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    Plano de teste da Coreia do Norte pode significar diálogo ou ação efetiva

    IGOR GIELOW
    DE SÃO PAULO

    11/08/2017 03h00

    O duelo entre Kim Jong-un e Donald Trump escalou mais uma degrau nesta quinta (10), com o regime do ditador norte-coreano anunciando detalhes de um teste de mísseis direcionado para a ilha norte-americana de Guam, no oceano Pacífico.

    O anúncio pegou de surpresa analistas que acompanham a tensão na península coreana não tanto pela retórica aplicada (Trump foi chamado de pessoa sem razão), mas pelo seu detalhismo.

    Marinha dos EUA - 9.ago.2017/AFP
    Embarcação passa diante de base naval dos EUA em Guam; ilha é encarada como alvo por Pyongyang
    Embarcação passa diante de base naval dos EUA em Guam; ilha é encarada como alvo por Pyongyang

    "Os foguetes Hwasong-12 a serem lançados pelo Exército do Povo Coreano cruzarão os céus acima de Shimane, Hiroshima e Koichi, no Japão", informou a agência de notícias norte-coreana, que disse que o teste poderá ser conduzido ainda em agosto.

    "Eles voarão 3.356,7 quilômetros durante 1.065 segundos e atingirão as águas a 30-40 quilômetros de distância de Guam", disse a agência.

    A provocação veio na sequência das declarações do presidente americano de que levaria "fogo e fúria" se os EUA fossem fustigados pela Coreia do Norte. Nesta quinta, Trump disse que a ameaça "talvez não tenha sido dura o suficiente", ao ser questionado por repórteres sobre o quão sério havia falado.

    Atos assim não são anunciados com tal clareza de detalhes, o que levanta duas possibilidades. A primeira é a de um blefe, como tantos no passado, visando abrir uma janela de negociação com Washington.

    A segunda, que no contexto de escalada das atividades do programa de armas nucleares norte-coreano parece incrivelmente factível, é que Kim fará exatamente o que disse que faria.

    Se isso ocorrer, nada de bom resultará. EUA e Japão, que teria projéteis norte-coreanos sobrevoando seu território pela primeira vez na história, tentarão abortar o teste. Podem fazer isso com sistemas antimísseis, de eficácia ainda duvidosa segundo analistas militares.

    Dando certo, o ditador ficaria numa posição fragilizada dentro do regime, o que poderia levar a atitudes ainda mais agressivas.

    Se a interceptação falhar, Trump será humilhado publicamente e colocado na mesma situação: a de dar algum tipo de resposta a seu público interno e aos aliados que não se sentirão protegidos.

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    Onde fica Guam

    Onde fica Guam

    Área: 544 km2
    Distância de Pyongyang: 3.400 km
    Habitantes: 162 mil pessoas
    Guam abriga importantes bases americanas, onde trabalham cerca de 3.800 militares

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    Guam é um alvo sensível e fundamental para a projeção norte-americana no Pacífico. A ilha, de 163 mil habitantes, tem 5.150 soldados americanos estacionados. Sedia uma base de submarinos e outra aérea, a de Andersen.

    É lá que ficam baseados os bombardeiros estratégicos B1-B Lancer que sobrevoaram a península coreana como forma de mostrar força após o teste de um míssil intercontinental pela ditadura de Kim, em junho e na quarta (9).

    Desde maio, os B1-B têm treinado incursões à península, como forma de ensaio para um eventual ataque, com o uso de reabastecedores aéreos e escoltas. Na imprensa americana, há discussões se a ameaça não enseja um bombardeio preventivo.

    A Coreia do Sul, que estima milhões de mortos na retaliação apenas convencional, sem armas nucleares, do Norte, não quer a ação.

    Editoria de Arte/Folhapress

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