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    Análise

    Agora, Maduro e oposição partem para confronto final ou diálogo

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    17/07/2017 02h18

    Ariana Cubillos/Associated Press
    Opositores comemoram resultado do plebiscito em Caracas; em telão, eles agradecem participação
    Opositores comemoram resultado do plebiscito em Caracas; em telão, eles agradecem participação

    O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, perdeu a rua definitivamente neste domingo (16), dado o comparecimento em massa dos venezuelanos para votar no plebiscito convocado pela oposição para que o eleitorado dissesse se aceitava ou não a convocação da Assembleia Constituinte, cuja eleição de seus membros está marcada para o próximo para dia 30.

    Não é trivial sair à rua para desafiar um governo repressor como o de Maduro quando se considera a violentíssima reação aos protestos dos 100 dias mais recentes (mais de 90 mortes).

    Havia, entre observadores internacionais, o receio de que o medo brecasse a participação, o que é compreensível, não só pela repressão anterior como pelo principal incidente do domingo, a morte de uma pessoa atribuída aos chamados coletivos, paramilitares a serviço do regime.

    A maciça manifestação de repúdio ao governo não muda a correlação de forças nas instituições: a oposição continuará entrincheirada na Assembleia Nacional, que conquistou no voto em dezembro de 2015. O governo seguirá mandando em todas as demais instâncias, inclusive e principalmente nas Forças Armadas.

    Mas, instituições à parte, a oposição demonstrou que tem também a rua.

    São duas as questões que agora se colocam:

    1 - O regime do ditador cubano, Raúl Castro, será convencido pelo presidente colombiano Juan Manuel Santos, que viajou neste domingo a Havana, a participar do esforço internacional para levar Maduro a suspender a convocação da Constituinte?

    Instalar a Constituinte —e não apenas convocá-la— seria o ponto de não retorno para uma conflagração ainda mais cruenta e profunda.

    Trata-se de uma convocação farsesca, porque, em vez de voto universal, a eleição será por um colégio eleitoral à feição do regime.

    Cuba é o único país com peso suficiente junto a Caracas para impor algum sentido comum a um regime fechado em si mesmo.

    2 - Como o governo reagirá à votação deste domingo? Negará a realidade que o plebiscito exigiu nitidamente, como, de resto, o faz há anos? Ou, finalmente, acederá a dialogar —no pressuposto universalmente aceito de que a saída da crise só é possível com um diálogo entre governo e oposição, com alguma (ou muita) intermediação internacional?

    Manuel Avendaño, responsável pelas Relações Internacionais do Vontade Popular, um dos principais partidos da coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática), a coalizão opositora, espera que o governo venha para um diálogo sério e acredita que a votação em massa dará à oposição condições para impor condições que, antes, seriam inalcançáveis.

    Se, entretanto, Maduro continuar entrincheirado com os seus, Avendaño levanta a possibilidade não só de novos protestos, mas também a de uma greve geral –que poderia ser uma espécie de xeque-mate para o chavista.

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