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    Alvo de protesto, gay ultraconservador vira provocador profissional

    FERNANDA EZABELLA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

    16/07/2017 02h00

    Milo Yiannopoulos já ofendeu negros, muçulmanos, mulheres em geral e até mesmo gays, sendo ele próprio homossexual assumido. Com tantas polêmicas no currículo, virou um provocador profissional e uma das vozes da direita ultraconservadora, além de ser fã de carteirinha do presidente dos EUA, Donald Trump, a quem ele chama de "daddy" (paizinho).

    Não à toa, seu discurso agendado para fevereiro na Universidade da Califórnia em Berkeley foi cancelado após violentos protestos no campus que reuniram mais de 1.500 pessoas.

    Drew Angerer - 7.jul.2017/Getty Images/AFP
    Milo Yiannopoulos protesta em frente à editora Simon & Schuster, que cancelou a edição de seu livro
    Milo Yiannopoulos protesta em frente à editora Simon & Schuster, que cancelou a edição de seu livro

    Outras manifestações, pró e contra Trump, continuaram nos meses seguintes na cidade, conhecida por ser o berço do movimento hippie. Um encontro em abril com a escritora conservadora Ann Coulter também acabou adiado pela universidade, que citou problemas de segurança.

    Para Yiannopoulos, a esquerda progressista tomou conta das universidades nas últimas décadas e fez uma lavagem cerebral nos estudantes. "A esquerda transformou centros de estudo superior em creches carésimas lotadas de bebês chorões. Estudantes normais são empurrados para as margens e, ainda pior, conservadores são tratados com tremenda hostilidade", disse Yiannopoulos à Folha.

    Nascido em Kent, sul da Inglaterra, o jornalista de 32 anos posa como defensor da liberdade de expressão e contra o politicamente correto, muitas vezes com campanhas on-line típicas de "trolls". Ele achou seu público nos EUA ao se mudar para o país e fazer campanha para Trump.

    Trabalhou como repórter de tecnologia no "The Telegraph" e depois no site ultraconservador Breitbart, que teve como presidente Stephen Bannon, hoje o controverso estrategista-chefe da Casa Branca.

    "Os radicais de esquerda em Berkeley falharam em cancelar meu discurso porque acabaram me dando mais fama e ainda ficaram com a percepção de que podem destruir a liberdade de expressão com violência", continuou Yiannopoulos, que planeja voltar à cidade com uma série de eventos nos próximos meses. "Eles vão ter que pensar melhor na próxima vez que aparecer um convidado conservador."

    Esta não foi a primeira vez que Yiannopoulos teve seu discurso cancelado. Ele já foi rejeitado em universidades britânicas e, no ano passado, teve sua conta no Twitter suspensa ao incitar seus fãs a provocarem a atriz negra Leslie Jones pelo remake do filme "Caça-Fantasmas".

    "Normalmente é a esquerda que não quer debater com a direita, fora e dentro do campus. Eles preferem debater com um lado apenas, e não podemos mais tolerar isso", diz ele.

    Ainda que defenda liberdade de expressão, Yiannopoulos diz que "ama o desprezo que Trump tem pela mídia tradicional". "Diariamente eles são pegos mentindo, e paizinho tem a coragem de confrontá-los."

    O jornalista britânico lançou neste mês suas memórias, "Dangerous" (perigoso), uma coletânea de artigos sobre seus temas mais polêmicos.

    O livro seria lançado pela Simon & Schuster, mas a editora desfez o acordo de 193 mil libras (R$ 805 mil) em fevereiro após comentários controversos do autor sobre sexo com menores.

    Numa entrevista, Yiannopoulos sugeriu que o relacionamento com garotos de 13 anos poderia ser consensual e fazer parte de um processo de ensinamento, "onde homens mais velhos ajudam os jovens a descobrirem quem são".

    Yiannopoulos, que também falou sobre sua relação com um padre aos 14 anos, está processando a editora por US$ 10 milhões. Ele também tem ido protestar pessoalmente em frente à sede em Nova York nos últimos dias.

    "O ódio engole todas as políticas da esquerda. Socialistas odeiam os que têm sucesso financeiro. Os ativistas LGBT odeiam os cristãos fundamentalistas. O pessoal do Black Lives Matter (vidas de negros importam) odeia policiais. Gordos odeiam magros como eu e Ann Coulter", diz uma passagem do livro. "Mas nenhum desses grupos odeia com a mesquinharia do feminismo na TPM."

    Lançado de forma independente, "Dangerous" teria vendido mais de 100 mil cópias, segundo o autor.

    Porém, de acordo com a Nielsen Bookscan, o número correto seria 18 mil cópias nos EUA e 152 no Reino Unido. Para Yiannopoulos, trata-se apenas de "notícias falsas".

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