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    Governo Trump

    Desafio de John Kelly é disciplinar uma Casa Branca com rixas e vazamentos

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    02/08/2017 02h00

    Ting Shen/Xinhua
    O chefe de gabinete da Casa Branca, John Kelly, participa de cerimônia militar na Casa Branca
    O chefe de gabinete da Casa Branca, John Kelly, participa de cerimônia militar na Casa Branca

    Disciplina e foco. É isso que os aliados do presidente Donald Trump dizem esperar que o general reformado John Kelly, 67, traga como novo chefe de gabinete para a Casa Branca, que vive um momento crítico após a queda de três importantes assessores em dez dias e em meio a vazamentos de informações confidenciais.

    Em seu primeiro dia, Kelly, até então secretário de Segurança Doméstica, já mandou embora Anthony Scaramucci, diretor de comunicação da Casa Branca que, em dez dias no posto, fritou o chefe de gabinete anterior, Reince Priebus, e levou à saída do porta-voz Sean Spicer.

    Para especialistas, a decisão sobre Scaramucci mostra que Kelly não está disposto a tolerar indisciplina e extravagâncias —o diretor de comunicação não respondia a Priebus, mas diretamente a Trump, fez duras críticas a Priebus à CNN e telefonou para um colunista da "New Yorker" para cobrar que o jornalista revelasse quem havia vazado informações e para ameaçar demitir assessores.

    Kelly se reuniu com os principais assessores em seu gabinete e, segundo o site Politico, enumerou as novas regras: acesso mais restrito de todos ao Salão Oval, mais cobranças pelo trabalho executado e mais "estrutura". Um de seus maiores desafios será conter os vazamentos de informações à imprensa —que Scaramucci sugeriu terem como origem Priebus.

    O general Kelly, que esteve na Marinha por 40 anos e serviu três vezes no Iraque, já mostrou também que quer ver mais hierarquia na Casa Branca. Segundo a vice-porta-voz, Sarah Sanders, todos os assessores de Trump —inclusive a filha do presidente, Ivanka, e o seu genro, Jared Kushner— agora terão de prestar contas a Kelly.

    Para o cientista político David B. Cohen, da Universidade de Akron (Ohio), que está escrevendo um livro sobre os chefes de gabinete, Kelly está fazendo o que Priebus deveria ter feito em seu primeiro dia no posto. Ele, contudo, diz ter dúvidas se Trump permitirá que o militar tenha as rédeas por muito tempo.

    "O presidente Trump é o seu pior inimigo. Ele gosta de, instintivamente, ser o seu próprio chefe de gabinete —e ele é muito ruim nisso", disse Cohen à Associated Press.

    Considerado linha-dura, Kelly passou pouco mais de três anos à frente do Comando Militar do Sul, que tem como foco a América Latina e é responsável, por exemplo, pela prisão de Guantánamo. Antes de assumir o posto, em 2012, perdeu o filho, Robert Kelly, 29, na guerra do Afeganistão, em 2010.

    Como secretário de Segurança Doméstica, vinha sendo muito bem avaliado pelo presidente por seu desempenho em algumas das principais promessas do republicano, como o aumento da repressão à imigração ilegal. Ao anunciá-lo como chefe de gabinete, Trump classificou Kelly como um "grande americano", "um grande líder" e "uma verdadeira estrela de seu governo".

    A decisão de indicar o general para o novo posto foi elogiada também por quem geralmente critica o presidente, como o senador republicano Lindsey Graham, que comemorou a "chegada dos marines [fuzileiros navais] à Casa Branca".

    Alguns republicanos, no entanto, têm reservas quanto à falta de experiência política de Kelly, num momento em que o governo não tem conseguido avançar a agenda no Congresso, mesmo com maioria nas duas casas.

    NIXON

    Kelly é o primeiro general a assumir o posto desde Alexander Haig, que foi chefe de gabinete de Richard Nixon a partir de maio de 1973, quando o governo já sofria com o escândalo do Watergate.

    Haig teria sido o responsável tanto por dar as instruções para que o então secretário de Justiça interino, William Ruckelshaus, demitisse o procurador especial do caso, Archibald Cox, e por convencer Nixon de que ele deveria considerar a renúncia.

    "O problema para Haig —e isso pode ser útil a Kelly— é que havia pouco a fazer para reverter a situação que herdara", escreveu o historiador Julian Zelizer para a CNN.

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