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    Governo Trump

    Em ligações, Trump pressionou líder mexicano sobre muro na fronteira

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    03/08/2017 15h49 - Atualizado às 11h24

    A transcrição de um telefonema entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Enrique Peña Nieto (México) mostra que o americano pressionou o homólogo a parar de dizer publicamente que seu país não pagará pela construção de um muro na fronteira.

    A conversa foi divulgada nesta quinta (3) pelo jornal "The Washington Post", que também publicou a transcrição de um telefonema entre Trump e o premiê australiano, Malcolm Turnbull.

    Xinhua - 7.jul.17/Presidencia de México
    Os presidentes Enrique Peña Nieto (à esq.) e Donald Trump conversam durante o G20, em Hamburgo, em julho
    Os presidentes Enrique Peña Nieto (à esq.) e Donald Trump durante o G20, em Hamburgo, em julho

    Na campanha à Casa Branca, o republicano prometeu construir um muro em toda a fronteira com o México, mas disse que quem arcaria com os custos seria o país vizinho.

    A ligação em 27 de janeiro, uma semana após Trump assumir a Presidência, veio após Trump e Peña Nieto discordarem publicamente.

    Na véspera, o presidente americano havia dito que se o México não quisesse pagar "pelo tão necessário muro", era melhor cancelar uma reunião entre os dois dali a quatro dias. Algumas horas depois, o mexicano anunciou que não iria mais aos EUA.

    No telefonema do dia seguinte, Trump disse que "se você vai dizer que o México não irá pagar pelo muro, então eu não quero mais encontrar com vocês porque eu não posso aguentar isso", segundo a transcrição. "Você não pode falar isso à imprensa", falou Trump diversas vezes.

    O americano deixou claro que ele sabia que o fundo para o muro teria que vir de outras fontes, mas ameaçou cortar contato com o presidente mexicano se ele continuasse a declarar que não pagaria.

    "Preciso que o México pague pelo muro, preciso. Venho falando sobre isso há dois anos", disse Trump, que sugeriu a Peña Nieto que eles evitassem o assunto do pagamento quando questionados.

    "Eles irão dizer: 'Quem irá pagar pelo muro, sr. presidente?' para nós, e devemos dizer 'Veremos isso'", afirmou o americano. "Vai funcionar. Ao contrário de você dizendo 'Nós não vamos pagar' e eu dizendo 'Não pagaremos'", completou Trump.

    Peña Nieto afirmou então que entendia a posição de Trump sobre como se referir ao pagamento do muro e sugeriu que ambos buscassem "uma forma criativa de superar esse obstáculo".

    Trump admitiu também que a construção do muro é fundamentalmente um símbolo político: "Esta é a coisa menos importante das que estamos conversando, mas, politicamente, ela deve ser a mais importante", disse.

    O teor das conversas já havia sido publicado pela imprensa na época.

    As transcrições, no entanto, mostram a diplomacia pessoal de Trump, que mistura um tom duro e arrogante com uma tentativa de aproximação com pouco tato —como a declaração a Peña Nieto de que ele gostaria que os mexicanos pedissem uma emenda constitucional para o colega poder concorrer a um novo mandato de seis anos.

    AUSTRALIANO

    No telefonema ao premiê australiano, Malcolm Turnbull, no dia seguinte, Trump foi ainda mais agressivo.

    Os dois conversavam sobre um acordo firmado pelo antecessor do republicano, Barack Obama, para que os EUA recebessem parte dos 1.600 refugiados abrigados em ilhas do Pacífico, e a Austrália, por sua vez, abrigasse pessoas deslocadas de Guatemala, Honduras e El Salvador, que enfrentam crises de segurança pública. Trump chamou o acordo de "idiota".

    "Estou fazendo essas ligações o dia todo, e essa é a mais desagradável", disse o americano, afirmando ter tido uma conversa mais amistosa com o russo Vladimir Putin. "É ridículo."

