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    'País será piada', diz diretor de ética da Casa Branca

    ERIC LIPTON
    NICHOLAS FANDOS
    DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

    18/07/2017 02h00

    As ações do presidente Donald Trump e de seu governo criaram uma crise ética histórica, diz o chefe demissionário do Escritório de Ética do governo norte-americano.

    Walter Shaub Jr., que deixará o posto de principal fiscal da ética do governo federal nesta terça (18), pediu quatro mudanças nas leis federais para expandir o poder de fiscalização do órgão cujo comando está deixando.

    Segundo ele, a gestão Trump desconsidera normas vigentes de uma maneira que ameaça padrões éticos dos EUA admirados no mundo.

    "É difícil os EUA promoverem iniciativas de combate à corrupção e defesa da ética quando não mantemos limpo o nosso lado da rua. Isso afeta nossa credibilidade", disse Shaub em entrevista no último fim de semana, quando Trump estava em um clube de golfe de sua família pago para sediar o Aberto de Golfe feminino dos EUA.

    "A esta altura, acho que estamos perto de virar piada."

    Shaub pediu mudanças no sistema de ética federal que ele disse considerar desnecessárias antes da eleição de Trump. Todos os demais presidentes desde os anos 70 trabalharam em cooperação com seu escritório, afirmou.

    Uma porta-voz da Casa Branca minimizou as críticas: "A propensão de Schaub [sic] de recorrer à mídia para expressar preocupações sobre assuntos que não são de sua alçada antes de tratar deles com a Casa Branca –o que seria sua função– é reveladora", disse Lindsay Walter.

    "A verdade é que Schaub não tem interesse em assessorar o Executivo quanto à ética. Está interessado em posar de mocinho e pressionar por poderes para seu posto."

    As repetidas viagens de Trump a propriedades empresariais de sua família –ele passou ao menos 54 dias dos últimos seis meses em alguma delas, incluindo 40 passagens por um clube de golfe dos Trump –causaram desconforto a Shaub.

    "Isso cria a aparência de que ele lucra com a Presidência. O uso indevido de um cargo público é um pilar do programa de ética, e a definição internacionalmente aceita de corrupção é abuso de um cargo de confiança."

    Shaub recomendou que o escritório de ética tenha poderes limitados de intimação para obter registros e autoridade para negociar proibições em casos de conflito de interesse presidencial; que os presidenciáveis passem a ter obrigação legal de divulgar o imposto de renda; e que as regras de transparência financeira sejam revisadas.

    As medidas encontram objeção no Congresso, mas há quem as defenda.

    O deputado democrata Elijah Cummings prepara um projeto de lei que incorporará algumas das propostas de Shaub, embora apenas as menos contenciosas, com chances de passar em um Congresso de maioria republicana.

    "O OGE [sigla do escritório de ética em inglês] tem um trabalho impossível na atual administração, porque o presidente Trump ignora seus conselhos, solapa sua autoridade e viola flagrantemente as normas éticas", afirmou Cummings.

    Shaub quer que o Congresso esclareça que o OGE tem poder de fiscalização ética sobre todas as partes da Casa Branca e que estabeleça que o diretor do órgão só possa ser demitido por justa causa.

    Outras mudanças sugeridas visam maior autonomia do órgão. "O atual presidente parece pensar que seu alto posto lhe confere privilégios", disse Shaub.

    O diretor, que começou no OGE como advogado júnior em 2001 e foi indicado pelo então presidente Barack Obama para um mandato de cinco anos como diretor em janeiro de 2013, vai trabalhar para uma organização sem fins lucrativos de monitoramento jurídico eleitoral, o Campaign Legal Center.

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