de que ele simplesmente as ignoraria, pois ele insistia que já era bem versado com os tópicos.

    Agora, ele exige que seus peritos em segurança nacional estejam por perto quase todo dia, incluindo o Diretor de Inteligência Nacional, Dan Coats. Ele relata preferir imagens e mapas a análises longas. Os analistas foram avisados a manter os relatórios curtos e simples, uma página por tópico no máximo.

    Procurada, a Casa Branca recusou-se a liberar uma lista de pessoas que têm acesso às reuniões. A própria lista não é confidencial. Uma fonte familiar com a situação na ala Oeste descreveu as reuniões diários como livre para todos, com visitantes como Ivanka Trump, filha do presidente, vagando durante as sessões.

    Para alguns visitantes, a ânsia de Trump em ouvir uma proposta e fazer a venda é uma perspectiva emocionante. Se você é convidado e se compraz com a Casa Branca, parece mais provável que o presidente vá decretar uma política de acordo com suas posições.

    Jack Keane, general aposentado do Exército, disse durante uma apresentação na conferência da Cipher Brief que saiu de uma reunião com Trump sobre o Oriente Médio "com um grau de esperança", sentindo que havia convencido o presidente a permanecer envolvido na região.

    Mas há um perigo em se ter um especialista de uma área, como o general no Afeganistão ou um executivo de segurança cibernética em proteger estrutura em risco como a última palavra sobre o assunto.

    Especialmente em questões como segurança cibernética ou, no passado, armas nucleares. São poucos que verdadeiramente entendem as nuances e tecnicidades envolvidas, e muito poucos desses são os que podem ser eleitos a servir.

    "Qualquer administração que não tenha um entendimento básico desses conceitos irá depender nos especialistas não eleitos", disse Vince Houghton, historiador e curador do Museu Internacional de Espionagem. "Essa não é a maneira que deveria ser."

    Susan Gordon, diretora adjunta da Agência Americana de Inteligência Geoespacial, uma das poucas pessoas do governo presentes na conferência, colocou o ônus na comunidade de inteligência para descobrir a melhor maneira de trabalhar com Trump.

    "Acredito que a comunidade que lida com inteligência tem responsabilidade em descobrir como vamos reportar de uma maneira diferente," disse Gordon, que foi recentemente nomeada para ser a diretora adjunta de inteligência nacional.

    "Eu acho que, ao informar este presidente, você não pode esquecer que ele quer fazer algo. Apresente isso de uma forma que te dê a melhor oportunidade de ele entender."

    O lapso de pouca atenção de Trump é apenas algo que os profissionais da inteligência terão que aceitar.

    Esse energia do "mexa-se, mexa-se" é algo com que nós teremos que lidar,", disse Gordon.

    Traduzido por MARIA CRISTINA VALENCIA

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