    *

    VAIVÉM NA CASA BRANCA
    Oito situações que o governo Trump negou e depois mudou o discurso

    1) A situação
    O envolvimento do presidente Trump no comunicado do filho, Donald Trump Jr., sobre uma reunião com pessoas supostamente ligadas ao governo russo

    A negação
    "Quero deixar claro que o presidente não esteve envolvido na redação do comunicado e não divulgou o comunicado", disse o advogado de Trump, Jay Sekulow, à rede de TV CBS, em 16 de julho

    A confirmação
    "O presidente interveio, como qualquer pai faria, com base nas informações limitadas de que dispunha", disse a porta-voz, Sarah Sanders, após o "WP" revelar que Trump havia interferido na redação do texto

    2) A situação
    Trump está pensando em usar seu poder presidencial de perdão a parentes, assessores e até a si mesmo caso eventuais investigações resultem em condenações

    A negação
    "Perdões não estão sendo discutidos e não estão sendo contemplados", afirmou o advogado Jay Sekulow, em 21 de julho

    A confirmação
    "Embora todos concordemos em que o presidente dos EUA tem poder completo de perdão, por que pensar nisso quando o único crime até agora são vazamentos contra nós?", escreveu Trump no dia seguinte

    3) A situação
    O presidente decidiu unilateralmente demitir James Comey do comando do FBI (polícia federal americana)

    A negação
    "Ninguém da Casa Branca esteve envolvido. A decisão foi do Departamento de Justiça", disse o então porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, em 9 de maio

    A confirmação
    "Eu estava pronto para demitir Comey... E o demitiria mesmo sem a recomendação [do Departamento de Justiça]", afirmou Trump à NBC News, em 11 de maio

    4) A situação
    James Comey foi demitido por causa da investigação sobre o suposto elo entre a campanha de Trump e a Rússia

    A negação
    "Não foi esse -deixe-me ser bem claro a respeito-, não foi esse o motivo. Não foi esse o motivo", disse o vice-presidente, Mike Pence, em 10 de maio

    A confirmação
    "E na verdade, quando decidi fazê-lo [demitir Comey], disse a mim mesmo que todo mundo sabe que essa coisa de Trump e Rússia é uma história inventada", disse depois o presidente à NBC

    5) A situação
    O então conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Michael Flynn, tinha discutido sanções a Moscou com o embaixador russo em Washington, Sergei Kislyak

    A negação
    "Eles [Flynn e o embaixador] não discutiram coisa alguma relacionada à decisão dos Estados Unidos de expulsar diplomatas ou impor censura à Rússia", afirmou Mike Pence em 15 de janeiro

    A confirmação
    O vice-presidente descobriu em 9 de fevereiro, com base em reportagens, que tinha recebido informações incompletas [sobre o que Flynn e o embaixador conversaram], disse Mark Lotter, assessor de Pence

    6) A situação
    Era provável que o nome do indicado por Trump para comandar o departamento da Marinha, Philip Bilden, fosse retirado

    A negação
    "Essas pessoas estão erradas. Acabo de falar com ele [Bilden], e ele está 100% dedicado a ser o próximo secretário da Marinha, escreveu Sean Spicer em 18 de fevereiro

    A confirmação
    "Philip Bilden me informou que tomou a difícil decisão de se retirar do processo de confirmação como secretário da Marinha", disse o secretário de Defesa, Jim Mathis, em 26 de fevereiro

    7) A situação
    Trump revelou informações sigilosas em encontro com o chanceler russo, Sergei Lavrov, e o embaixador Sergei Kislyak no Salão Oval

    A negação
    "A história que surgiu esta noite, nos termos reportados, é falsa", disse H. R. McMaster, assessor de segurança nacional de Trump, em 15 de maio

    A confirmação
    "Como presidente, quis compartilhar com a Rússia, em uma reunião agendada na Casa Branca, e tenho pleno direito de fazê-lo, fatos referentes...", disse Donald Trump, um dia depois

    8) A situação
    Agentes da inteligência dos EUA haviam informado Trump sobre um dossiê não confirmado que sugeria que a Rússia tinha dados comprometedores sobre o presidente

    A negação
    "E [a reportagem] diz que eles jamais o informaram sobre isso. [Trump] declarou não estar ciente disso", disse Kellyanne Conway, assessora da Casa Branca, em 10 de janeiro

    A confirmação
    Na minha opinião, ele [James Comey, ex-diretor do FBI] mostrou o relatório para eu saber que essas informações estavam em seu poder", disse Trump ao "New York Times", em 19 de julho

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